Monólogo da Cia. Lume, de Campinas, no Teatro Paschoal
Atriz e diretora Ana Cristina Colla apresenta o espetáculo ‘SerEstando mulheres’, sobre seu percurso pessoal e como artista e pesquisadora
Em sua trajetória como atriz e pesquisadora da Cia. Lume Teatro, além de seu próprio ente feminino, Ana Cristina Colla interpretou e passou por muitas vidas, dividiu experiências, aprendeu muito. Pois é um tanto de toda essa vivência múltipla que a artista mostra nesta sexta-feira (13), às 20h, no Teatro Paschoal Carlos Magno, com o monólogo “SerEstando mulheres”, que integra a programação do I Encontro Sala de Giz de Teatro e Poéticas do Corpo.
Em direção dividida entre a própria atriz e Fernando Villar, a peça entra em seu quinto ano e é um encontro da própria atriz com as personagens que interpretou e mulheres que conheceu, reunindo fragmentos dessa história que são costurados em uma narrativa que evita a linearidade. “Quando completei 20 anos de Lume, em 2013, percebi que havia inúmeras figuras femininas que conheci em minhas viagens de campo pelo interior do país para coletar histórias, que haviam aparecido em outros espetáculos. Eu já havia sido mãe também, então fiz essa costura entre mãe, mulher, atriz e as mulheres que cruzei pelo caminho, em meu processo de criação. O que me interessa é falar dessa conexão entre a vida e a arte”, diz Ana Cristina.
Sempre perto do público
Durante sua trajetória, “SerEstando mulheres” já foi apresentado para públicos dos mais diversos, de presídios femininos ao espaço público da rua, e também no exterior, em países como Argentina e Costa Rica. “O presídio apresenta a possibilidade do compartilhamento de vivências com mulheres que têm histórias muito intensas, e ao mesmo tempo também me interessava a questão do espaço íntimo apresentado em um espaço público, como no caso das ruas”, explica a artista, para quem o trabalho está muito ligado à ideia de encontros – algo muito presente em suas pesquisas de campo. “Esse trabalho, para mim, está muito ligado à questão dos encontros. Cada um que tive nas viagens reverbera nos espetáculos, que se tornam novos ‘encontros’ a cada apresentação, afinal são espaços diferentes e com relações que acontecem apenas naquela hora com quem está presente.”
Independentemente do espaço, um ponto crucial para Ana Cristina Colla é manter a proposta de proximidade com o público. No Paschoal Carlos Magno, a plateia será acomodada no palco, que será transformado em uma semiarena. Com isso, ao invés dos cerca de 400 assentos, a apresentação poderá abrigar apenas cerca de cem pessoas. “Quero manter essa relação próxima com o público. Faço adaptações de acordo com o espaço, mas sempre mantendo o princípio dessa proximidade.”
Trajetória simbólica
Com “SerEstando mulheres”, Ana Cristina Colla mostra sua trajetória como mãe, mulher, atriz e pesquisadora, indo desde o princípio de sua vida, porém com a opção de mostrar esse caminho sem se preocupar com uma ordem cronológica de eventos. “Para mim interessa, sim, mostrar todo o percurso, todas essas fases, como me encontrei, as mulheres que conheci, mas a partir de um fio narrativo simbólico e poético”, afirma. “A primeira mulher que apresento, por exemplo, era uma senhora negra de Goiás, mostro como foi a atmosfera desse encontro; depois vou para a Amazônia, em seguida, as moradoras de rua do Rio e de São Paulo. É uma narrativa emocional.”
Esta será a primeira vez que Ana Cristina Colla apresenta o espetáculo em Juiz de Fora, cidade em que esteve em outras oportunidades com a Cia. Lume. Por isso mesmo o ineditismo da peça é mais um elemento motivador para a artista. “Cada encontro é um novo encontro. Independentemente do espaço, você nunca sabe como vai ser. E vai ser só hoje. Essa é a magia do teatro, viver esse momento único com as pessoas. Não sabemos se vai ser caloroso, frio, mas é esse tesão que nos anima.”
Desde a última sexta-feira em Juiz de Fora, Ana Cristina ministrou uma oficina que durou três dias e teve a oportunidade de assistir a espetáculos locais. Ela destaca que tudo isso foi possível graças ao Núcleo Dançantes, criado a partir de um curso do Lume e que reúne artistas de diversos pontos do país, e que no ano passado realizou um evento do mesmo porte em Petrópolis. “Saber como está o teatro em Juiz de Fora assistindo aos espetáculos também tem sido uma bela experiência, mas tem sido uma troca mais ampla. Tivemos 22 pessoas na oficina, e isso nos permitiu observar um belo mapa das pessoas que estão ‘resistindo’ na cidade.”
SerEstando mulheres
Com Ana Cristina Colla, da Cia. Lume Teatro (Campinas – SP). Nesta sexta-feira (13), às 20h, no Teatro Paschoal Carlos Magno (Rua Gilberto de Alencar s/n)