Confira dicas de livros brasileiros de 2024 para ler em 2025
Romances, contos e poemas de escritores contemporâneos refletem sobre nosso tempo e trazem narrativas diversas
O ano de 2024 já acabou, mas deixou algumas pérolas literárias que não podem ser esquecidas. Os livros selecionados pela Tribuna são de escritores brasileiros contemporâneos e que estão escrevendo suas obras sobre o nosso tempo, com os desafios, questões, reflexões e novos olhares que merecem atenção. Em romances, contos ou poemas, vale a pena conferir os canibais viajantes do tempo, as seitas eugenistas mineiras e as mulheres insubordinadas vivas em Vashti Setebestas, entre vários outros.
A seleção levou em conta uma diversidade de regiões e de perfis de autores. Todos também são livros de cerca de 200 páginas e que podem trazer novas perspectivas para este começo de ano, sendo uma boa forma de incentivar o hábito de leitura.
‘Nostalgias canibais’, de Odorico Leal
O tradutor, pesquisador e músico Odorico Leal faz uma estreia marcante com “Nostalgias canibais”, livro de contos maravilhosos e nada óbvios. As histórias deste livro acompanham um indígena canibal, que atravessa o tempo e busca saciar sua fome enquanto questiona sua existência em diferentes sociedades; gatos de apartamento que julgam a trajetória de sua tutora enquanto decidem o futuro dela; um homem terrivelmente feio, em busca de um concurso que amenize a dor e o vazio de sua feiura; uma jornalista que finge ter lido um livro e faz entrevista com o escritor exigente sobre os Getulinhos; um casal fadado ao fracasso vizinho de uma mulher barulhenta.
São cinco narrativas vorazes e com ritmo, que passam por perspectivas bem diferentes e conseguem sempre surpreender o leitor. O humor ácido de Odorico também aparece, em momentos que fazem rir de nervoso, para em seguida arregalar os olhos e partir para as próximas páginas.
‘Melhor não contar’, de Tatiana Salem Levy
Tatiana Salem Levy já é um nome forte da literatura brasileira contemporânea há alguns anos, e seus relatos autobiográficos já conquistaram alguns importantes prêmios. Mas em “Melhor não contar”, ela consegue avançar ainda mais e trazer uma reflexão profunda sobre o luto, os abusos que sofreu e sua própria literatura. Os motivos que a levam a contar, e não silenciar essa narrativa, fazem com que sua escrita fique mais forte e que mesmo os seus outros livros tomem força de maneira diferente.
A coragem que tem para revelar o abuso que sofreu de um padrasto e mesmo a reflexão que traz sobre seu lugar de vítima, enquanto também vive um aborto, fazem com que muitas mulheres se identifiquem – mesmo aquelas que não tenham passado por uma situação próxima, mas querem, sim, contar.
‘Asma’, de Adelaide Ivánova
O livro “Asma”, de Adelaide Ivánova, é uma obra de poesia praticamente épica, que acompanha Vashti Setebestas e sua defesa sobre sua própria vida. Mas a personagem são muitas, encarna várias entidades, corpos, povos, gostos, desafios, provocações e línguas. O livro trata de uma migração forçada e de uma história feminina feita por mulheres, que entendem suas ligações e fogem de todas as regras que lhes foram impostas.
A linguagem da autora é cuidadosa e inventiva, enquanto brinca com referências mais clássicas até as mais populares. Vale também procurar Adelaide Ivánova lendo trechos da obra, que deixam claro o tom afiado que o livro tem.
‘De onde eles vêm’, de Jeferson Tenório
O livro “O avesso da pele”, de Jeferson Tenório, foi um sucesso entre o público e a crítica, tendo conquistado o Prêmio Jabuti e vendido mais de 200 mil cópias – mesmo com a censura que sofreu, no ano passado. Seu primeiro romance desde esse sucesso, “De onde eles vêm” segue explorando temas de interesse do autor: a paixão pelos livros, relações familiares próximas e cheias de nuances e o racismo no dia a dia.
A nova história tem como protagonista um garoto chamado Joaquim, que entra na universidade por meio do sistema de cotas e que quer ser escritor. Enquanto cuida da avó e vive sua vida no início dos anos 2000, ele explora com riqueza os desafios e as descobertas inerentes ao processo de avanço social inédito vivido por essa geração.
‘Ressuscitar mamutes’, de Silvana Tavano
A escritora Silvana Tavano começou a escrever essa história quando soube de uma iniciativa real de cientistas que buscavam “ressuscitar” espécies de mamutes para salvar o futuro da humanidade. Com esse pontapé, ela partiu da premissa de que precisamos regressar para avançar e de que o passado e o presente estão conectados – e são capazes de alterar um ao outro, em um fluxo contínuo.
O tempo é trabalhado com delicadeza a partir de uma história familiar, voltada principalmente para uma mãe e uma filha e as várias versões que essa história poderia ter. Em uma narrativa híbrida e que, por vezes, parece misturar ficção e ensaio, a autora ousa bastante em seu estilo ao longo de “Ressuscitar mamutes”.
‘Puro’, de Nara Vidal
O romance “Puro”, da escritora Nara Vidal, se volta para uma realidade propositalmente ignorada: as tentativas eugenistas que dominaram o Brasil no século XX. A partir de uma polifonia de vozes, ela acompanha uma cidade mineira fictícia chamada Santa Graça, em que esse plano está a todo vigor.
Apesar de parecer uma narrativa distante, o livro deixa evidente o quanto esse passado do Brasil ainda está conectado com o presente, e o quanto um aprofundamento sobre os danos gerados por esse período ainda faz falta.
Tópicos: literatura brasileira