Juiz-foranos relatam dificuldade para se vacinar contra meningite
Após a campanha realizada no sábado, imunizante está em falta em postos da cidade
Após a campanha “Imuniza JF” realizada no sábado passado (20), os juiz-foranos têm enfrentado dificuldades para se vacinar contra a meningite C no município. Relatos de leitores dão conta de que o imunizante está em falta em diversos postos de Juiz de Fora, questão verificada também pela Tribuna, que visitou alguns desses locais. A falta de oferta da vacina ocorre após o mutirão realizado na semana passada, quando foram aplicadas mais de 37 mil doses diversas na população, sendo 8.770 referentes à Meningocócica C.
Na última terça-feira (23), a Tribuna esteve em algumas das unidades onde havia relatos de falta de imunizante contra a meningite. Na UBS Centro-Sul, o desabastecimento pegou muitas pessoas desprevenidas, que se deslocaram ao local para se vacinar. Foi o caso de Maria Clara de Melo, de 19 anos. “Eu fiquei na fila, mas aí me falaram que não tem a vacina contra a meningite e também não tem previsão de chegada”, relatou à reportagem. Ela, no entanto, não perdeu a viagem por completo e aproveitou para receber a bivalente contra a Covid-19.
Uma idosa de 70 anos, que optou por não se identificar, contou que está procurando a vacina desde semana passada. Ela foi ao Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais, na unidade do Hospital Universitário da UFJF do Bairro Santa Catarina, região central, ao Departamento de Saúde do Idoso e à UBS Centro-Sul, mas não conseguiu se imunizar. “Estou atrás da vacina e não estou conseguindo. Lá no Hospital Escola (HU-UFJF), uma médica falou que é para voltar outro dia, mas é a terceira vez que mandam a gente voltar tal dia e não aparece a vacina”, reclama.
Na UBS do Bairro Benfica, na Zona Norte de Juiz de Fora, o imunizante também está em falta. Aos 58 anos, Valéria Maria dos Reis aproveitou que o público-alvo de vacinação contra meningite foi ampliado recentemente, mas também não conseguiu se imunizar porque a vacina havia acabado na unidade. “Eu saí correndo do trabalho. Pedi até pra sair mais cedo para poder tomar a vacina contra a meningite, porque falaram que estava liberada para a minha idade. Cheguei aqui no posto e não tem. A moça falou que já fez o pedido, mas não sabe quando vai chegar.”
Aos 81 anos, Enio Dutra está com o cartão de vacinação em dia, faltando apenas a vacina contra a meningite. Por não ter conseguido participar do mutirão no último sábado, ele tinha a expectativa de se vacinar essa semana, mas se surpreendeu ao ir ao Departamento do Idoso e não encontrar o imunizante, além de não ter sido informado sobre previsão de disponibilidade. “Estou preocupado com a chegada do tempo frio e com um possível agravamento da situação.”
Novas doses previstas para essa sexta
Questionada sobre a falta do imunizante contra a meningite no município, a Secretaria de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), por meio da Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Juiz de Fora, informou que 19 mil doses da Meningocócica C estavam previstas para chegar nesta quinta-feira (25) na regional. O imunizante estaria disponível para os municípios a partir desta sexta (26).
Já a Secretaria de Saúde (SS) da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) informou que está aguardando a reposição de doses da vacina contra meningite por parte do Governo estadual para a regularização do estoque. Como destacado pela pasta, o imunizante foi um dos mais procurados durante o mutirão de imunização que ocorreu no último sábado. “A expectativa é de que a entrega seja feita nesta sexta-feira, com o pleno restabelecimento de oferta nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) na próxima semana”, apontou em nota.
Esta é, pelo menos, a segunda vez que a vacina contra a meningite está em falta na cidade. No final de abril, a Tribuna publicou uma reportagem trazendo relatos de leitores que também não estavam conseguindo ter acesso às doses em diferentes postos de vacinação em Juiz de Fora.
Três casos de meningite este ano
Até a última terça-feira (23), Juiz de Fora registrou três casos confirmados de meningite no município, de acordo com dados da SES-MG. Em 2022, considerando o ano todo, foram 15 casos confirmados, além de quatro óbitos causados pela doença na cidade.
Apesar de o número ser baixo nesses primeiros cinco meses do ano, é possível que uma mudança no cenário seja percebida nos próximos meses. De acordo com o infectologista Rodrigo Daniel, responsável pelo Setor de Vigilância em Saúde do HU-UFJF, os casos de meningite ocorrem principalmente no inverno. Além disso, os dados disponibilizados pela SES-MG não fazem diferenciação dos tipos de meningite ocorridos no município. Além da meningocócica tipo C, para a qual a vacinação está sendo disponibilizada, há outras como a pneumococo e a tuberculosa.
“É uma doença que, apesar de não ser muito frequente, quando aparece, normalmente ela é muito grave, principalmente se não for diagnosticada rapidamente. É importante se vacinar para a meningite porque, além do risco, também reduz a transmissão.”
Conforme o especialista, a transmissão é feita por meio de gotículas. Isso pode ocorrer, inclusive, por pessoas assintomáticas, que carregam a bactéria na garganta mesmo sem desenvolver a doença. “É uma doença que pode ficar espalhando não só pela pessoa doente, mas também por uma pessoa que pode estar levando essa bactéria na garganta, sai passando para frente, sem ter culpa nenhuma e sem ter sintoma”, explica.
Em Minas Gerais, foram 223 casos confirmados em 2023, além de 24 óbitos. O número representa quase 30% do que foi registrado durante todo o ano passado, quando o estado contabilizou 773 confirmações de meningites e 118 mortes.
Baixa cobertura vacinal
A cobertura da vacina Meningocócica C em Minas Gerais, este ano, ainda está abaixo da meta preconizada pelo Ministério da Saúde, de 95%. De acordo com a SES-MG, até março deste ano, apenas 79,82% de crianças menores de 1 ano se vacinaram. Em crianças de 1 ano, a cobertura estava em 76,63%. Conforme a pasta, os dados foram apurados no dia 18 de maio e estão sujeitos a alterações.
De acordo com o infectologista Rodrigo Daniel, o Brasil passou por um período com forte movimento antivacinas, que ainda vem refletindo nas coberturas e pode mostrar seus efeitos prejudiciais futuramente.
“Enquanto outras pessoas continuam se vacinando, existe uma proteção de rebanho. Então, quando muitos se vacinam, mesmo se você não tomar a dose, provavelmente não vai desenvolver a doença. O problema é que outras pessoas vão aderindo a isso (movimento antivacina) e a cobertura vai caindo e essa proteção de grupo some. Daqui para frente, vamos começar a perceber, no futuro, casos de pessoas que não se vacinaram e têm formas graves de doenças que eram preveníveis”, explica.