Cinco meses de chuvas escassas

O período de chuvas 2014/2015 entra no seu último mês amanhã com acumulado de precipitações na cidade de apenas metade do esperado. Conforme o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), entre outubro do ano passado e ontem, choveu em Juiz de Fora 55,5% do previsto pela média histórica. Este resultado é explicado pela atipicidade de praticamente todos os meses que compõem este período. A exceção está em novembro que, embora tenha tido acúmulo de precipitações abaixo da média, chegou a 94,3%. Nos demais, a soma das chuvas oscilou entre 45,4%, em fevereiro, e 47,9%, em outubro. Para março, os modelos climatológicos mostram a possibilidade de comportamento das chuvas próximo do normal, no entanto, mesmo que isso ocorra, não será suficiente para alterar o atual cenário.
Além de afetar a produção e elevar o preço dos produtos do campo, como carne, leite, frutas e verduras, uma das principais consequências desta realidade está no abastecimento de água para a população. Por enquanto, o rodízio, iniciado em outubro, permanece por tempo indeterminado, e a Cesama pretende fazer nova avaliação do problema em duas semanas. De acordo com o meteorologista Luiz Ladeia, do 5º Distrito do Inmet, historicamente ainda há concentração de chuvas consideráveis na primeira metade do mês de abril e, depois disso, acumulados consideráveis só voltariam a acontecer em outubro. Ou seja, o período de estiagem está muito próximo, e as represas que abastecem o município mantêm níveis de acumulação muito aquém do esperado.
Na reunião que a Cesama pretende fazer em meados de março, será discutida se a quantidade de água armazenada será suficiente para abastecer a população, sem ônus, até outubro. Caso seja definido que não, o atual rodízio pode não somente continuar em vigor como também ser alterado. Segundo o diretor de Desenvolvimento e Expansão da Cesama, Marcelo Mello do Amaral, as possíveis alterações ainda serão estudadas. “Sabemos que o período de chuvas está acabando e precisamos avaliar a situação e pensar em novas medidas. Podemos manter como está, ampliar o rodízio ou optar pela redução da pressão de água na rede.” Esta última possibilidade, entretanto, Marcelo considera pouco provável, principalmente porque prejudicaria aqueles que moram em áreas mais altas. “Não queremos privilegiar ninguém, pois queremos pensar em medidas que não penalizem apenas uma determinada área da cidade.”
João Penido
Na entrevista coletiva convocada pelo prefeito Bruno Siqueira (PMDB) no fim de janeiro para falar sobre a crise hídrica, ele havia comentado a respeito da necessidade de se chegar a abril com a Represa João Penido com 50% do seu volume de água. Atualmente ela está em 37% e, mesmo que a meta não seja atingida, Marcelo afirma que o manancial não irá secar. “Se chover cem milímetros em março e mais cem milímetros em abril, a situação fica mais tranquila. Estou contando com chuvas até fracas, mas contínuas. Se isso acontecer, ela poderá até não aumentar seu nível, mas também não perderá.” Em períodos chuvosos normais, a represa em fevereiro estaria com 82% de sua capacidade de armazenar recurso (ver quadro).
A previsão mais otimista do diretor é explicada pela possibilidade de depender mais de Chapéu D’Uvas já a partir da próxima semana. Para abastecer o município sem ônus, a companhia precisa tratar, em média, 1.500 litros de água por segundo. Atualmente Chapéu D’Uvas contribui com valores entre 250 e 300 litros, e existe a expectativa de aumentar para até 400 milímetros em poucos dias. Isso será possível porque a estação de tratamento que a atende, na Zona Norte, já está com o trabalho de ampliação concluído, sendo que, nos últimos dias, estão sendo feitos testes nos novos equipamentos. Desta forma, a demanda de João Penido, que já foi de 800 litros por segundo, e agora está em 500 litros por segundo, deverá cair para 400 litros por segundo. O restante de água necessária viria da Represa de São Pedro e do Ribeirão Espírito Santo, que é um manancial de passagem.
Expectativa de chuva até meados de abril
Segundo o meteorologista Luiz Ladeia, do 5º Distrito do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), março deverá ser chuvoso, embora seja difícil afirmar que o acumulado fique dentro da média histórica, que são 198,3 milímetros. “Notamos que os núcleos de umidade estão se deslocando mais para a faixa Leste de Minas, então a Zona da Mata e outras regiões próximas deverão ter precipitações pelo menos até o dia 10. Mas o grande problema é o que deixou de acontecer, porque todos os meses do período tiveram acumulação abaixo do previsto. Não teremos uma recuperação imediata.”
O especialista também explicou que as chuvas do período não estão atrasadas, elas de fato deixaram de acontecer. Desta forma, após a primeira quinzena de abril, a tendência é de redução drástica das chuvas, se estendendo até outubro. “Apenas ao longo dos próximos anos, teremos uma explicação concreta do porquê desta estiagem. Porém, é certo que isso não acontece pela primeira vez, e também não será a última. A diferença é que, em outras épocas, com ciclo de chuvas irregular, os impactos eram outros, pois a população e as cidades eram menores.”
Ladeia também descarta a hipótese de a região estar vivendo um novo padrão no volume de precipitações e avalia que a situação ainda precisa ser encarada como uma atipicidade dentro da média histórica. Perguntado se a anormalidade poderia voltar a acontecer no próximo período, ele informou que ainda é cedo para este tipo de previsão.