‘Namoro o poema antes de ele sair pelo mundo’

O poeta juiz-forano lançou livro-caixa que reúne 81 poemas visuais impressos em lâminas no formato postal
Nasce a escrita. Sintética. Nasce a disposição visual da criação. Na arte, o poeta coloca suas inquietações. “Tem um poema meu, puramente visual, que expressa bem meu trabalho. São duas torneiras. Ao mesmo tempo, há uma pressão para colocar para fora e uma pressão para controlar e filtrar isso tudo. São várias questões pessoais, psicológicas e até mesmo política. A gente tem que colocar tudo nessa panela de pressão e ir abrindo aos poucos até chegar à receita que a gente quer”, conta o juiz-forano Luiz Augusto Knopp, o Knorr. Notório seguidor das ideias concretistas, movimento iniciado nos anos 1950 e que atingiu seu auge nos anos 1960, e da poesia marginal, o escritor volta às prateleiras com “Totem”, financiado pela Lei Murilo Mendes. A obra apresenta 81 poemas visuais impressos em lâminas no formato postal (15 x10 cm), reunidos em um “livro-caixa”.
Além de textos inéditos, a publicação traz escritos de livros anteriores – “Olhlo” e “Olhlo 2” – e poemas publicados em jornais e revistas. “A poesia visual é interessante porque pode ser compartilhada. Enquanto um está lendo um poema, outro está lendo outro. Vira uma brincadeira”, comenta o artista, que tem em Leminski a principal inspiração em seu processo criativo. “Ele sempre foi o norte, o guia, e eu passei a escrever do jeito que escrevo, hoje, depois que um amigo me emprestou um livro dele. Já fazia algo parecido com isso, mas foi ali que eu disse: ‘É isso o que eu quero fazer'”.
Knorr é o convidado do “Sala de leitura” deste sábado, 12, às 10h30, com reprise na segunda-feira, 14, na Rádio CBN Juiz de Fora. Parte do bate-papo está na entrevista abaixo, em que ele fala sobre a famosa geração “Abre Alas”, da qual fez parte e que botou a poesia na rua durante a fervilhante década de 1980 e sobre a circulação de suas obras. É sabido que elas já chegaram a outras paragens, também, dentro de cápsulas de remédio, em forma de amostra grátis de medicamentos e em camisetas. Em breve, vem mais por aí. “Tenho mais dois livros de poemas prontos, mais dois ou três infantis e ideias para mais uns dois ou três, também infantis. Aí já me vem a vontade de refazer as aspirinas. Essa é uma dívida que eu tenho comigo mesmo, porque as pessoas ficam me cobrando.”
Tribuna – Sua poesia dá voz aos problemas atuais?
Knorr – Minhas maiores influências são o movimento de poesia concreta e de poesia marginal que, por muitos, é meio desprezada. Acho que é uma linguagem mais fácil de ser entendida, mais rápida no gatilho. É uma coisa mais de “sacada”, de “insight”. Não sou tanto de política no sentido estrito da palavra, mas no sentido mais amplo. Tenho poema sobre a questão indígena, a questão da própria poesia, da discriminação não só de gênero, mas de classe social.
– O primeiro livro que você publicou nasceu na década de 1980. O que mudou na sua maneira de fazer poesia?
– A gente acaba ganhando uma certa maturidade. Antes, escrevia, publicava. Agora, há uma preocupação de rever, refazer alguns poemas, até mesmo na parte visual. Fico namorando mais o poema antes de ele sair pelo mundo.
– Você acha que faz parte de uma geração de poetas que deram certo?
– Acho que sim, assim como a de agora está dando certo também. A nossa é chamada de “Abre Alas”, e a de agora costumo chamar de geração Eco-performances Poéticas. Embora não tenha mais o Eco, é um pessoal que deu certo. Acho que está para surgir um outro movimento em Juiz de Fora, e precisa surgir mesmo, porque nós nunca ficamos sem nada. Inclusive, ando pensando em juntar algumas pessoas para começar a fazer umas performances. No ano passado, eu e mais alguns outros participamos de uma exposição em São Paulo, no Museu da Língua Portuguesa.
– O diálogo que você trava entre texto e imagem impressiona. Já tentou contato com grandes editoras?
– Já, mas a resposta é sempre a mesma: “Espere um pouquinho”. De algumas editoras, estou esperando há muito tempo. Acho que tem um jogo de influências nisso tudo. Em Juiz de Fora, tem editora que publica gente de fora, eu já ofereci meu livro infantil, e ela falou que não se interessa, que ele é uma porcaria. O interessante é que, hoje em dia, “essa porcaria” está sendo trabalhada nas escolas municipais. Será que é tão ruim assim? Não acredito. Não sei se existe um apadrinhamento, fico sem entender. Mas sei que há um interesse legal na minha poesia. Ela está sendo tese de doutorado na Universidade do Mato Grosso. Fico muito feliz com isso.
– Os juiz-foranos são seus leitores?
– Antes de fazer o livro visual, fiz muito cartão. Foram milhares de cartões que vendi. Não é nada não é nada, estão me lendo. Fiz camiseta, e as pessoas usavam, fiz uma parceria com uma papelaria da cidade, e alguns poemas já viraram capa de caderno. Gosto de fazer o trabalho de ir às escolas, o que não aparece, mas é bacana. Claro que não é aquela coisa de louco. “Ah, estão me lendo pra caramba”, mas não posso reclamar.
– O próprio formato de postais do seu livro favorece a circulação.
– Tem gente que fez quadro e colocou na casa para decorar. Quando escrevi um outro livro, teve gente que disse que furou com furador, colocou argolinhas e fez como se fosse uma cortininha. Já fui num restaurante, numa outra cidade, e vi um poema meu pintado no muro. Falar que vou ganhar dinheiro com poesia é muito difícil, só se eu fizer um poema virar uma bela letra de uma música de um cara que vende muito.