Milton Nascimento encerra turnê ‘Clube da esquina’ em Juiz de Fora
Show vai acontecer nesta sexta-feira (6), no Cine-Theatro Central; primeiro disco do Clube da Esquina completou 50 anos em 2022
Mil novecentos e setenta e dois foi ano de expansão. Indo na direção que a indústria fonográfica permitia, com alta na venda de discos, independente dos estilos, os músicos brasileiros, principalmente aqueles que iniciaram suas carreiras nos anos 1960, foram ousados porque apresentaram uma nova fase através dos discos lançados nesse ano. Foi esse o tempo de amadurecimento tanto da música do país quanto deles mesmos, que ainda viviam a ditadura militar e sofriam censuras constantes. A lista que mostra isso é extensa: de Caetano Veloso a Erasmo Carlos. Mas quando Milton Nascimento, Lô Borges, Toninho Horta, Wagner Tiso, Beto Guedes e Tavito entraram em um estúdio para gravar o primeiro álbum do Clube da Esquina – grupo que começou em Belo Horizonte por amizade também nos anos 1960 – eles não imaginavam que, com letras de alguns deles e de Márcio Borges, Fernando Brant e Ronaldo Bastos e suas melodias inéditas, uma mistura de tanta coisa, mudariam o rumo da música brasileira como um todo. Pode-se dizer que, mesmo com distanciamento, todos esses músicos mudaram seus próprios rumos a partir desse ano. E tudo foi intensificado, em 1978, quando eles lançaram o “Clube da esquina II”. Cinquenta anos depois do primeiro disco, as revistas são constantes, seja pelos ouvintes ou pelos próprios músicos.
Em 2019, mesmo ano em que lançou um documentário sobre a história do Clube da Esquina, Milton decidiu que era hora de unir os dois discos do grupo em um show solo. O primeiro da turnê foi feito, em 16 de março de 2019, mesmo mês de lançamento do “Clube da esquina”, 47 anos depois, em Juiz de Fora, cidade onde ele morou na infância e voltou a viver mais recentemente. O concerto conseguiu percorrer as principais cidades do Brasil e do mundo, passando pela Alemanha, França, Portugal, Inglaterra, Holanda, Israel, Suíça e Espanha, somando mais de 125 mil ingressos vendidos. Para o encerramento, outros shows foram marcados, inclusive em Juiz de Fora, que seria em 28 de março de 2020. A pandemia, no entanto, fez com que ele e muitos outros fossem adiados. Mas, justo a tempo, uma nova data foi remarcada: 6 de maio. Mesmo que seja ironia do destino, a turnê Clube da Esquina se encerra no ano de comemoração pelos 50 anos do primeiro disco, no mesmo lugar onde ele comemorou os 47 anos de seu lançamento.
Desde que os casos de covid-19 começaram a cessar, a produção da turnê remarcou alguns dos shows em cidades brasileiras, como Santo André, São José dos Campos, Guarulhos. Em Juiz de Fora, no entanto, era necessário, também, que o Cine-Theatro Central voltasse a abrir suas portas, para que uma nova data fosse definida. O teatro estava aguardando o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB) para poder voltar a realizar shows. O auto foi recebido no final de abril e, cinco dias depois, a nova data foi divulgada pelas redes sociais de Milton Nascimento. Os ingressos que foram comprados para a primeira data valerão para esta sexta-feira (6). Cinquenta outros ingressos devolvidos foram disponibilizados para compra, mas, rapidamente, esgotados.
“Unir as pessoas”
Quando a temporada de encerramento da turnê “Clube da esquina” foi anunciada, em nota encaminhada à imprensa, Milton dizia: “Eu nunca tinha pensado em fazer algo que juntasse os dois discos do Clube, mas agora me veio um sentimento de que era hora de fazer isso. E essa turnê Clube da Esquina com certeza foi um acontecimento muito mágico, mesmo, pra não dizer mais… Quis trazer uma ideia que pudesse unir as pessoas. E tenho certeza de que este foi o meu projeto mais especial em todos estes anos”. Até hoje, os shows já contaram com a participação de vários músicos, como Lô Borges, Wagner Tiso, Gal Costa, Flávio Venturini, Criolo, Maria Gadú e Samuel Rosa.
O show
Esse encontro também é promovido pela banda que acompanha a turnê. Com direção artística de Augusto Nascimento, filho de Milton, e direção musical de Wilson Lopes, que também é responsável pela guitarra e violão do show, a banda é composta também por Alexandre Ito (baixo), Ademir Fox (piano), Widor Santiago (metais), Lincoln Cheib (bateria), Zé Ibarra (vocal) e Ronaldo Silva (percussão). O fundo do teatro ganha uma ilustração feita pela dupla de grafiteiros Os gêmeos. Já o repertório passa realmente pelas principais músicas dos dois discos, que, juntos, somam mais de 40 faixas. Eles passam pelas mais clássicas, como “Maria, Maria” e “Trem azul”, mas ainda encontram fôlego para as profundas “Dos cruces” e “O que foi feito devera”.
O Cine-Theatro Central já foi cenário de comemoração pelos 50 anos do “Clube da esquina”. Em novembro do ano passado, foi gravado lá o especial feito por Milton, sua banda e a Orquestra Ouro Preto, com repertório parecido com o da turnê. O resultado foi ao ar, no final de dezembro, pelo YouTube da orquestra. Também no ano passado, a produção de Milton divulgou que uma nova turnê será lançada neste ano, quando ele também completa 80 anos. Com o nome de “A última sessão de música”, ela seria sua despedida dos palcos. Pelo menos, um até breve.