Curta com atores de ‘Bacurau’ e ‘Cidade de Deus: a luta não para’ inicia gravações em Juiz de Fora

Com direção de Ariel Rezende, o curta-metragem “Capadócia” inicia suas gravações a partir de sexta-feira (8) em Juiz de Fora e Coronel Pacheco. A produção mistura realismo rural e ficção científica para abordar com sensibilidade temas como luto, delírio, envelhecimento e afeto intergeracional, conforme os organizadores. O elenco é constituído por artistas como Wilson Rabelo, ator de “Bacurau” (2019), e Demetrio Nascimento, de “Cidade de Deus: a luta não para” (2024).

A trama se desenrola na zona rural e acompanha Naná, um carpinteiro que, após a perda da companheira Lourdes, passa a enxergar no céu uma luz próxima da lua, como se fosse um sinal. Para o protagonista, sua amada ainda está ali. Com a ajuda de sua neta Sara, apaixonada por foguetes e pela ciência, ele começa a construir uma nave de madeira com o desejo de alcançar Lourdes e, assim, revê-la.

“Minha intenção é explorar a relação intergeracional, que hoje parece cada vez mais distante. O ponto de interseção entre essas gerações pode ser tanto o luto, quanto a cumplicidade. Naná e Sara constroem um espaço de afeto e escuta mútua que impulsiona toda a trama”, relata o diretor, roteirista e produtor executivo, Ariel Rezende. 

Realizada por mais de 20 colaboradores, “Capadócia” retrata também a tensão entre Naná e seu filho Jorge, que busca convencer o pai a deixar sua casa e a aceitar cuidados médicos. A nave improvisada, que aos olhos de Jorge é apenas um delírio perigoso, torna-se, para Naná e Sara, uma cápsula de memória, fé e imaginação, afirma o diretor. 

A obra, com duração de 15 minutos, tem previsão de estreia entre o final de 2025 e o início de 2026. Segundo a equipe, a ideia é que “Capadócia” seja exibida em festivais com acesso ao público em Minas Gerais e em outras regiões do país, além da exibição em circuitos nacionais de cinema.

A junção entre a estética rural e a ficção

A equipe do filme aponta que a parte visual do curta nasceu do desejo de experimentar e unir a ficção científica à estética rural mineira, por meio do sentimento de ausência e da cumplicidade nas relações familiares. Nesse sentido, a inspiração da história entre avô e neta veio de memórias afetivas e da observação entre esses relacionamentos brasileiros. Por meio disso, a definição é que “Capadócia” surge da tentativa de lidar com o luto, o envelhecimento e questões mentais de forma simbólica, como uma maneira de dar dignidade e grandeza a processos que, em outras condições, seriam apenas dolorosos.

“Acredito que o filme pode ser lido em dois níveis. No micro, ele se conecta à cultura mineira por meio de trejeitos, falas e ambientações. No macro, lida com temas universais que criam conexão com pessoas mesmo fora desse contexto”, define Ariel. O diretor discorre que a fotografia e a direção de arte são essenciais para o projeto. “O olhar fotográfico de Caio Dezidério e a sensibilidade artística de Janis Sousa são fundamentais para a criação visual desse universo, que oscila entre o real e o onírico. Eles ajudam a sustentar a atmosfera mágica e afetiva da narrativa”, diz.

Os produtores informam que a logística de produção em áreas rurais sempre impõe desafios, desde o transporte de equipe e equipamentos até a adaptação da rotina local ao ritmo do set. Assim, citam que em Coronel Pacheco, por exemplo, será essencial respeitar e dialogar com a comunidade durante o processo.

Uma equipe influente

O elenco de “Capadócia” é composto pelos personagens principais: Naná (Wilson Rabelo), Sara (Heloísa), Jorge (Demétrio Nascimento) e Lourdes (Vanda Maria Ferreira), e pelos atores Karol, Arielle e Vanderson, que interpretam papéis complementares. “A preparação do elenco tem sido fundamental no processo criativo. Como roteirista, construí os personagens de uma maneira inicial, mas o trabalho dos atores trouxe novas camadas simbólicas e emocionais à narrativa. É uma construção em constante movimento”, conta Ariel Rezende. 

A direção da obra relata que Wilson e Demétrio traçaram caminhos diferentes até chegarem ao projeto. O primeiro foi um nome pensado na pré-produção, durante a fase inicial de captação de recursos. Já o segundo chegou por meio de testes de elenco e trouxe uma força cênica especial que se conectou com o universo do filme. Nesse sentido, determinam que a presença dos atores influenciou diretamente no trabalho da equipe local, pois a entrega de ambos trouxe verdade aos personagens. “Para nós, que também somos apaixonados pelo cinema brasileiro, foi um aprendizado acompanhar o trabalho deles em cena e fora dela.”

Ariel Rezende, Mariana Martins, Eric Moreira, Leonardo Venancio, Júlia Gama Fernandes, Carolina Cardoso, Caio Dezidério, Luan Azevedo, Nitay Krishna, Lucas Alexander Silverio, Janis Souza, Lua, Danilo Teixeira Diniz, Ismael Honório, Ana Gouveia, Baapz, André Medeiros, Ari Telles, Caleb Ido de Abreu, André Medeiros, Isabela Heluey e Luísa Colen integram a equipe do documentário. “Capadócia” é realizada mediante a Lei Paulo Gustavo de Incentivo à Cultura do Estado de Minas Gerais. 

*Estagiária sob supervisão da editora Gracielle Nocelli

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