Voz e violão: Adriana Calcanhotto se apresenta no Cine-Theatro Central
Em show, a artista traz repertório que revisita carreira “como se fosse a primeira vez” e tem contato intimista com o público
Adriana Calcanhotto chega a Juiz de Fora nesta sexta-feira (6), para apresentação no Cine-Theatro Central, em formato voz e violão. Depois de rodar Brasil e Portugal em 2023, com o show do seu álbum “Errante”, a artista lançou, ainda neste ano, “O quarto”, com seu pseudônimo Partimpim, um projeto musical voltado para as crianças. Nos últimos anos, ela também fez shows em homenagem a Gal Costa, participou da abertura da Festa Internacional de Literatura (Flip) e, ainda na pandemia, lançou “Só”. São décadas dedicadas à música e à palavra, experimentando entre diferentes ritmos. O show na cidade, que acontece às 21h, revela um pouco dessa trajetória, de maneira intimista. Os ingressos podem ser adquiridos no Ingresso Digital.
Chegar a um repertório que consiga dar conta dessa trajetória e de tantas composições de sucesso não é fácil. É preciso equilibrar o roteiro, pensar em como apresentar as novas músicas, agradar a quem vai ao show esperando pelas canções antigas mais queridas que viraram quase obrigatórias. E, como Adriana conta, também é preciso refletir sobre o que sente em cada lugar novo que pisa ou ao qual retorna, levando um pouco das memórias que tem. “Eu sei que isso enlouquece a minha equipe, mas vou fazendo o roteiro do show até a última hora.” O que ela garante é que, seja qual for a canção, faz o que o mestre João Gilberto recomenda, sobre sempre cantar como se fosse a primeira vez. Para ela, esse é o exercício necessário e gostoso de cada apresentação.
As músicas já estão há muitos anos em sua vida, mas para além da sonoridade, a influência da literatura é o que a guia. Quando começou a escutar a música que ela mesma escolhia, e não aquela que suas babás ou pais ouviam, percebeu que tinha um gosto diferente pela música popular brasileira. “O que me encantou eram as canções, que eram na verdade poemas. Quando escutava o Vinicius de Moraes na rádio, entendia que tinha uma coisa ali que eu não sabia direito o que era, mas que era a poesia. Toda a minha ligação com a música, e que me deu incentivo para continuar, foi a alta poesia transmitida pela música popular.” Essa força das letras que, mais tarde, ela mesma passaria a transmitir.
Mais recentemente, foi através também de crônicas diárias que surgiram as músicas de “Só”. “Fazia crônicas do dia, do momento, do que estava acontecendo comigo naquele mundo de incertezas, sobre um inimigo, um vírus, sendo que as pandemias são cíclicas.” Foi um jeito de fazer música como nunca tinha feito antes, e que se difere de “Errante”: um álbum que traz um tom bem diferente, mais alegre e otimista. “Fui correndo para o estúdio com seis músicos. E tinha essas canções, algumas mais prontas e outras menos prontas, esse movimento de ir para o estúdio para finalizar foi muito importante.”
Um ser errante
Foi também com essa urgência do encontro e de tocar pessoalmente que percebeu o que era o elemento em comum entre aquelas canções: o ser errante. Essa necessidade de movimento, conforme ela foi descobrindo, também vem de uma herança geracional ligada aos seus antepassados judeus que fugiram da inquisição no século 16, como ela já revelou ter descoberto através de pesquisas genealógicas e testes de DNA. “Ser errante é uma alma desbravadeira, que precisa estar em movimento. É uma alma nômade. (…) É uma espécie de questionamento que se dá sobre eu estar em movimento para cantar, para fazer música, se faço música para estar em movimento. Se interessa essa resposta ou interessam as perguntas.”
Mais que uma errância individual, talvez o seu processo seja relacionado com o fazer arte, essa necessidade de deslocamento que é exigida toda vez. “É um disco em que constato, por causa da pandemia, a minha necessidade de movimento, de estar na estrada. Durante a pandemia, me dou conta de que sou um ser errante. Que eu posso estar em casa e gosto, mas se sou obrigada a estar em casa, a minha alma errante se manifesta com veemência e volume”, conta.
Música de todo tipo para todo tipo de gente
Nos shows de Adriana Calcanhotto, é possível ver um público variado de idades. E essa variação, como ela conta, também está presente nos ritmos musicais, que vão de bossa nova a samba e até ao funk. Para ela, trazer essa polirritmia é algo até natural, e que está presente de alguma forma sempre que se apresenta. O funk, por exemplo, é algo que ela não exatamente decidiu fazer, mas que a provocou pelo próprio gosto. “Desde as primeiras vezes que ouvi a batida do funk, tive a mesma sensação de quando ouvi pela primeira vez o Olodum. De ser uma célula rítmica excepcional, uma síntese genial. E essa é a minha sensação até hoje”, conta. Também na música feita por novas gerações encontra valor, inclusive como foi visto no vídeo que viralizou, em que Adriana estava em um show de Marina Lima, no Circo Voador, no Rio de Janeiro, e cantava Billie Eilish. “Eu acho que tem muito mais meninas compondo e cantando agora do que tinha na minha geração. Sendo donas da própria obra, tocando instrumentos que antes não tocavam, meninas nos surdos. Eu acho sensacional, quero mais que elas mandem ver.”
A variação de idades no seu público também já é coisa antiga, e ela percebe bem desde o sucesso da música “Mentiras”. “Essa é uma música que a princípio não parecia infantil, mas eu chegava para fazer os shows e estava cheio de crianças. Eu pensava: o que essas crianças estão fazendo aqui, nesse show, com esse repertório?”, ri. O projeto Partimpim assumiu esse gosto por fazer música para criança de uma forma diferente – e entendendo em que contexto os pequenos estão em shows. “As crianças não vão sozinhas a shows, elas vão com pessoas adultas. Mas aí os adultos começaram a ir sem crianças no show Partimpim. E iam pessoas mais velhas, avôs, avós, bisavôs e bisavós. Ficou um espectro larguíssimo. E isso virou algo que eu adoro. São pessoas de todas as idades, todo tipo de pessoa pode ser meu público”, acredita.
Encontro marcado com Adriana Calcanhotto
Apesar do repertório do show ainda não estar pronto, Adriana garante que em Juiz de Fora trará canções que unem as pessoas, os ritmos e que trazem de volta memórias. “O Cine-Theatro Central tem muita história, é um desses lugares que guarda a energia na madeira do palco. Eu fui muitas vezes nesse teatro, tenho boas memórias”, finaliza.
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