Polícia apura morte dentro de cela na delegacia
Delegado quer saber como cadarço usado pela vítima foi parar no interior da cela. Fatos começaram a ser investigados depois que a família da vítima solicitou apuração
A Polícia Civil, por meio da Delegacia Especializada em Homicídios, abriu inquérito para investigar a morte de um homem, de 34 anos, em uma cela no setor de flagrante da Polícia Militar, na sede da Delegacia Regional, em Santa Terezinha. De acordo com o registro da PM sobre a morte, o preso aguardava na cela a elaboração da ocorrência de lesão corporal na qual ele era apontado como autor, quando teria cometido suicídio, enforcando-se com um cadarço. O objetivo da investigação comandada pelo delegado Rodrigo Rolli é apurar como esse cadarço foi parar no interior da cela para ser utilizado pelo preso. Segundo o policial, o caso ainda não é investigado como autoextermínio nem como homicídio, uma vez que são esperados os resultados dos exames do local onde o corpo foi encontrado e de necropsia. O 2º Batalhão de Polícia Militar também abriu um procedimento administrativo para apurar as circunstâncias do ocorrido.
No que tange à Polícia Civil, os fatos começaram a ser investigados depois que a família da vítima solicitou a apuração. Conforme o delegado Rodrigo Rolli, os familiares se reuniram com ele, na última segunda-feira, e se mostraram indignados com a morte, já que o corpo do preso apresentava lesões, inclusive roxos pelo rosto. “Não podemos dizer que estamos apurando um homicídio, mas o encontro de um corpo. Ainda não dá para saber se é um caso de autoextermínio ou assassinato. É uma investigação para apurar os fatos e as responsabilidades”, ressaltou.
A apuração, como apontou o delegado, busca definir três momentos distintos da vida da vítima. O primeiro seria o seu passado. Depois, o fato que o levou para a delegacia e, por último, o evento que se deu dentro da cela. “Por meio da busca pela vida da vítima, constatamos que, infelizmente, era um homem que fazia uso de droga e que já teve episódios de internação para tratamento. Ele era calmo, nunca teve passagens policiais”, afirmou o delegado, acrescentando que: “No dia em que foi encontrado morto, ele foi a uma festa em um bar na Cidade Alta junto com a esposa e outro casal. Eles festejaram das 21h até 1h30, quando deixaram o local. De carona com o casal de amigos, ele e a mulher voltaram para casa. A esposa, ao perceber que ele queria fazer uso de entorpecente, o impediu de sair da residência novamente e começaram uma discussão”, disse Rolli.
Apesar das tentativas da mulher para impedi-lo, o homem saiu e voltou cerca de 15 minutos depois, ocorrendo outra discussão. A Polícia Militar foi acionada por vizinhos. Segundo Rodrigo Rolli, a esposa, ao prestar depoimento, contou que, com a chegada da PM, o marido não ofereceu resistência. “Ele se acalmou, conforme ela, e foi colocado na parte de acautelamento da viatura militar para ser levado à delegacia. Ela inclusive foi na parte da frente do veículo. Como ela contou, o marido não foi algemado, pois não resistiu, ou seja, houve uma ação policial limpa, transparente e sem excesso”, pontuou o delegado.
Ainda como parte de seu testemunho, a esposa contou na delegacia que, no caminho, os policiais pediram para parar a viatura a fim de retirar os cadarços e o cinto do preso. “Ela relembrou que, ao chegar na unidade policial, o marido teria desembarcado descalço e colocado na cela de contenção da PM. Ela se sentou próximo à cela, porém impedida de vê-lo devido a uma parede que foi construída recentemente, e os policiais ficaram confeccionando a ocorrência. Ela conta que, em determinados momentos, ouviu o marido gritando, fazendo xingamentos contra ela, mas não ouviu barulhos de golpes contra a grade, e que os policiais não compareceram à cela, mas que, em determinado momento, ouviu algo como um expiro, e o marido ficou quieto em seguida. Depois, quando os policiais voltaram ao local, foi constatada a morte dele”, disse Rolli, destacando que os militares serão ouvidos ao longo do inquérito.
Sobre a lesões no corpo da vítima descritas pela família, Rodrigo Rolli adiantou que algumas delas podem ser resultado dos procedimentos necessários do exame de necropsia. “O couro cabeludo estava cortado como disseram os familiares e, no exame, o couro cabeludo é cortado para fazer o rebatimento de crânio, a fim de serrá-lo e abri-lo com objetivo de saber se houve alguma lesão intracraniana. A família inclusive trouxe fotos e dá para ver a abertura da caixa torácica realizada durante a necropsia. Esse procedimento serve para encontrar o que chamamos de petecas ecmóticas, para determinar o local de migração do sangue no momento da morte”, observou o policial. Segundo ele, o foco da apuração será determinar como o cadarço foi parar dentro da cela e aguardar os laudos dos exames solicitados que devem ficar prontos em 30 dias.
Boletim de ocorrência
Acerca do encontro do cadáver na cela, o boletim de ocorrência sobre a morte do preso relata que o soldado PM que trabalha no local deslocou até a cela para vistoria de rotina e constatou que a vítima estava dependurada na grade da porta da cela, já desacordada. Conforme o documento, de imediato, o policial acionou outro militar que se encontrava de serviço. Eles abriram a cela e cortaram o cadarço que prendia o pescoço à grade, vindo a vítima a cair no chão sem reação. No primeiro momento, houve, por parte dos policiais, tentativa de reanimá-lo, contudo sem êxito. Em seguida, o Samu foi acionado, e a equipe médica constatou o óbito.
No boletim de ocorrência (BO) ainda consta que também estavam presentes no local os militares responsáveis pelo registro da ocorrência que culminou na condução da vítima à delegacia e que também prestaram assistência. Relata ainda que os policiais já tinham realizado os procedimentos de busca pessoal previstos em normas técnicas, retirando do preso um maço de cigarros, um pote branco, bem como um objeto metálico que foi entregue à esposa dele.
No documento está registrado que o par de tênis com cadarço não se encontrava com o preso, mas em local apropriado fora da cela de acordo com os procedimentos de segurança adotados na delegacia. Também segundo o registro policial, a companheira da vítima teria relatado que o preso já tinha tentado suicídio em data passada e falava sobre essa possibilidade em outras ocasiões em razão de sua dependência química. De acordo com o BO, foi apreendido o par de tênis que a vítima usava e que estava com os cadarços de origem, além de outro cadarço que teria sido utilizado pela vítima.