Inácio: alegria e leveza para além das fronteiras
Após se mudar para Juiz de Fora pouco antes da pandemia começar, cantor e compositor português lança projeto autoral
Todo artista passa por um caminho de autodescoberta, perda e reinvenção de si mesmo. Mas o que Inácio não imaginava, quando decidiu vir de Portugal para o Brasil, no começo de 2020, é que teria que encarar esse caminho em um cenário completamente diferente e distante de tudo que já tinha vivido. Tendo chegado a Juiz de Fora apenas duas semanas antes do início do isolamento social imposto pela Covid-19, ele se viu sem poder fazer os contatos e shows que imaginava quando saiu de sua terra natal. Ao invés disso, passou meses confinado, cantando e compondo – e disso nasceu um álbum com 15 músicas, videoclipes autorais e um projeto que só poderia ter sido feito exatamente dessa maneira.
Mesmo com o clima geral de tristeza e dor, e toda a saudade gerada pela distância de casa, Inácio se empenhou em criar músicas alegres e que o fizessem se sentir livre. Como ele diz, “foi uma forma de encarar a vida e lidar com a própria solidão”. O álbum foi “fatiado” em lançamentos mensais. Já são quatro músicas e três videoclipes disponíveis nas redes sociais. Só no YouTube, uma das faixas, “Longe de você”, já tem mais de 70 mil visualizações. Para ele, a questão vai além dos números: é o resultado de um esforço contínuo por se expressar e fazer trocas por aqui, mesmo em um momento em que foi tão difícil encontrar o espaço que buscava.
Em pouco menos de um ano, Inácio já tinha reunido uma banda (com Thales Scoton, Ygor Mattos e Priscila Martins), feito diversas lives, covers on-line e pensado em formas alternativas de continuar divulgando seu trabalho. Idealizou cada detalhe dos videoclipes, teve ajuda de sua namorada e produtora, Paolla Aquino, para criar o estilo da banda e ainda se viu sempre buscando novas referências. Agora, com a retomada dos eventos na cidade, vai se apresentar para o público pela primeira vez no show de reabertura do Cultural, sexta que vem (12), com Onze:20 e Helgi.
Troca cultural
Como compositor, Inácio valoriza bastante as línguas e os sotaques. Por isso, sempre tenta transitar entre expressões portuguesas e brasileiras, deixar que o ritmo o guie e trabalhar com o que vier disso. Ele acredita que essa troca entre culturas seja muito poderosa e capaz de transformar seu trabalho em algo único. Inácio também compõe em inglês. O que busca fazer, em qualquer idioma ou forma, é “trazer músicas positivas, de paz e amor”, falando sobre aceitação em relação às outras pessoas e consigo mesmo. “Senti que precisava fazer um álbum assim por mim, pelo momento que estamos vivendo, mas também pelas pessoas.”
A liberdade é algo fundamental para Inácio. Mesmo sendo pop, ele precisa dela para poder dialogar também com suas referências de rock, reggae e folk, e até para se sentir confortável em experimentar tanto e criar músicas que possam parecer totalmente diferentes uma da outra. Há uma preocupação clara, no entanto, em tentar trazer algo novo e encontrar seu próprio tom. Tanta invenção e experimentação só poderiam ocorrer por ele acreditar tanto nessa jornada, e ter continuado se dedicando a ela em cada detalhe.