Sãozinha Fernandes lança o livro ‘Sobre rosas e chumbo – Um romance cigano’

Obra é inspirada nas tradições de sua família


Por Júlio Black

12/02/2018 às 14h28

saozinha livro cigano 2
Histórias contadas pela avó influenciaram o trabalho de estreia da Sãozinha Fernandes

Os caminhos e percalços de um clã cigano para encontrar um lugar para chamar de seu, em que pudesse montar seu acampamento, dançar suas músicas e domar seus cavalos, fazem parte do romance “Sobre rosas e chumbo – Um romance cigano”, da escritora juiz-forana Sãozinha Fernandes, lançado recentemente. Em seu trabalho de estreia, ela conta a história pelos olhos de sua protagonista, Maria Rosa Chumbo, em que a trama – apesar de fictícia – tem diversos personagens com os nomes de parentes e antepassados de Sãozinha, uma forma de homenagear seus entes ciganos. A publicação está à venda na Livraria Cá D’ori, no Centro de Juiz de Fora.

Segundo a autora, a ideia do livro surgiu a partir das histórias que seu avô, já falecido, contava para ela quando estava doente, para que as pessoas da família conhecessem mais da cultura cigana. “Nada até então era de conhecimento de filhos e netos. Não necessariamente ele se preocupava com fatos ocorridos, mas a riqueza dos costumes, o conhecimento milenar de um povo, a falta de aceitação da sociedade e a beleza da cultura geral da etnia cigana”, explica.

Transformar as histórias e costumes em livros demorou cerca de dez anos. Sãozinha diz que começou a escrever em 2008, inicialmente rascunhos para suas pesquisas durante o curso universitário de letras, e nesse percurso entrou em contato com diversas pessoas da cultura cigana para compreender melhor como funciona esse universo. Foi daí que, de acordo com ela, surgiu a alma da publicação: a culinária, as músicas, os rituais, músicas e vestes. “Mas o mais importante é o sagrado e o valor da família: os idosos e as crianças são literalmente prioridades.” O texto ficou pronto em setembro de 2017, no que ela considera “uma emoção inenarrável”. “Quando acabei de escrever tive uma crise de choro. Uma promessa cumprida”, confessa a escritora que assume ter alma cigana.

“Gosto de cores vibrantes, da alegria de viver, acreditar que todo dia é um recomeço. Mesmo passando por dias difíceis, o povo cigano é de muita fé. Trocam as energias com a natureza e encontram forças para continuar, e isto carrego comigo.”

Com “Sobre rosas e chumbo – Um romance cigano”, a escritora busca homenagear não apenas seus antepassados, como também todos os povos da etnia cigana, além de mostrar a importância deles na formação do país que temos hoje. “Nossos livros de história não valorizam a sua presença na formação do povo brasileiro. Eles fizeram parte desta história tanto quanto índios, negros, portugueses”, pontua. “Trouxeram o conhecimento de domar cavalos, trazer produtos de outros países, tratar uma pedra bruta para se tornar uma joia. Inúmeras coisas poderiam ser ditas aqui. Só se fala em ciganos com comportamentos duvidosos. Mas existe muito a ser descoberto sobre a beleza da alma cigana.”

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.