Um novo fazer cultural


Por MAURO MORAIS

05/01/2014 às 07h00

Localizado na Avenida Presidente Juscelino Kubitscheck, no Bairro Benfica, próximo à entrada do Bairro Araújo, na Zona Norte de Juiz de Fora, o Centro de Artes e Esportes Unificado, conhecido como Praça CEU, pode ser o primeiro equipamento do modelo de 7.000 m² a ser lançado no Brasil. Idealizada pelos ministérios da Cultura, Esportes, Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Justiça e Trabalho e Emprego, a praça faz parte da segunda etapa do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2) e reúne salas multiuso, biblioteca com telecentro, cine-teatro com 125 lugares, pista de skate, equipamentos de ginástica, playground, quadra poliesportiva coberta, quadra de areia, jogos de mesa e pista de caminhada, além de um Centro de Referência e Assistência Social. Segundo o portal do Governo federal, 358 contratos já foram firmados para a construção dessas praças, mas apenas 13 centros foram lançados, todas no modelo de 3.000 m² (são três exemplos para os centros, de 700 m², 3.000 m² e 7.000 m²).

No contrato, assinado em março de 2012 com a Prefeitura de Juiz de Fora, o Governo Federal destina R$ 3,5 milhões, enquanto a PJF se compromete a participar com uma contrapartida estimada em pouco mais de R$ 700 mil. De acordo com Toninho Dutra, superintendente da Funalfa, órgão que tem acompanhado a construção, o terreno foi resultado de uma permuta com o Exército, e a participação das verbas municipais ampliou-se à medida em que o projeto foi ganhando vida. "Houveram problemas com a previsão da fundação e com a característica do terreno, que exigiu drenagem, além de adaptações da obra que necessitaram de uma entrada maior de recursos da Prefeitura. Hoje o montante já esbarra em R$ 2 milhões. E mais recursos deverão ser aplicados, pois não adianta construir uma praça e deixá-la em lugar ermo", explica. Fora isso, a manutenção também será bastante custosa. "Prevemos um investimento de R$ 1,5 milhão a R$ 2 milhões por ano. Então, temos um grande investimento feito e outro, também grande, para o futuro", pontua.

Em fase final, a obra, à cargo da construtora Ribeiro Alvim Engenharia, deverá ser entregue até março. Em seguida, será feito o aparelhamento do espaço, o que pode se tornar moroso, já que depende do processo licitatório de mais de 700 itens. A ideia, segundo Dutra, é que o centro seja inaugurado no fim do primeiro semestre. Até lá, Júnior Vanderson de Paula, 15 anos, Igor Gonçalves, 14, e Pedro Henrique Péres, 16, seguem andando de bicicleta no morro íngreme ao lado do canteiro de obras. Segundo Igor, não são muitas as ofertas de lazer na região, por isso ele não vê a hora de permitirem sua entrada na pista de skate. Já Pedro, que mora no Bairro Fábrica, anima-se em ter o que fazer quando estiver na casa do amigo Júnior. "Aqui não tinha nada, só mato. Para mim, vai ser muito bom", faz coro o operador de produção Rogério Luís de França, 60, que vai pouco ao cinema e ao teatro pela grande distância e deseja participar de algum curso para a terceira idade.

Conforme Toninho Dutra, Rogério pode ficar tranquilo, já que a iniciativa prevê o atendimento dos mais diferentes públicos. "De acordo com o nosso plano inicial, começaremos com menos atividades no início e final do dia, ampliando a grade das 9h até as 18h, para atender crianças, adolescentes, jovens e também as famílias. No período da noite, teremos um número reduzido de atividades, mas não deixaremos de atender aquelas pessoas que, por exemplo, querem jogar seu futebol às 22h. O horário será flexível, até porque entendemos que o apoderamento da sociedade é a melhor parceria para uma melhor conservação", comenta, afirmando que o modelo de gestão da praça deverá ser compartilhado entre o Poder Público e uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) ou uma Organização Social (OS). "Vamos abrir um edital, para o credenciamento dessas entidades que tenham interesse. Essa gestão será organizada, coordenada e fiscalizada pelo governo, mas executada por uma entidade cadastrada nos princípios legais."

 

Cinco mil frequentadores

 

Morador de Benfica, o aposentado José Anísio da Silva, 57, espera que, até a inauguração da praça, as calçadas do entorno sejam revitalizadas, já que os pedestres precisam conviver com espaços curtos e carros velozes passando ao lado. "Precisa melhorar o passeio daqui até Nova Era e o centro de Benfica. Tem que haver um sistema que dê mais segurança", reclama. Para o segurança da Indústria de Material Bélico do Brasil (Imbel) Marcos Cornii, 58, a construção deve trazer maior atenção para uma rua, atrás da praça, que sequer tem asfaltamento. "Não dá para vermos uma praça dessa, de primeiro mundo, com o arredor todo detonado", comenta, para logo completar: "Vamos torcer para que dê certo. Isso daqui só não pode cair no esquecimento como aconteceu com o Parque Halfeld".

