Ocupação de leitos de UTI do SUS em Juiz de Fora chega a 96%
Leitos voltados para outras enfermidades atingiram o máximo de sua capacidade na noite desta segunda-feira (21)
Pelo segundo dia consecutivo, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) volta a alertar sobre a taxa de ocupação dos leitos de UTI do Sistema Único de Saúde (SUS) em Juiz de Fora. De acordo com levantamento divulgado pelo promotor de saúde Rodrigo Barros, o índice de internações chegou a 96,43% às 22h03 desta segunda-feira (22). No horário, a ocupação dos leitos voltados para pacientes com Covid-19 era de 92,85%. Já os leitos destinados aos demais atendimentos atingiram o máximo de sua capacidade, com 100% de ocupação. Os dados foram levantados no mesmo dia em que o Centro de Operações Emergenciais em Saúde do Governo de Minas sugeriu, em seu relatório técnico, que a microrregião formada por Juiz de Fora, Bicas, São João Nepomuceno e Lima Duarte retorne para a Onda Vermelha do programa Minas Consciente.
De acordo com o levantamento do MPMG, de 98 leitos de UTI disponíveis para Covid-19 na data de referência, 91 estavam ocupados. Dois pacientes haviam sido direcionados, anteriormente, para a Central de Regulação Macrorregional, para serem transferidos a outras unidades de saúde da região. Outros 88 voltados para os demais atendimentos também contavam com pacientes. Como informado pelo promotor Rodrigo Barros, destes, 15 pacientes aguardavam para serem internados em UTI. O levantamento exclui os hospitais oncológicos (Ascomcer e Instituto Oncológico).
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Ocupação dos leitos de UTI no painel gerencial
Na manhã desta terça (22), por volta de 8h20, o painel gerencial da Covid-19 em Juiz de Fora mostrava que 85,79% dos leitos de UTI pelo SUS estavam ocupados. Em toda a cidade, incluindo os leitos privados, o índice era de 87,95%. Entretanto, conforme já havia sido destacado por Barros, o sistema do painel gerencial apresenta determinadas deficiências, como o caso de leitos que estão inseridos na contagem, mas ainda não estão operando, além de levar também em conta os dados das instituições oncológicas.
O MPMG formalizou, nesta segunda, uma solicitação para que o Comitê Municipal de Enfrentamento e Prevenção à Covid-19 se reúna, em caráter emergencial, para discutir a situação. Até o final da tarde de segunda, a PJF havia informado que não havia nenhum encontro previsto para esta semana.
Leitos privados
Conforme dados divulgados pela Prefeitura na tarde de segunda-feira (21), às 18h11, a taxa de ocupação total de leitos UTI da rede privada de saúde atingiu 91,81%. O MPMG realizou levantamentos com dois hospitais particulares da cidade – Monte Sinai e Albert Sabin – e, de acordo com o promotor de saúde, eles exemplificam uma preocupação também com a rede privada.
“A situação está bem alarmante, principalmente no atendimento da Covid. Por exemplo o Albert Sabin, ontem, estava com capacidade de UTI Covid com 100% de ocupação. Os 19 leitos disponíveis estavam ocupados. No Hospital Monte Sinai, dos 16 leitos disponíveis de UTI covid, 12 estavam ocupados”, informa Barros.
Estado sugere região na Onda Vermelha
Também nesta segunda-feira, o Centro de Operações Emergenciais em Saúde do Governo de Minas divulgou um relatório técnico que sugere a regressão de onda da microrregião no Minas Consciente. O grupo de municípios é formado por Juiz de Fora, Lima Duarte, São João Nepomuceno e Bicas. Atualmente, o mesmo se encontra na onda amarela do programa estadual. Entretanto, conforme o documento do Governo, o alto índice de casos – já com reflexos nos leitos de UTI – e o avanço da doença indicam a necessidade de regressão. A microrregião formada por Leopoldina e Cataguases também deveria regredir à onda vermelha, de acordo com a sugestão do relatório técnico.
No caso de Leopoldina, o município decidiu nesta segunda que irá regredir para a onda vermelha. A prefeitura publicou um decreto com novas restrições como, por exemplo, proibição da venda de bebidas alcoólicas geladas no município e o consumo das mesmas em espaços públicos.
Na avaliação do promotor de saúde, Rodrigo Barros, “já passou o momento” de Juiz de Fora contar com medidas mais restritivas no combate à Covid-19. “O ideal é que essas medidas tivessem sido tomadas antes, para que nós não chegássemos a esse grau de saturação do sistema de saúde”, pondera. “Nós estamos vivenciando, hoje, a demora na adoção das medidas um pouco mais severas, na questão de buscar o distanciamento social da população, uma vez que vemos, em todos os lugares, aglomeração de pessoas. A cidade está funcionando normalmente e sem se preocupar com o que está acontecendo com a transmissibilidade do vírus e isso está se refletindo dentro dos hospitais”, ressalta.
Ainda de acordo com Barros, a própria onda vermelha padece de avaliações quanto à realidade do município. “Por exemplo, existe uma flexibilização para toda atividade comercial durante o mês de dezembro. Nós temos que avaliar se isso é viável dentro da nossa realidade assistencial e epidemiológica.”
De acordo com a Prefeitura de Juiz de Fora, ainda não há um parecer do comitê local sobre eventual regressão de onda no programa Minas Consciente.
Transferência de pacientes
Desde esta segunda, o MPMG também tem demonstrado preocupação quando a transferência de pacientes de Juiz de Fora para outros municípios da região por conta da alta taxa de ocupação do sistema de saúde. Como havia sido informado pela Secretaria de Saúde (SS) da PJF, a subsecretaria de Regulação acompanha a situação local e pode, mediante demanda, redirecionar pacientes para outros municípios.
Já conforme a a Secretaria de Estado de Saúde (SES), há 13 centrais de regulação no estado, além dos municípios que contam com central própria – como é o caso de Belo Horizonte, por exemplo. O fluxo regulatório para os casos de urgência e emergência, de acordo com a pasta, é iniciado a partir do pedido da unidade da rede de saúde pública do estado que atendeu o paciente. A solicitação é realizada por meio do cadastro de um laudo eletrônico no SUSFácilMG, sistema de regulação do Estado. Em seguida, o laudo é encaminhado para a Central Macrorregional de Regulação Assistencial, em que o médico plantonista avalia a solicitação e solicita acesso ao tratamento médico-hospitalar mais adequado ao estado de saúde do paciente regulado.
Após o fechamento da edição da Tribuna desta segunda, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) também se manifestou sobre a transferência de pacientes, já que a unidade conta com uma central de regulação médica. Conforme informado pela assessoria de imprensa, no caso suspeita de Covid-19, o serviço pode realizar atendimento pré-hospitalar em situações de urgência e, se necessário, encaminhar o paciente para os serviços de pronto-atendimento. Já nos casos graves da doença, o transporte pode ser direto para UTIs.
“O papel de realocar o paciente das UPAs para os hospitais é da central SUS Fácil. Quando não existem leitos disponíveis em JF, cabe a esta central alocar os pacientes para os hospitais da macrorregião Sudeste, como Santos Dumont, Leopoldina e Cataguases, por exemplo”, ressalta no texto. “O transporte de pacientes graves na macrorregião é realizado por equipes especializadas do SAMU, garantindo a qualidade do transporte e mantendo os pacientes na melhor condição possível.”