Viagem à era de ouro do rádio
Exposição “Caros ouvintes: assim era o rádio em Juiz de Fora” comemora os 100 anos da primeira transmissão oficial de rádio no Brasil com foco na história do meio na cidade

Juiz de Fora era, lá no seu começo, uma simples parte de uma estrada chamada “Caminho Novo”. Era ela que ligava a região de extração do ouro nas Minas Gerais ao porto do Rio de Janeiro. O que veio a ser uma cidade, era, então, uma passagem: ponto de encontro. Isso foi importante não só para o desenvolvimento, conquistado, sobretudo, pela proximidade com a cidade do Rio de Janeiro. Surge, por causa desse encontro entre pessoas que iam e vinham, uma outra vocação que molda até hoje a história da cidade: a contação de histórias. “Juiz de Fora tem, em sua natureza, o hábito de ouvir e contar histórias. Imagina: as pessoas pernoitavam aqui e não existia nada além das conversas. O que se ouvia era a pobreza de um lado e a riqueza do outro”, diz Flávio Lins, diretor do Forum da Cultura. É esse hábito que ele associa ao fato de, em determinadas épocas, ter existido um denso movimento da imprensa, tanto nos impressos quanto na televisão e no rádio. É desse último meio de comunicação, um dos mais populares, que a exposição “Caros ouvintes: assim era o rádio em Juiz de Fora”, que será aberta nesta segunda-feira (10) no Forum da Cultura, conta a história, em comemoração aos 100 anos da primeira transmissão radiofônica oficial no Brasil, com foco no que aconteceu na cidade desde o seu início.
Diz-se primeira transmissão oficial porque, assim como outras tecnologias, foram muitos os erros e acertos até que o rádio se transformasse no que ele é hoje – com tantas alterações desde então. No dia 7 de setembro de 1922, no Rio de Janeiro, Epitácio Pessoa, presidente da República, fazia seu primeiro discurso pelo rádio, sendo esse o marco da primeira transmissão oficial brasileira. Entre os tantos que acompanharam o feito estava o juiz-forano José Cardoso Sobrinho que, em 1º de janeiro de 1926, inaugurou a primeira rádio de Juiz de Fora, a PRA-J, em sua própria residência na Rua Tiradentes.
Em 1926, a PRA-J se tornou PRB-3 – que posteriormente seria adquirida pelo empresário Juracy Neves e transformada em Rádio Solar -, até então sem concorrente. Só em 1948 é que surgiu a Rádio Industrial. Como tinha contrato com a Rádio Nacional, nesse momento começaram a aparecer por Juiz de Fora artistas de renome nacional e, junto com isso, uma disputa entre as emissoras para angariar mais público e conquistar os juiz-foranos. Na década de 40, a Difusora surgiu, acirrando ainda mais os ânimos e dando início à era dourada do rádio na cidade.

História do rádio em fotografia
Dito assim, parece que todos os trâmites foram fáceis. Mas não. Muitas coisas aconteceram. Desde eventos históricos a radionovelas e espetáculos que lotavam ginásios e teatros. Acredita-se que, naquela época, o carro de reportagem das emissoras rodava 24 horas por dia atrás de notícias. Os repórteres puderam acompanhar, por exemplo, a saída das tropas militares de Juiz de Fora em 1964 para dar início à ditadura militar no Brasil. E tudo isso foi registrado.
Subindo ao segundo pavimento do Forum da Cultura, somos encaminhados a uma máquina do tempo, que a própria casa centenária auxilia a penetrar. Bem ao centro da exposição “Caros ouvintes: assim era o rádio em Juiz de Fora”, um grande gramofone e dois rádios da época ajudam a entender a dimensão dos equipamentos. Abertos, vê-se que tudo é mais complexo do que se imagina. Mas, de início, em ordem cronológica, uma série de fotos, cedidas sobretudo por personagens que fizeram parte da história, além de seus familiares – como Wilson Cid, José Carlos de Lery Guimarães e Helena Bittencourt, entre outros – nos encaminha àquela realidade.

Outras experiências da mostra
As fotos, como um recorte, são apenas o começo para contextualizar a visita guiada e as tantas histórias que são contadas a partir daí. Ao fundo, um documentário sobre a história do rádio em Juiz de Fora, de Cristina Brandão, acompanha o percurso, com depoimentos de pessoas que viveram a época de ouro do rádio e ainda podem contar sobre o momento. Por sorte, o que se vê pode ser o mesmo que se ouve saindo da tela, já que os dois focam nos mesmos assuntos e momentos e partem da mesma história. Com cadeiras direcionadas à televisão, é possível, também, sentar-se para assistir e acompanhar por inteiro o filme.

“Caros ouvintes: assim era o rádio em Juiz de Fora” é uma experiência multimídia. Além das fotos e do documentário, será possível ver algumas edições da “Revista do rádio” de Juiz de Fora. Elas estão emolduradas na parede, mas, com o celular apontado para o QR Code ao lado, é possível passear pelas folhas e ver o que era notícia na época, quais eram as celebridades e o funcionamento do rádio em si, principalmente em 1954, 1955 e 1965. A experiência completa permite aprofundar na história daquilo que, ainda hoje, é responsável por levar informação e entreter o público.
O Forum da Cultura, desde o começo da pandemia, tem realizado um trabalho em conjunto nas redes sociais, apresentando as mostras através do Instagram. Mesmo com a abertura do espaço, esse trabalho não vai parar. Durante a exposição “Caros ouvintes: assim era o rádio em Juiz de Fora”, que acontece de 10 de janeiro até o dia 25 de fevereiro, todas as quartas e sexta-feiras, fotos dessa época serão postadas acompanhadas de textos que narram os acontecimentos. Além dos registros, as revistas de rádio, alguns roteiros dos programas e gravações serão apresentados aos internautas. Esse projeto também se estenderá até o dia 25 de fevereiro.
Para conferir a exposição é necessário fazer agendamento pelo e-mail [email protected] ou pelo telefone 3261-3850. A apresentação do cartão de vacina em dia e o uso de máscara são obrigatórios. O Forum da Cultura funciona de segunda a sexta-feira, das 10h às 18h.