Suspeitos de crime no Aeroporto aguardam decisão sobre prisão preventiva
Mãe pede justiça pelo filho, vítima de assassinato; crime é apurado pela Polícia Civil
Por volta das 2h da madrugada do último domingo (23), Ana Maria Ribeiro de Mendonça recebeu uma ligação telefônica que informava o assassinato de seu filho, Sebastião Felipe Ribeiro Ladeira, de 37 anos, encontrado já sem sinais vitais na Rua Otávio Fernandes Coelho, no Bairro Aeroporto, Cidade Alta, próximo à casa noturna Madeira’s Lounge, onde estava momentos antes. Um vídeo gravado por populares e divulgado nas redes sociais mostrava o crime e a participação – direta ou indireta – de oito pessoas. A mãe chegou a ter acesso à gravação, mas revela não conseguir ver tamanha violência que ceifou a vida do filho. Sebastião deixa três filhos, quatro irmãos, uma tia e uma mãe – que hoje buscam por justiça.
Todos os cinco presos por suposto envolvimento no crime, até o momento, tiveram a prisão em flagrante mantida durante audiência de custódia na tarde desta segunda-feira (24), sem a decisão sobre a prisão preventiva anunciada até o início da tarde desta terça-feira (25). O promotor de justiça Leonardo Marques de Jesus Pinto requereu a conversão para prisão preventiva dos suspeitos, o que faz com que os homens, que foram detidos em flagrante, agora sejam encaminhados ao sistema prisional da cidade.
A Delegacia Especializada de Homicídios, a partir de agora, tem cerca de dez dias para investigar o caso que a família acredita ter sido premeditado. Segundo eles, um dos suspeitos do crime teria um relacionamento com a ex-mulher de Sebastião – o que, para a família, é difícil acreditar que seja uma coincidência. A Polícia Civil, no entanto, ainda está aberta para todas as hipóteses e diz estar averiguando dinâmica e motivações do caso, conforme informou à Tribuna durante coletiva de imprensa também nesta segunda.
No momento, os investigadores buscam construir uma linha do tempo desde o momento em que Sebastião chega na casa de shows, por volta das 23h, até o momento em que ele sai e quando acontece o crime. Um representante da casa noturna foi até a delegacia para disponibilizar gravações internas do local, que mostrariam o momento em que a briga entre vítima e um dos suspeitos é iniciada.
O conflito teria levado à expulsão de Sebastião e um suposto fechamento das portas da boate. A ordem, segundo relatou um segurança à polícia, era que ninguém mais saísse ou entrasse na casa de show. Já as imagens externas estão sendo disponibilizadas por testemunhas e ainda não está construída uma exata cronologia dos fatos. Entre os registros, estão da vítima correndo próximo ao Estádio Municipal e, em outro vídeo, ela aparece sendo retirada do porta malas de um carro e, em seguida, jogada no chão.
Ainda conforme um desses registros, Sebastião foi chutado por quatro homens, com idades entre 26 e 31 anos. Nas imagens também aparece um dos sócios da casa noturna, 29 anos, e três seguranças, 26, 43 e 29 anos, na cena do crime.
Notas da casa de shows e da defesa de quatro suspeitos
A casa de shows Madeira Lounge publicou uma nota (na íntegra, ao final desta matéria), no domingo, em que lamenta o ocorrido. “Diante de uma briga iniciada no interior da casa, nossa equipe de segurança agiu prontamente para conter a situação e retirar os envolvidos, seguindo todos os procedimentos adequados. Infelizmente, após a saída do estabelecimento, um episódio de violência ocorreu na via pública, resultando em uma tragédia que nos choca e entristece profundamente”, diz trecho do texto.
