Companhia da PM fecha as portas no Bom Clima
Comando garante que decisão faz parte de reestruturação do policiamento e que não haverá prejuízo para segurança. Situação é considerada diferente do Centro, onde nova sede pode ser reaberta
A Polícia Militar deixa de ter mais uma sede física em Juiz de Fora. Foi anunciado nesta sexta-feira (23) o fechamento da 31ª Companhia, sediada na entrada do Bairro Bom Clima, e responsável pelo policiamento de todos os bairros da região Nordeste da cidade. A unidade policial passa a funcionar dentro da sede do 2º Batalhão, no Bairro Santa Terezinha, onde também já está sediada a 30ª Companhia, fechada em dezembro e responsável pelo policiamento no Centro. Conforme a PM, a extinção da sede da 31ª Companhia se deu depois de um estudo que busca otimizar os recursos da corporação. A PM garante que a decisão vai liberar policiais que ficavam no setor administrativo para o policiamento ostensivo nas ruas, porém, a população teme pela falta de segurança e de proximidade com os militares. A manutenção da sede era feita pela Associação dos Moradores do Bairro Bom Clima. Em pouco mais de um ano, esta é a terceira companhia do município que deixa de estar nos bairros para ser recolhida para dentro dos batalhões. A outra foi a 269ª Companhia, que saiu do Bairro Monte Castelo, Zona Norte, para funcionar dentro do 27º Batalhão, em Nova Era, mesma região. Os motivos para os fechamentos das sedes, porém, são diferentes.
De acordo com o assessor organizacional da 4ª Região da Polícia Militar (4ª RPM), major Jovanio Campos, a extinção da sede da 31ª Companhia faz parte do projeto da PM de melhoria da gestão de seus recursos. “Quando se deixa uma unidade funcionando, gasta-se um efetivo 24 horas para estar dentro desta sede. Como o 2º Batalhão é muito perto de onde funcionava a 31ª Companhia, não haverá prejuízo para a comunidade. Ao contrário, vamos ter, no mínimo, mais dez policiais nas ruas. Eles antes estavam em funções administrativas na antiga sede. Certamente vai existir a sensação de insegurança, mas a população pode ficar tranquila. O serviço policial não deixa de ser feito, ele será inclusive otimizado com os policiais de pronto nas ruas”, pontuou.
Conforme nota da PM, a 31ª Companhia tem um efetivo total de 98 policiais militares, sendo 80 na sede, nove no Destacamento de Coronel Pacheco e outros militares em Chácara. Em Juiz de Fora, os bairros que estão sob a responsabilidade da unidade são: Mariano Procópio, Democrata, Santa Terezinha, Centenário, Eldorado, Alto Eldorado, Vista Alegre, Nossa Senhora das Graças, Quintas da Avenida, Bom Clima, Bandeirantes, Vivendas da Serra, Parque Guarani, Granjas Betânia, Recanto dos Lagos, Grama, Vila Montanhesa, Nova Suíça, Parque Independência, Jardim Emaús, Granjas Guarujá, Enseada Ecológica, Granjas Triunfo, Vila dos Sonhos, São Luiz, Filgueiras, Terras do Comendador, Nova Gramado, São Conrado.
A notícia do fechamento repercutiu de forma negativa entre moradores e comerciantes de todo o entorno. O temor deles é com o possível aumento da criminalidade, principalmente relacionada a ocorrências como furtos e roubos a pedestres e contra o patrimônio. “Investem tanto dinheiro para depois abandonar o posto? Estamos preocupados sim, pois pode despertar o interesse dos bandidos para a área agora”, disse a aposentada Maria do Socorro, 59, moradora do Bom Clima há 34 anos. “Nunca fomos assaltados, mas agora temos receio de a ausência do posto despertar o interesse dos bandidos”, lamentou. Outro morador do bairro, o estudante Lucas Alaf, 22, disse que vive no local há um ano, e jamais soube de qualquer risco. “Aqui é muito tranquilo, até mesmo a noite. Vez ou outra estaciona algum carro suspeito nas ruas mais distantes, mas a polícia está presente com as rondas, inibindo qualquer abuso. Agora, não sabemos se vai continuar assim.”
Preocupação também dos comerciantes no entorno. Proprietário de um petshop na Rua Paracatu, o veterinário Felipe Silveira, 32, lamentou a situação. “Já tivemos assaltos em lojas aqui perto, e o posto da polícia era a nossa referência, até mesmo para um tempo de resposta menor e reduzir a chance de assaltos. Agora, sem a presença dos policiais de forma constante, não sei como será.”
