Motoristas e cobradores da empresa GIL fazem passeata pelas ruas de JF
Funcionários protestaram mais uma vez a respeito dos atrasos que enfrentam no pagamento e nos benefícios

Munidos com cartazes com dizeres “queremos nossos direitos”, “quero meu salário” e “Goretti, pague o que deve”, trabalhadores da empresa GIL saíram em passeata, na tarde desta segunda, percorrendo algumas ruas da região central de Juiz de Fora. De acordo com o vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte e Trânsito (Sinttro), Claudinei Janeiro, o ato, realizado antes de a Settra determinar à Tusmil que assuma todas as linhas da GIL, deve-se justamente ao fato de a pasta já ter passado, neste fim de semana, para a viação Tusmil, cinco linhas de ônibus que eram operadas pela GIL. “Enquanto isso, o problema do trabalhador, efetivamente, não está sendo resolvido, nem colocado em questão”, ressaltou.
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Ainda segundo ele, a mobilização foi realizada pelos trabalhadores e não contou com a organização do Sinttro, que prestou apoio à iniciativa. “Os funcionários estão com seus salários atrasados há três meses, o tíquete-alimentação também está atrasado, e a cesta básica também tem dois meses que não é entregue. Inclusive, o sindicato fez campanha e conseguiu cestas básicas para esses trabalhadores, mas essa arrecadação foi pouca e não atingiu a todos.” A passeata, em clima pacífico, partiu da Praça da Estação pela Avenida Francisco Bernardino até o Manoel Honório, de onde voltou pela Avenida Rio Branco, passando pela Avenida Getúlio Vargas até o ponto inicial. O percurso foi seguido por policiais militares. Em alguns trechos, ao longo do movimento, houve lentidão no trânsito.

Na última quarta-feira (25), os funcionários da empresa GIL denunciaram que teriam sido tratados com ameaças em uma tentativa de serem colocados para fora do pátio da empresa, no Bairro Vitorino Braga. A Polícia Militar precisou ser chamada a fim de garantir a ordem. A situação teria acontecido depois que eles tomaram conhecimento a respeito de uma especulação de que a GIL iria decretar falência. Desde então, os funcionários aguardam uma nova reunião da diretoria da empresa para que haja uma decisão a respeito, já que, naquela quarta, nem todos os sócios da GIL se fizeram presentes em encontro marcado para tomada de decisão.
“O estatuto da empresa diz que, para se tomar uma decisão, é necessário a presença de todos os sócios e isso não foi possível no último encontro. Ficou adiada essa reunião para a próxima quarta”, afirmou Claudinei. Ele ainda avalia que a passagem das linhas para outra empresa só aumenta a apreensão dos trabalhadores. “A cada dia, os funcionários vão vendo seus direitos sumirem, porque, depois, onde esses direitos poderão ser buscados?”, questionou, lembrando que o fundo de garantia dos funcionários não tem sido depositado pela empresa de forma regular há dois anos e quatro meses.
‘Para a gente, nada acontece há semanas’
Um motorista, que participava da passeata e preferiu não ser identificado, disse que a situação é uma falta de respeito com os trabalhadores. “Fizeram essa licitação. No caso da Goretti, eles ficaram com muitas linhas e parece que agora não conseguem tocar, porque têm muita despesa. Especula-se falência, e os funcionários estão à mercê da própria sorte sem seus benefícios, sem seus direitos”, disse, completando: “Se forem passar as linhas para outras empresas, o certo é também manter esses funcionários ou ressarci-los.”

Outro motorista, que também preferiu não se identificar contou que essa situação apresenta muitas dificuldades para os trabalhadores e suas famílias. “Está muito difícil para quem é funcionário hoje da GIL. Motoristas, cobradores, mecânicos e fiscais, estão enfrentando problemas financeiros. Os empresários à frente da empresa não se manifestam, não sinalizam em pagar ou fazer algo em prol do trabalhador. A verdade é que as linhas estão sendo passadas e, para a gente, nada acontece há semanas”, afirmou. Segundo ele, em casa, a situação, a cada dia, fica mais complicada. “Sempre contamos com o tíquete, que é um reforço e estamos sem ele. Sem plano de saúde e tem muita gente adoentada, sem cesta básica, e as pessoas estão fazendo um bico por fora. Aqueles que não conseguem esse bico estão passando necessidade”, disse.
Questionada sobre a manifestação dos trabalhadores, a Settra afirmou que, como tem apenas o papel de manter e fiscalizar o atendimento, não pode intervir, pois é uma relação entre empresa e funcionários. Ainda segundo a Settra, não houve informações oficiais de decreto de falência por parte da GIL. A Tribuna fez contato com a GIL, mas sem êxito.