“O Madeira’s Lounge vem a público manifestar seu mais profundo pesar e indignação pelos atos de violência ocorridos na madrugada de ontem (22/03/2025). Prezamos pela segurança e pelo bem-estar de nossos clientes e colaboradores, e temos protocolos rigorosos para evitar qualquer tipo de conflito dentro de nossas dependências. Diante de uma briga iniciada no interior da casa, nossa equipe de segurança agiu prontamente para conter a situação e retirar os envolvidos, seguindo todos os procedimentos adequados. Infelizmente, após a saída do estabelecimento, um episódio de violência ocorreu na via pública, resultando em uma tragédia que nos choca e entristece profundamente. Reforçamos que não compactuamos com qualquer ato de violência e que estamos colaborando com as autoridades para a elucidação dos fatos. A segurança e a integridade de todos sempre foram e continuarão sendo nossas prioridades. Nos solidarizamos com a família e amigos da vítima neste momento difícil. A casa não irá funcionar no dia de hoje (23/03)”, diz a nota completa.
Conforme o boletim de ocorrência, os três seguranças da boate e um dos sócios foram apontados como suspeitos de serem co-autores de homicídio por omissão. Conforme relatado à polícia, eles teriam testemunhado que, mesmo após a vítima estar desacordada, os golpes continuaram a ser dados pelos suspeitos. Como, em nenhum momento, eles teriam interferido ou tentado impedir os agressores, também foram presos. Já os outros três envolvidos ainda não se apresentaram à polícia.
A Tribuna entrou em contato com a advogada da casa de shows. Tanto os seguranças quanto o sócio do estabelecimento estão sendo representados pelo escritório de advocacia Coimbra, Ferolla & Viana Advogados, que divulgou posicionamento, também por meio de nota.
“O escritório de advocacia responsável pela defesa de Victor Oliveira Assis Madeira, João Pedro Lopes da Silva Souto, João Carlos de Oliveira e Rafael Jefferson de Souza Venâncio, de início, manifesta sua profunda solidariedade aos familiares e amigos de Sebastião Felipe Ribeiro Ladeira, lamentando profundamente os acontecimentos da madrugada do último domingo. Repudiamos veementemente as graves agressões sofridas pela vítima, bem como qualquer ato de violência! No entanto, é importante esclarecer que nossos assistidos não participaram das agressões ou do suposto atropelamento que culminou na morte de Sebastião Felipe. Importante destacar também que desde o início das investigações, nossos assistidos colaboraram integralmente com as autoridades, fornecendo informações essenciais sobre os reais responsáveis pelos fatos e auxiliando na localização de um dos veículos envolvidos. Além disso, permaneceram no local dos acontecimentos, sem qualquer tentativa de evasão ou obstrução da Justiça. A defesa confia que, com o avanço da apuração, restará demonstrado que os nossos clientes não possuem qualquer responsabilidade penal pelos trágicos fatos ocorridos. Reiteramos nosso compromisso com a verdade e com o devido processo legal, ao mesmo tempo em que nos solidarizamos com todos os afetados por essa lamentável ocorrência e nos colocamos à disposição das Autoridades”, informou a advogada em nota enviada à imprensa.
A defesa do quinto suspeito, Ricardo Venturini Matozinhos Matos, Eloi Hildebrando Advocacia Personalizada, afirma que se manifestará apenas dentro do processo. “Ressaltamos que temos plena confiança na justiça brasileira”, completa em nota.
Manifestação contra assassinato de Sebastião
Familiares e amigos de Sebastião realizaram manifestações em frente à 1ª Delegacia Regional de Juiz de Fora, no Bairro Santa Terezinha e em frente ao Fórum, na região central da cidade. Eles exibiram cartazes, com o nome de Sebastião, e cobraram justiça. Em conversa com a Tribuna, familiares disseram que o que foi feito é uma covardia da qual Sebastião não teve como se defender. Os amigos desejam, agora, que a prisão dos suspeitos seja mantida. “Vocês têm prova do massacre”, disse uma tia sobre o vídeo.
Tópicos: aeroporto / homicídio / Polícia Militar