PM adota bases móveis e revê eficácia de companhias fixas
Programa “Mais Segurança” foi lançado nesta segunda em BH e será levado para cidades como Juiz de Fora e Uberlândia. Previsão de encerrar ações em algumas companhias provocou polêmica, e proposta ainda será avaliada
A estrutura física e o patrulhamento da Polícia Militar de Juiz de Fora devem passar por modificações a partir do início de 2018. Assim como em Belo Horizonte, a cidade vai receber o programa do Governo do Estado “Mais Segurança”, que prevê a instalação de bases móveis de segurança em vários pontos da cidade. O lançamento do projeto e entrega dos veículos aconteceu na segunda-feira (28), em Belo Horizonte, onde irão funcionar 86 vans. A expectativa da PM é que as primeiras cidades do interior a receberem o projeto sejam Juiz de Fora e Uberlândia. Até o lançamento, estava prevista a substituição de dez das 24 companhias da capital mineira pelas bases. Após uma polêmica com a população, que temia pelo fechamento das sedes, a PM adiou a possível mudança, e afirma que ela será avaliada apenas após um estudo que dura até dezembro. Fontes extraoficiais apontam que, com o novo sistema de patrulhamento ostensivo, pelo menos duas das sete companhias de Juiz de Fora poderiam deixar de ter suas sedes físicas.
Em Belo Horizonte, as bases funcionarão das 14h às 23h30. Segundo a PM, é neste período que ocorre a maioria dos crimes. Conforme a PM, ainda não existe uma definição sobre as dez companhias de Belo Horizonte, mas elas devem ter suas administrações centralizadas. A escolha dos locais, segundo a PM, se deu por questões ergométricas, já que algumas destas companhias estão em pontos de difícil acesso ou mesmo muito próximas aos batalhões. Até o momento, a PM apostava que o fechamento das companhias iria liberar mais policiais para as ruas. “Ainda está em estudo a questão do fechamento das companhias, reforçamos que nada acontecerá sem o conhecimento da comunidade, estão sendo feitas várias reuniões. Os resultados do programa também serão estudados, e o horário de funcionamento pode mudar”, disse o assessor de comunicação da PM, major Flávio Santiago.
Segundo o major Santiago, a criação de Bases de Segurança é uma maneira de descentralizar o patrulhamento. A corporação ressaltou que a medida não significa que as companhias serão fechadas, e sim que a administração vai ser recolhida para possibilitar maior policiamento nas ruas. Com a mudança, a cada três ou quatro quilômetros na capital, o cidadão terá acesso a uma base. Além de dois militares dentro dos veículos, dois policiais em motocicletas vão ajudar no patrulhamento. Os veículos serão instalados em locais de visibilidade, maior incidência criminal e grande circulação de pessoas. De acordo com o oficial, dentro das vans, haverá câmeras de monitoramento e acesso às imagens do Olho Vivo, telefones fixos. Será possível também registrar ocorrências e até fazer termos circunstanciados de ocorrência. “Muitas companhias em Belo Horizonte têm problema de ergonomia, visibilidade, e acabam não atendendo a população da melhor forma. Já as bases estarão em pontos estratégicos, estudados previamente, dentro dos bairros. Estarão mais próximas até da comunidade, além de liberar mais policiais para as ruas”, disse.
Segundo a assessoria da PM em Belo Horizonte, o governador Fernando Pimentel (PT), apontou que, no início do próximo ano, a proposta será levada para a região metropolitana da capital, em seguida, para o interior. A PM aposta que as primeiras cidades a terem as modificações serão Juiz de Fora e Uberlândia. Ainda não está definido quantas vans serão destinadas para Juiz de Fora. A assessoria da corporação no município não comentou sobre o assunto e esclareceu que o tema teria que ser tratado com o comando, em Belo Horizonte.
Nesta segunda-feira, durante o lançamento do projeto em Belo Horizonte, o governador voltou a falar da ampliação do novo patrulhamento para o interior: “Nós vamos estender esse esforço para todo o estado. Claro que vamos esbarrar na dificuldade de recurso, porque, evidentemente, estamos passando por um problema financeiro grave. Herdamos uma dívida, um déficit muito grande e a situação no país também não é nada confortável desse ponto de vista, mas estamos enfrentando essa dificuldade com aquilo que os mineiros sabem fazer de melhor: trabalhar.”
Polêmica
O projeto vem causando polêmica e dividindo opiniões. A mudança já foi tema inclusive de uma audiência pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Moradores da capital temem que as vans não recebam manutenção e que haja um distanciamento entre comunidade e polícia. O deputado Sargento Rodrigues (PDT) afirmou na reunião que a medida significa um retrocesso na área de segurança pública. “Vão recolher 11 companhias da Polícia Militar para dentro dos quartéis. O que o atual comando e o governo estão fazendo é um ato de covardia para com os bairros e com a população. Vão trocar uma companhia de cem homens por uma base móvel com quatro policiais, sendo dois no interior da base e dois circulando. Isso deixará esses policias em situação de vulnerabilidade no combate ao crime. Estão fazendo uma lambança”, criticou, lembrando que as companhias funcionam 24 horas.
De acordo com reportagem do jornal “Estado de Minas”, a explicação da PM para justificar um possível recolhimento de dez companhias para as sedes dos batalhões é a economia de recursos, com otimização dos setores administrativos destas unidades. A reportagem reforça, porém, que antes de definir o futuro das companhias, a PM vai analisar o desempenho do novo sistema.
PM coloca policiais da área administrativa nas ruas
Além dos militares que atuam nas companhias fixas e passarão a ir para as ruas depois da implantação das Bases de Segurança, a Polícia Militar está trabalhando para enxugar o restante do efetivo administrativo da corporação. No último dia 16, o comandante-geral da Polícia Militar de Minas Gerais, coronel Helbert Figueiró de Lourdes, anunciou que 206 policiais militares reforçarão o policiamento da capital nas próximas semanas.
Segundo a PM, os militares, que atuavam nas áreas administrativas da corporação, serão realocados em atividades operacionais compondo, inclusive, as novas Bases de Segurança. “O objetivo é potencializar a presença da PM nas ruas, trabalhando em prol do cidadão. Toda essa medida acontece em Belo Horizonte, mas vai acontecer em todo o estado. Nós estamos finalizando um diagnóstico em todas as Regiões da Polícia Militar (RPMs) em Minas Gerais, e, ao final, a mesma medida será aplicada no restante do estado. Faltam apenas duas regiões para fechar esse relatório”, afirma coronel Helbert.
Em meados de junho, o chefe do Estado-Maior da PM, coronel André Agostinho Leão de Oliveira, fez uma visita aos batalhões e companhias de Juiz de Fora, porém, a assessoria de comunicação da corporação não informou qual seria o motivo da vinda do oficial. A Tribuna não conseguiu um retorno da corporação para saber se já há mais policiais nas ruas de Juiz de Fora. O comandante-geral garantiu que todos os militares que estão sendo deslocados do serviço administrativo passarão por um curso.