Pianista reconhecido internacionalmente, Guilherme Veroneze fala sobre sua trajetória na música

Guilherme Veroneze, radicado há 20 anos em Juiz de Fora, dá detalhes sobre seu trabalho como músico


Por Mafê Braga*

16/07/2025 às 07h00

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Veroneze começou as aulas de piano aos 7 anos  (Foto: Divulgação / Igor Tibiriçá)

Guilherme Veroneze é um artista paulista radicado em Juiz de Fora há 20 anos. O pianista, que acumula mais de 95 mil ouvintes mensais no Spotify, ganhou destaque internacional após nomeações de álbum do ano na plataforma digital Solo Piano, responsável por reunir artistas e trabalhos musicais globais. Alguns de seus lançamentos incluem o álbum “Entremares” e a obra “Solitude”, que teve o clipe gravado na Rua São João, na região central de Juiz de Fora. Entre as suas obras mais ouvidas estão a composição “Poema de outono”, com mais de 2,4 milhões de streams no Spotify, “Frater”, com mais de 1,5 milhões, e “Opus 36”, com mais de 1,3 milhões.

Tribuna: Como começou sua relação com o piano?

Guilherme Veroneze: Foi quase que por um acaso, eu tinha uma tia que havia sido professora de piano, e meu avô materno gostava muito de música, tocava violão. Eu sou do interior de São Paulo, de uma cidade chamada Monte Alto, e bem do lado da casa da minha vó abriu uma escola de piano. A minha mãe me matriculou lá. Nessa época, meu pai ‘tava’ viajando a trabalho. Ele foi jogador de futebol quando era mais jovem, jogou em times profissionais do interior, tinha a expectativa de o primeiro filho jogar bola. Quando ele chegou da viagem e minha mãe contou que eu tinha começado no piano, ele virou pra ela e falou assim: “Piano, Maria? Muleque tem que jogar bola, piano é coisa de menina!” E, de fato, só tinha eu de menino na turma, na escola inteira. Comecei com 7 anos, com 10, comecei a estudar teclado e, com 14 anos, já ‘tava’ tocando nas quermesses de igreja católica da cidade. Sempre tinha demanda por música, comecei acompanhando duplas sertanejas que precisavam de tecladista. Meu primeiro cachê foi com 14 anos. Depois, formei a banda Opus com meus amigos (João Neto, Andre Deroide, Cassio Farhat e Marcelo Narita) e tocamos em casas, festivais… até fizemos um reencontro recentemente pra um festival em Monte Alto. Eu me mudei pra Juiz de Fora pra estudar Comunicação Social, mas me voltei pra música muito rápido e comecei a trabalhar como músico na cidade, tocando em eventos, bares e casamentos.

Quais foram as principais influências no seu caminho como pianista e compositor?
Foram várias, mas eu quero citar dois nomes que foram muito importantes para o meu trabalho como compositor, que é o trabalho que eu me dedico hoje. Primeiro, o pianista italiano Ludovico Einaudi, que eu conheci durante a pandemia. Eu fiquei muito impactado, porque eu falei,  “é esse caminho que eu quero seguir na composição, como compositor”. E aí, comecei a ouvir muito e compor no mesmo estilo. E, também, do pianista e compositor norte-americano Philip Glass. É um compositor minimalista, me influenciou bastante no estilo. E, de forma geral, a música que a gente chama de New Classical.

Quais momentos ou experiências você considera marcantes na sua trajetória musical?
Eu quero começar falando sobre a gravação dos meus dois últimos clipes. O clipe da música “Entremares”, eu gravei no ano passado, no alto da Serra de Ibitipoca. Levamos um piano pro alto da Serra, mais de mil e quatrocentos metros de altitude. Foi, assim, muito emocionante. E, recentemente, a gravação do clipe da música “Solitude”, que eu gravei aqui no Centro de Juiz de Fora, na Rua São João. Levamos o piano pra lá. E aí foi uma outra experiência, né? O clipe no ambiente urbano, no centro da cidade, as pessoas passando, então, também foi muito marcante. É importante mencionar que a gravação dos dois clipes teve o apoio da Lei Paulo Gustavo, “Entremares” via governo estadual, e “Solitude” via prefeitura de Juiz de Fora.