O presidente da Associação de Moradores do Bairro Quintas da Avenida, Edelson Gleik, avalia que haverá interferências na sensação de segurança. “Esta companhia é muito importante, não só para o Bom Clima e Quintas da Avenida, como também para os bairros Bandeirantes, Parque Guarani e Vivendas da Serra. Por mais que continuem fazendo patrulhamento, não será a mesma coisa.” Segundo ele, a comunidade ficou sabendo, meses atrás, que havia um estudado em andamento da Polícia Militar sobre a possibilidade de fechamento, mas a concretização não era esperada.
Major Jovanio Campos pontuou que a mudança é definitiva e que não há chance de a companhia voltar para o Bom Clima. “Estamos levando em conta questões técnicas, estudos. Com os policiais dentro da companhia, não se consegue atender a maioria. Vai haver a extinção do plantão e de algumas atividades administrativas”, afirmou.
Reivindicação
Apesar da afirmação da corporação de que a mudança da sede no Bom Clima é definitiva, o deputado estadual Isauro Calais (MDB) vai reivindicar ao Estado o retorno das atividades da 31ª Companhia. Para o parlamentar, a medida pode prejudicar a segurança na região. Em um vídeo publicado em sua rede social, o deputado questiona a medida. “É esse o tratamento que o Comando da Policia Militar em Belo Horizonte está dando para Juiz de Fora? Eles estão desativando um posto falando que vão reestruturar a polícia na cidade. É uma mentira, um absurdo que temos que denunciar na Assembleia e no Estado.”
Isauro explicou que, em agosto do ano passado, quando surgiu a proposta de desativar diversas companhias de polícia, ele chegou a alertar o Governo. “Fiz uma reunião em Juiz de Fora com o Conselho Comunitário de Segurança Pública da Região Nordeste e encaminhamos ao Estado a solicitação para permanência da unidade no Bom Clima. O fechamento é uma medida ruim. Os moradores estão inseguros”, explica Isauro.
Corporação quer ativar companhia no Centro
Desde o final do ano passado, esta é a segunda companhia a ser fechada. Em dezembro, foi a vez de a 30ª Companhia da Polícia Militar fechar as portas na Praça da Estação, no Centro. Neste caso, porém, a saída da sede física aconteceu, segundo a PM, a pedido da Prefeitura de Juiz de Fora, que havia cedido, em 2011, o espaço do Edifício Wagner Pereira para a corporação e estaria pagando o aluguel até então. Na época, a saída da Companhia da praça, um dos pontos de maior movimento do Centro, preocupou a população. Conforme o assessor organizacional da 4ª Região da Polícia Militar (4ª RPM), major Jovanio Campos, estão sendo estudados outros possíveis locais para abrigar a unidade. “Alguns lugares já foram ofertados para nós, porém, nenhum era adequado. É preciso que se tenha dois principais princípios: o de acessibilidade e de visibilidade. A volta não está descartada”, comentou o assessor.
No caso da 269ª Companhia, que faz policiamento em parte dos bairros da Zona Norte, a informação da PM é de que a sede do Monte Castelo foi fechada pois o local não tinha condições físicas para abrigar uma unidade policial. A mudança aconteceu no início de 2017. “Não havia alojamentos separados para policiais masculinos e femininas, não havia espaço de treinamentos e para guardar as viaturas. Para se ter ideia, uma viatura chegou a ser queimada do lado de fora da companhia em um possível ato de vandalismo”, disse o major. Desde então, todos os recursos policiais passaram a ficar dentro do 27º Batalhão. No momento, segundo a PM, não tem nenhum projeto para que a unidade volte a ter uma sede fora do batalhão.
Bases móveis não têm data para chegar a JF
Juiz de Fora estava cotada para ser uma das primeiras cidades do interior mineiro a receber o projeto das bases móveis, já em funcionamento em Belo Horizonte. Porém, a assessoria da PM em Juiz de Fora afirmou não haver previsão para que os veículos cheguem ao município. O programa do Governo do Estado “Mais Segurança” prevê a instalação de bases móveis de segurança em vários pontos da cidade. Na capital são 86 vans. Com a chegada dos veículos, a estrutura física e o patrulhamento da Polícia Militar de Juiz de Fora iriam passar por modificações.
Em Belo Horizonte, as bases funcionam das 14h às 23h30. Segundo a PM, é neste período que ocorre a maioria dos crimes. Até o lançamento do programa, em agosto do ano passado, estava prevista a substituição de dez das 24 companhias da capital mineira pelas bases. Após uma polêmica com a população, que temia pelo fechamento das sedes, a PM adiou a possível mudança e afirma que ela será avaliada apenas após um estudo. A ideia é que as unidades tivessem suas administrações centralizadas. A PM apostava que o fechamento das companhias iria liberar mais policiais para as ruas.