"Estamos conversando com a Settra e será feito um plano de trânsito de pedestres e automóveis. Obrigatoriamente teremos que fazer um anteparo nas calçadas, porque aquela é uma via de alta circulação de veículos e será um espaço de chegada e saída de um grande número de crianças e adolescentes, o que cria a necessidade, também, de um trabalho de prevenção de acidentes", aponta Toninho Dutra. Segundo ele, questões como o acesso à praça, estacionamento, revitalização do entorno e segurança estão em pauta. "A Polícia Militar está ajudando a pensar em um projeto de segurança, o que não quer dizer que efetivamente teremos um posto policial lá. Teremos algum sistema, sejam câmeras, presença da Guarda Municipal ou de seguranças contratados."

A expectativa é de que a Praça CEU receba, diariamente, cerca de cinco mil frequentadores, o que deverá impactar a região. Em parceria com a comunidade, está sendo elaborado um regimento para o local. Além do teatro com ar-condicionado, vedação de luz, cabine de som e luz, refletores, cortinas, camarins equipados e palco italiano ("85% das encenações que são feitas na cidade hoje em dia poderão ser feitas na praça", diz Toninho), e de uma biblioteca com bastante espaço para receber um acervo atual, o endereço também servirá para atividades sociais, com cursos de culinária, pintura, entre outros. "Queremos puxar pelo social, trabalhando com a ideia de que esse é um espaço da região. Não é exclusivo do Bairro Araújo ou de Benfica, mas da Zona Norte. Pensamos em atender, ao menos, um raio de dois quilômetros, em que a pessoa consegue acessar a pé, ida e volta, sem grandes problemas. Em um segundo momento, desejamos garantir o transporte para aqueles que tenham uma distância maior que essa a percorrer. É um equipamento muito nobre e não podemos restringir o acesso", ressalta o superintendente da Funalfa.

 

O campo pode não virar praça

Do outro lado da cidade, no Bairro Santa Efigênia, na Zona Sul, um campo de futebol, que até então tem servido a campeonatos de times de várzea de bairros da região, tem sido alvo de um impasse que pode cancelar a construção da segunda Praça CEU de Juiz de Fora. Assinado junto com o de Benfica, o contrato para o Centro de Artes e Esportes Unificado previa uma contrapartida municipal ainda maior, de pouco mais de R$ 800 mil, e as obras poderiam ter sido iniciadas ainda em 2012, mas nada saiu do papel. "Temos algumas dificuldades, em relação à desapropriação do terreno, em relação ao meio ambiente – já que passa um córrego ali – e em relação a algumas casas que tiram a visibilidade do espaço, e isso traz a possibilidade de essa obra não sair. Não temos tempo hábil para agilizar tudo até a data limite do Governo federal", comenta Toninho Dutra, superintendente da Funalfa.

De acordo com Dutra, quando o projeto foi aprovado havia uma carta de intenção do proprietário, a Cúria Metropolitana, em negociar a venda do terreno, mas como na gestão passada isso não foi concluído, foi preciso recomeçar o processo. Locatário do espaço desde março de 2013, Roque Esteves dos Reis, 56, diz ter feito um contrato de aluguel com a Congregação Mariana, e o documento vigora até 2018. "É impossível ter uma praça aqui. Para fazer isso, teria que haver um efetivo policiamento", comenta ele, dizendo que o campo fica cheio aos domingos e mostrando suas rígidas regras para uma convivência cordial no espaço. De acordo com o carpinteiro Rafael Maicon Messias de Aquino, 24, o endereço não é o ideal para uma construção como a Praça CEU. "É muito melhor reestruturar isso daqui do que trazer um outro projeto. Todo mundo respeita o campo de várzea, ele é muito importante para a comunidade", diz.

Nas ruas do Santa Efigênia, poucos conhecem o possível empreendimento. Para identificar o número 1065 da Rua Bady Geara como espaço para um projeto do PAC 2, é preciso bastante esforço, já que logo na entrada do empreendimento coordenado por Roque, está escrito em letras garrafais: "Propriedade particular". Conforme Toninho Dutra, o Poder Público continua negociando o terreno e já está em fase avançada. O montante de R$ 350 mil já está liberado para as obras, mas encontra-se na conta do convênio e não foi utilizado. "O desejo da Prefeitura é fazer a obra, até porque nossa intenção é criar uma rede de espaços como esses na cidade inteira", afirma.

Contudo, além da compra da terra, será preciso um esforço ainda maior. "Um estudo está sendo feito sobre a necessidade de desapropriação de algumas casas. Há residências que estão irregulares, e a desapropriação parcial pode ser feita para abrir a visão da praça, para não criar um espaço de insegurança onde deve ser um local de prazer e fruição da arte e cultura. É um problema isso. Temos a possibilidade de permutar um terreno na mesma região, mas isso também é difícil." Atualmente a região abriga diversos projetos sociais e culturais. Um dos mais robustos é a Casa de Cultura Evailton Vilela, presidida por Negro Bússola. O centro cultural acaba de receber um terreno da Prefeitura, onde será construído um anfiteatro e uma biblioteca.

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