Em edição histórica, CineOP reúne 20 mil pessoas, gera empregos e mira no futuro
CineOP reafirmou compromisso com o cinema como patrimônio, a preservação e a educação audiovisual; Ana Rieper ganha primeiro prêmio da mostra competitiva

A 20ª edição da Mostra de Cinema de Ouro Preto (CineOP) reuniu mais de 20 mil pessoas em seus seis dias de programação. O evento teve uma edição histórica em comemoração às duas décadas de existência, contando com 143 filmes de seis países e a homenagem ao humor feminino no cinema. Além disso, a programação deste ano trouxe novidades que prometem se fixar no evento anual e reforçaram o compromisso de encarar o cinema como patrimônio, além de valorizar a preservação e a educação audiovisual, por meio de iniciativas como a nova Mostra Competitiva Contemporânea Arquivos em Questão e a Mostra Construindo Memórias, ambas voltadas à reflexão sobre a memória e a montagem no cinema contemporâneo.
Para a realização, o evento contratou 230 empresas prestadoras de serviços, fez parceria com 22 estabelecimentos comerciais de Ouro Preto (entre pousadas e restaurantes) e gerou mais de 1.500 empregos diretos e indiretos. Este ano, também foram oferecidas 405 vagas em seis oficinas, seis masterclasses internacionais e um workshop, para gerar capacitação teórica e prática para estudantes e profissionais do audiovisual. Já o programa Cine-Expressão promoveu sete sessões de cinema e debates, que atingiram 3.450 alunos de 19 escolas da rede pública.

A organizadora da mostra, Raquel Hallak, conta que o evento se tornou muito maior do que imaginavam quando começaram — e que, aos 20 anos, percebem que ele pode continuar crescendo junto com a cidade. “Temos dois congressos dentro de um festival de cinema. Acreditamos que educação, memória e cultura são alicerces fundamentais para a construção do Brasil que queremos. Que a CineOP siga sendo um farol”, diz. Para ela, ainda é preciso criar editais de cultura voltados para os festivais de cinema, que permitam uma continuidade dos trabalhos todos os anos. “Fazer a diferença requer ousadia. Precisamos de governos ousados para propor coisas novas em diálogo com a sociedade civil”, afirma.
No digital, a mostra alcançou mais de cem mil acessos on-line a partir de mais de 60 países e alcançou mais de 2,5 milhões de visualizações nas redes sociais. Outra proposta do festival, que é o cinema em conexão com as outras artes, teve como destaque as 33 atrações artísticas da programação, que incluiu show de Ana Cañas e Xênia França, exposição, lançamento de 34 livros, performance audiovisual, Cortejo da Arte e Festa Junina.
‘Paraíso’ ganha primeiro prêmio da mostra competitiva
O filme “Paraíso” recebeu o primeiro prêmio da Mostra de Cinema de Ouro Preto, um dos diferenciais deste ano. A obra foi dirigida por Ana Rieper e produzida no Rio de Janeiro, e participou da seleção dos longas que usam imagens de arquivo, trazendo mais visibilidade para os avanços da preservação audiovisual no país.
A decisão do júri em conceder o prêmio para esse filme teve como justificativa o longa ser um ensaio que “propõe uma interpretação do Brasil a partir de imagens cinematográficas de diferentes origens”, e por ter forte diálogo com a tradição de pensamento crítico de intelectuais brasileiros. A produção também foi elogiada pela “rigorosa pesquisa em arquivos públicos, que permitiu o acesso a uma significativa coleção de imagens”, resultando em um filme com inventividade e caráter humanista.
Novos anúncios na CineOP
Durante o evento, outros anúncios importantes foram feitos, já mirando no futuro e na permanência da CineOP. Frederick Magalhães, do Instituto de Filosofia, Artes e Cultura da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), revelou o planejamento de um novo curso na universidade, como já vinha sendo pedido há anos pela comunidade acadêmica. A faculdade será de bacharelado em Cinema e Audiovisual com ênfase em preservação, aproveitando o patrimônio cultural da cidade. Além disso, o diretor do Museu da Inconfidência, Alex Calheiros, anunciou a criação de uma nova sala de cinema no antigo auditório do museu, que levará do cineasta Joaquim Pedro de Andrade — o espaço, que já foi integrado à programação da CineOP, será adaptado para exibir filmes regularmente.
A edição também teve o lançamento oficial do Programa de Preservação do Audiovisual Brasileiro, que estrutura uma política nacional de preservação e cria a Rede Nacional de Arquivos Audiovisuais. Além disso, no Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+, o Ministério da Cultura, presente no evento, lançou a 65ª edição da revista Filme Cultura, com o tema “Cinema Mais: o audiovisual LGBTQIAPN+”, que busca prestar homenagem à pluralidade de identidades e expressões da comunidade e reforçar o compromisso da política cultural com a inclusão.
Tópicos: mostra de cinema de ouro preto