JF oferece serviços inclusivos, mas avanço da acessibilidade é desafio
Na quarta-feira foi celebrado o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, voltando o olhar para a necessidade de garantir atendimento adequado a estes consumidores
No dia nacional dedicado à luta da pessoa com deficiência, Juiz de Fora ganhou mais uma barbearia inclusiva. Na última quarta-feira (21), foi inaugurado o novo espaço da Estação Barbeiros, no Bairro São Mateus, Zona Sul, cuja proposta é atender pessoas com deficiência em um espaço pensado e adaptado a esse público. Embora seja um avanço, aponta para a necessidade de ampliação da discussão sobre a acessibilidade na cidade, que enfrenta carência de pontos inclusivos e de espaços acessíveis em diferentes áreas, como prédio públicos, espaços culturais, museus, ambientes para a prática de esportes e atividades físicas, lojas e outros estabelecimentos, conforme destacam personagens ouvidos pela Tribuna, que relatam dificuldades diárias.
O técnico em eletrônicos e celulares Jefferson Luan Corrêa Zancaneli é usuário de cadeiras de rodas e aprovou a inauguração de espaço de beleza adaptado a pessoas com deficiência. Ele conta que, antes de conhecer a Estação dos Barbeiros, ficava desanimado em ter de cortar o cabelo em outros locais. “É necessário ter essa facilidade de ir e vir devido a boa acessibilidade do local. Outra característica muito importante é o espelho ser adaptado na altura da cadeira, pois assim consigo me ver todo e acompanhar o corte.”
Ampliação do atendimento
A nova loja da Estação dos Barbeiros amplia um trabalho de inclusão já realizado na outra unidade da barbearia, localizada no Centro. No local, já era ofertado atendimento inclusivo a pessoas com autismo, conforme destaca o dono do salão, Maycon Gonçalves. A inauguração do novo espaço, portanto, tem o intuito de ampliar esse atendimento e estendê-lo a pessoas com deficiência física, conforme explica.
“Aqui (o espaço) é muito mais amplo e permite melhor locomoção, facilitando a vinda de usuários de cadeiras de rodas. Para além da estrutura física inclusiva, buscamos proporcionar um atendimento especial, olho no olho, sem causar indiferença.”
Na entrada da unidade, há um rampa que garante a passagem com facilidade de cadeiras de rodas. Dentro do espaço, há espelhos grandes que permitem que o cliente se veja por inteiro, independente da altura. Há também carrinhos em que crianças podem ter o cabelo cortado de modo interativo, além de uma brinquedoteca adaptada para crianças com autismo.

Novos caminhos no esporte
Em Juiz de Fora, espaços voltados à prática esportiva também têm a preocupação em ampliar o atendimento a pessoas com deficiência. A engenheira de telecomunicações Marcelina do Nascimento, 41 anos, ouro no Pan-Americano de Parajiu-Jítsu, destaca a importância de treinar em um centro adaptado. A juiz-forana tem paralisia cerebral congênita e convive com sequelas que reduzem a mobilidade dos membros inferiores.
“Minha equipe treina em um centro de treinamento (CT) térreo. Outro ponto facilitador em relação a acessibilidade é que existem três linhas de ônibus que param em frente ao CT. Mas existem alguns pontos de melhoria já identificados, como ampliação e adaptação para o banheiro e vestiário”, destaca.
O enfermeiro Tiago Pinto da Silva sofreu um acidente de moto há nove anos e ficou paraplégico. Ele achou que nunca mais poderia praticar um esporte. No entanto, atualmente é um dos oito nadadores da turma inclusiva de natação para pessoas com deficiência do Clube Bom Pastor. Ele conta ter descoberto na natação do clube uma paixão.
“Há três anos estou lá e disputei dois regionais, um em Brasília e o outro em Belo Horizonte. Para isso, pratico de segunda a sexta, além de, na quarta e na sexta, ir à academia do clube. Eu só tenho a agradecer ao clube por essa oportunidade, além de poder disputar torneios, estou cuidando da saúde e do meu bem-estar”.
O treinador da turma, Sidnei Costa, juntamente com o preparador Álvaro Maciel, destaca a importância da iniciativa. “Nosso objetivo é dar oportunidade aos atletas com deficiência a possibilidade de praticarem, no nosso caso, a natação. Já contamos com oito atletas no nosso grupo e estamos em busca de mais interessados.”
Acessibilidade
Apesar de Marcelina conseguir treinar em Juiz de Fora, a atleta avalia que ainda há poucos espaços na cidade realmente inclusivos. Ela critica o fato de alguns imóveis tombados da cidade, abertos à visitação, não garantirem acessibilidade plena a todas as pessoas. Além disso, a atleta chamou atenção para lojas de roupas, hospitais e diversos outros espaços, como cinemas – que ofertam meia entrada para pessoas com deficiência, mas nem todos garantem experiência completa. “Não adianta ter esse direito e o local não ter acessibilidade para que eu possa transitar com autonomia e segurança.”