Willy, o colecionador de 10 mil vinis em TaruaƧu
AlƩm dos discos, o comerciante tambƩm tem centenas de CDs e fitas cassete, formando um extenso acervo
Nem sĆ³ no perĆodo do seu festival da canĆ§Ć£o o distrito de SĆ£o JoĆ£o Nepomuceno, TaruaƧu, respira mĆŗsica. Quem visita a localidade em outras ocasiƵes nota uma trilha sonora embutida que ecoa diariamente dos fundos de uma mercearia. Ali, um tesouro musical Ć© guardado em forma de discos pelo seu protetor, Walter Willy Gomes Favero.
O Museu do Som de TaruaƧu, como foi batizado pelo seu curador, reĆŗne uma coleĆ§Ć£o de aproximadamente 10 mil exemplares – quase 14 para cada um dos cerca de 750 habitantes do lugarejo – obtidos por meio de doaƧƵes e compras. AlĆ©m dos discos, coleciona tambĆ©m centenas de CDs e fitas cassete, formando um extenso acervo que o permite brincar com os clientes que frequentam seu bar, que vende de tudo um pouco. “Eu brinco com as pessoas que se nĆ£o tiver a mĆŗsica que elas pedirem nĆ£o precisam pagar a conta.”
A mĆdia fĆsica Ć© a sua paixĆ£o. Praticamente assassinada pelos avanƧos digitais, sempre foi alvo de afeto por parte de Willy, que observa o mesmo sentimento em quem visita o local. “Antigamente eram poucos vinis que circulavam, e por isso vem muita gente aqui procurando por discos. Tem um monte de memĆ³ria. A memĆ³ria Ć© ligada a coisas que vocĆŖ viveu e quando vocĆŖ escuta aquela mĆŗsica, todas essas lembranƧas retornam. Queria Ć© deixar as pessoas virem para cĆ” e escutarem o que elas quisessem”, conta, ao relembrar o preƧo pouco popular que os objetos tinham na dĆ©cada de 1970 e 1980.
Willy analisa as facilidades advindas com a internet, sem deixar de comentar as perdas tambĆ©m proporcionadas por ela. “O vinil vinha com aqueles encartes e tinha uma ficha tĆ©cnica. Hoje em dia vocĆŖ tem tudo em mp3. A gente tinha menos vinis, mas tinha afeto.” Como exemplo da mensagem que um encarte pode passar, Willy exibe um disco de Waldir Calmon, pianista e compositor de grande sucesso no Brasil nos anos 1950, nascido na Zona da Mata mineira. “Lendo a ficha tĆ©cnica do disco, eu descobri que ele Ć© de Rio Novo (MG). Muitas pessoas da cidade nem sabem que ele Ć© de lĆ””, complementa.
Grande parte dos objetos que compƵem e dĆ£o estrutura ao museu Ć© reaproveitada ou recuperada, desde as prateleiras de caixote de mercado atĆ© mesmo os discos doados a ele. “As maiores raridades que tenho sĆ£o discos que um vizinho achou enterrado em uma casa aqui em Taru, que sĆ£o de 1904 e 1911. Esses sĆ£o os primeiros discos que saĆram e sĆ£o raros. Eu peguei e recuperei. Aprendi com alguns amigos a limpar vinis e CDs e fiz isso com vĆ”rios da coleĆ§Ć£o.”
Conciliar comĆ©rcio e paixĆ£o pelos discos Ć© uma atividade que rende alegrias. Um dos clientes que adentra o bar sente-se contagiado pelo ritmo e arrisca alguns passos de danƧa, enquanto pronuncia, nostĆ”lgico, um dos mantras de quem viveu bons momentos na juventude: “Ah, meus 15 anos!”
Nascido e criado no distrito, Willy viveu parte da vida em Juiz de Fora onde cursou alguns perĆodos de engenharia e na mesma Ć©poca fez parte da banda Dois Cruzeiros de Bala, da qual guarda registros e lembranƧas de apresentaƧƵes durante a dĆ©cada de 1980 na cidade. Entretanto, decidiu voltar para TaruaƧu jĆ” que ela nunca saiu dele. “A arte Ć© uma forma que a pessoa encontra para nĆ£o pirar. O Taru Ć© um refĆŗgio meu.” Na despedida, com as mĆ£os sobre o balcĆ£o e refletindo sobre as escolhas que fez, inverte os papĆ©is de entrevistador e entrevistado e me pergunta: “SerĆ” que fiz a escolha certa em voltar para cĆ”? Acho que sim, nĆ£o Ć©?”