Outro momento, também, foi em 2022, quando meu EP “Um tempo” foi escolhido como álbum clássico do ano pela plataforma norte-americana Solo Piano. Aquilo me deu um gás muito grande porque eu comecei a lançar as minhas músicas em 2020,  durante a pandemia, e menos de dois anos depois, eu já recebi um prêmio. E, nesse ano, a mesma instituição me deu o segundo lugar com o EP “Shelter”, que eu lancei no ano passado. Outros momentos muito importantes também foram os cursos que eu fiz, né? Eu estudei na Bituca, que é a Escola de Música Popular em Barbacena. Tive contato com músicos, professores excelentes. Fiz o bacharelado em piano aqui, na UFJF, estudei com o professor André Pires, meu grande mestre no piano, e o mestrado na UFMG, que eu estudei com o pianista norte-americano Cliff Korman. E um momento que, assim, acho que foi divisor de águas pra muita gente, foi a própria pandemia, né? Porque foi na pandemia que eu comecei a olhar pro meu trabalho autoral, tive tempo pra começar, pra compor mais, pra entender como é que eu ia dar vazão pra esse trabalho. Eu estudei as plataformas de streaming, como ia ser o mercado todo; conheci bastante gente, fiz parcerias internacionais com selos, compositores também. Eu já tenho músicas lançadas com compositores dos Estados Unidos, da Suíça, do Canadá e da Alemanha.

Como você define sua linguagem musical? Há elementos da música popular e erudita convivendo no seu trabalho?
Hoje eu componho num estilo que vem sendo definido internacionalmente como new classical, que é uma nova cena de compositores de música clássica, especialmente pra piano, mas pra outros instrumentos também, compondo com uma linguagem contemporânea, que reúne elementos de música clássica, trilha sonora e também dos mais variados gêneros da música popular. Pra mim, quando eu ouço minha música, consigo perceber claramente essa influência de bandas que eu ouvia na minha adolescência, como Radiohead e Coldplay. Então, por mais que eu faça uma música que seja instrumental, majoritariamente pro piano, a influência dessas bandas ‘tá’ presente, influências de trilhas sonoras de compositores que eu ouço, como Hans Zimmer, Ennio Morricone… Eu percebo também alguns padrões rítmicos que vêm da minha região, lá do interior de São Paulo, então acho que ‘tá’ tudo misturado.

⁠Como é fazer música em Juiz de Fora? Você sente que a cidade influencia sua produção artística?
Eu acho Juiz de Fora muito cultural. A gente tem vários espaços, vários locais, várias iniciativas. Eu acho que a arquitetura da cidade me influencia, principalmente do Centro. A beleza dos prédios históricos, dos calçadões. Tanto que eu escolhi o Calçadão da Rua São João pra gravar meu último clipe. Os locais naturais também, como UFJF, Jardim Botânico, a natureza em volta aqui, né? Tudo isso me influencia. Agora, quanto a fazer música aqui, eu tenho encontrado bastante espaço. Eu já me apresentei no Cine-Theatro Central, no Teatro Paschoal Carlos Magno, no Parque da Lajinha, tenho apresentação no Museu de Arte Moderna Murilo Mendes agora, me apresentei na rua (risos) no mês passado, toquei no Dia dos Namorados no Calçadão da Rua São João também, foi uma experiência bem interessante. Ano passado, eu fui convidado pra participar do Festival de Música Colonial e Música Antiga aqui de Juiz de Fora, que hoje pertence à UFJF, é um festival super tradicional, então me senti bem feliz de ser lembrado pra programação.

