Valla lança single ‘Revolução’ e se apresenta no Dominikaos

Evento no Museu Ferroviário apresenta trabalho que teve influência nas crianças do assentamento Roza Cabinda e marca primeiro videoclipe da banda


Por Elisabetta Mazocoli

11/12/2025 às 07h00

valla single
Primeiro videoclipe da banda será lançado durante Dominikaos (Foto: Larissa Portela)

A banda Valla irá lançar neste sábado (13) seu novo single, chamado “Revolução”, que faz parte do álbum em produção do conjunto. Esse trabalho teve como influência as atividades do grupo no plantio solidário do assentamento Roza Cabinda do Movimento Sem Terra (MST), quando tiveram experiências de cuidado e convivência com crianças durante as atividades comunitárias. A banda, que já está desde 2019 pensando o punk rock como forma de contribuir politicamente por meio da cultura, viu nesse espaço possibilidades criativas para refletir sobre território e a força da coletividade. Esse lançamento será feito durante o Dominikaos, um evento underground que acontece no Museu Ferroviário e tem como objetivo popularizar o cenário autoral e contestador da cidade. 

A banda é formada por Laiane Araújo (vocal), Vane Oliveira (bateria), Fernanda Halfeld (guitarra) e Camila Magri (baixo), e sempre teve em sua identidade uma luta engajada. Na letra da música que será lançada, não poderia ser diferente, como mostra um dos trechos da composição: “Criança de pé no chão, não é fome e miséria, é a revolução!”. A escolha por dar enfoque para as crianças foi explicada pela vocalista pela experiência que elas tiveram no assentamento junto com o olhar que o punk proporciona. “Normalmente, colocamos a criança como alguém que só demanda cuidado. Mas a criança, mesmo estando em processo de aprendizado, sabe de muita coisa, e precisamos olhar para ela como agente de mudança futura, como transformadora e indivíduo”, explica ela, destacando essa figura, agora, como “agente revolucionário”. 

A mudança de paradigma aconteceu tanto de forma pessoal quanto de maneira criativa, como Laiane explica — ela, que é mãe, foi impactada por levar os filhos ao Roza Cabinda e ver a dinâmica do assentamento. “Lembro de levar meus filhos ao assentamento e desse contato direto, o estar ali e ver eles lidando diretamente com a terra, os almoços coletivos e as atividades coletivas, isso foi muito rico”, conta. Essa experiência foi sendo incorporada na música de maneira bastante natural, como ela explica, ainda em um cenário pandêmico. A ideia era olhar para um “futuro possível” que residia nas crianças. O lançamento conta, ainda, com o primeiro videoclipe da banda.

Bicho do mato

O punk rock feito por elas, não só no single mas em todo o álbum que está em produção, tem como inspiração o contexto social e as raízes mineiras. Intitulado “Revolução, campo cidade”, a proposta é apresentar, em nove músicas, as realidades distintas do meio urbano e rural, destacando também a necessidade de que esses espaços se unam para que uma mudança real aconteça. “Conseguimos abordar o que acreditamos dentro da nossa força, rebeldia, contestação e também alegria em se reconhecer como povo mineiro e latino”, comenta Laiane, destacando que a ideia era integrar das dores aos amores no projeto.

Em todo show, a banda sempre faz questão de se mostrar como um “punk mineiro” e “bicho do mato”. Essa definição, para a vocalista, recupera uma memória que muitos desconhecem — e que força a lembrar que existe punk sendo feito em Minas Gerais, não só por elas, ao contrário de uma narrativa de que essas bandas estariam apenas em São Paulo. “Juiz de Fora tem uma história com o punk rock desde os anos 1970 que é importantíssima”, explica. Trazer essa história também justifica incorporar elementos da música do estado na banda”, reforça a artista.

Dominikaos para preservar o punk

O Dominikaos foi escolhido como palco para essa apresentação da Valla por ser um evento que tem entrada gratuita e busca fomentar debate político. “O fator financeiro e a idade não podem ser impedimentos para que alguém acesse a cultura”, destaca Laiane, explicando que atualmente o evento é financiado por apoiadores em vaquinhas on-line. Além dessa banda, também vão se apresentar a banda juiz-forana Traste e a belorizontina Coiotes S/A, que vai tocar na cidade pela primeira vez. 

Essa edição traz também o Cine Debate da Frente Autônoma de Juiz de Fora, que exibe o documentário “Aos berros” para narrar a história do movimento punk na cidade nos anos 70, e a exposição “JF não é Londres, o caos é aqui”, que conta com vários registros históricos (incluindo fotografias, jornais e zines) retratando a potência do cenário local de punk. “Queremos mostrar que a cena existe e não morreu”, destaca Laiane.

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