‘Benedetta’: o filme profano de Paul Verhoeven
Obra do diretor de “Robocop” e “Instinto selvagem” é inspirada na história da escandalosa relação entre uma freira e uma camponesa no século XVII

O holandês Paul Verhoeven não foge de polêmica, e “Benedetta” é mais uma comprovação disso. O diretor de 83 anos buscou numa controversa história, ocorrida na Itália do século XVII, a inspiração para seu novo filme. Benedetta Carlini foi uma jovem freira que dizia ter visões de Jesus, inclusive mostrando em seu corpo as chagas de Cristo. No filme, essas visões acabam se tornando surtos, e é Bartolomea (Daphne Patakia), uma camponesa que pedira abrigo no convento, que cuida de Benedetta (Virginie Efira). É a partir da relação entre elas, cada vez mais próxima, que as coisas se tornam chocantes.
As duas começam a viver um romance ardente e, claro, escondido, especialmente da Madre Superiora (Charlotte Rampling). Os surtos e as chagas de Benedetta provocam uma investigação por parte da Igreja, para descobrir se aquilo é verdade ou se tudo não passa de uma farsa. Verhoeven introduz cenas que podem ser consideradas perturbadoras e mesmo profanas: de autoflagelo e tortura à utilização de imagens religiosas em atos sexuais. P
assado na época da Contrarreforma, o filme aborda a forma rígida como a religião se impunha sobre várias questões, inclusive o amor. Se julgada pelos seus atos considerados condenáveis na época, Benedetta poderia ser mandada para a fogueira.
O filme foi baseado no livro “Atos impuros: a vida de uma freira lésbica na Itália renascentista”, de Judith C. Brown. As visões eróticas envolvendo a religião já apareciam ali. As reações a “Benedetta” têm tido foco dividido sobre vários aspectos, como as cenas perturbadoras e o fato de um homem dirigir relações lésbicas – apesar de o roteiro ter sido baseado no livro escrito por outra mulher. É para amar ou odiar.