⁠Qual foi a apresentação mais desafiadora — ou emocionante — que você já fez?
Foi, sem dúvida, a primeira vez que eu me apresentei no projeto Palco Central, do Cine-Theatro Central. Aquele projeto que o artista e o público ficam no palco. Eu me apresentei  nesse projeto em duas ocasiões: no ano passado, no lançamento do meu álbum “Entremares”, e em 2023, com o concerto “Saudação”. E, nesse de 2023, foi muito emocionante porque começou a chegar tanta gente pra assistir, que a organização do Central começou a colocar mais cadeiras no palco, e eu vendo de tudo, escondidinho do camarim, até que chegou ao ponto que não podia mais colocar cadeira, por questão de segurança. Algumas pessoas, infelizmente, ficaram pra fora. Mas, assim, ver esse movimento e depois sentir essa recepção do público foi muito emocionante. Ali eu me dei conta de que a minha música tem público aqui em Juiz de Fora, e me deu um gás muito legal pra continuar trabalhando e produzindo.

⁠Em um país como o Brasil, quais os desafios de ser um artista do piano hoje?
Eu percebo que, pelo retorno das pessoas que vão aos concertos que eu faço ou nas redes sociais, no Instagram, no YouTube, que a gente tem público. Eu acho que ele ganha cada vez mais público com o movimento das redes sociais. Assim, a gente vê no TikTok, por exemplo, a quantidade de produção de vídeos sobre piano, o pessoal tocando. Então, acho que um desafio é me conectar com esse público, encontrar esse público e encontrar mais espaços pra me apresentar. Tem minha produtora, Elisa Granadeiro, que ‘tá’ comigo desde o começo do trabalho, e a gente ‘tá’ nessa luta de encontrar mesmo quais são os locais, os festivais que têm espaço pra minha música. Por outro lado, tem o mercado digital, com as plataformas de streaming. Se você analisar minhas métricas hoje, por exemplo, principalmente do Spotify, a maioria dos meus ouvintes está nos Estados Unidos, no Canadá, na Alemanha, na Austrália. O Brasil aparece bem lá embaixo. Então, por um lado, tem o lado bom, que é: eu ‘tô’ sendo ouvido no mundo inteiro, mas, por outro lado, eu quero cada vez mais encontrar o público aqui no Brasil também, porque eu percebo que tem.

⁠Quais são os seus projetos futuros— gravações, turnês, colaborações?
Tem agora show de lançamento do meu álbum “Carpe Diem”, álbum patrocinado pela Lei Paulo Gustavo, via Prefeitura de Juiz de Fora, Funalfa. Vai ser no Museu de Arte Murilo Mendes. Vai ser na quinta-feira (24 de julho) a partir das 19h30. Entrada gratuita. A gente não vai fazer distribuição de ingressos prévio, então, a gente ‘tá’ convidando o pessoal pra chegar cedo e garantir o seu lugar. Vou tocar composições pra piano e composições que eu fiz e gravei em parceria com o violonista João Paulo Lanini e com a violoncelista Mirele Kollarz e o violinista Vinícius Faza. Na sexta (25 de julho), tem o lançamento do álbum “Carpe Diem”, em todas as plataformas de streaming. Eu já tenho alguns singles disponíveis nas plataformas e tenho o clipe “Solitude” no meu canal do YouTube. E, no dia 25, então, é o encerramento desses lançamentos com o álbum. Ainda este ano, vou participar de um festival de música neoclássica em Cuiabá, no Mato Grosso, coordenado pela professora, compositora e pianista, Luciana Hammond, também em parceria com a pianista Sandra Mort. A gente tem um trabalho muito parecido no estilo, então a gente resolveu se juntar pra fazer uma apresentação. Eu sigo em contato constante com outros compositores. Nesse momento, ‘tô’ conversando com um parceiro que é suíço, a gente ‘tá’ vendo as possibilidades aí pro futuro, sempre em parceria com selos. Sigo compondo e lançando, sempre buscando novas parcerias.

* Estagiária sob supervisão da editora Gracielle Nocelli

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