Pesquisa da UFJF conclui que pessoas com doença pulmonar obstrutiva crônica são ‘mais felizes’ com exercícios

Percepção de felicidade e escala de satisfação com a vida aumentaram em grupo de participantes que fizeram exercício físico durante o estudo


Por Elisabetta Mazocoli

22/04/2025 às 08h55

doença pulmonar obstrutiva cronica
Pesquisa acompanhou 40 pessoas no HU/UFJF (Foto: Divulgação)

Um estudo conduzido na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) concluiu que pessoas com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) se beneficiam da prática de exercícios físicos. A pesquisa começou quando o pesquisador e professor da Faculdade de Fisioterapia e do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Reabilitação da UFJF, Anderson José, teve acesso a um estudo publicado na revista The Lancet, que mostrou que pessoas com DPOC possuem uma percepção de felicidade muito baixa. Ao mesmo tempo, já foram divulgados diversos outros estudos mostrando que o exercício físico aumenta a percepção de felicidade em pessoas saudáveis. “Então, juntamos as duas coisas: se pessoas com DPOC são mais infelizes e exercícios aumentam a percepção de felicidade em pessoas saudáveis, será que o exercício físico em pessoas com DPOC podem aumentar a percepção de felicidade?”, indagou. Ele e a equipe, então, partiram para os estudos práticos com 40 pessoas, e chegaram a conclusões que serão encaminhadas a revistas científicas de todo o mundo.

O estudo trabalhou com pessoas com DPOC divididas em dois grupos: as primeiras fizeram exercício físico como reabilitação pulmonar durante 2 meses, 3 vezes por semana. Esses indivíduos realizavam práticas aeróbicas e de peso, sempre acompanhados dos profissionais de saúde. O outro grupo, por sua vez, tinha apenas o tratamento médico oferecido no HU, sem a prática de exercícios físicos. “Ao final dos estudos, percebemos que, comparando um grupo com o outro, o grupo que fez exercício físico teve um aumento da percepção de felicidade; enquanto o grupo que não fez, teve uma redução na percepção de felicidade”, explica.

Também foi feita análise de uma escala chamada de satisfação com a vida. O grupo que fez exercício também aumentou a percepção de satisfação com a vida em comparação ao grupo que não fez”, conta. Além disso, também foram atestadas outras melhorias na qualidade de vida dos indivíduos, mas que já tinham sido atestadas em outros estudos, como é o caso da tolerância ao esforço, capacidade pulmonar e resistência à fadiga.

Mas ele esclarece que, para essa população, a atividade física precisa ser supervisionada, já que a DPOC traz condições de saúde específicas que, se não observadas e com cuidados especiais, podem até piorar. “É preciso fazer esse trabalho acompanhado de profissionais qualificados para que, a partir dessa alta, os pacientes possam continuar as atividades de forma que elas tragam esses benefícios”, ressalta.

Percepção da felicidade e satisfação

A percepção da felicidade e a satisfação com a vida foram mensurados durante a pesquisa a partir de questionários internacionalmente conhecidos, inclusive aplicados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que fazem isso de forma qualitativa. São as mesmas perguntas, por exemplo, que conseguem determinar o país mais feliz do mundo ou aquele com a população com menor escala de satisfação com a vida.  

Apesar de felicidade parecer um conceito abstrato, é possível chegar a conclusões bastante interessantes entendendo que esse dado costuma depender de fatores como saúde, situação econômica, emoções positivas, relacionamentos, ambientes e orientações para o futuro e, nessa perspectiva, a felicidade seria um resultado da percepção favorável desses domínios da vida. 

“Felicidade é um tema bastante complexo. Vários pensadores tentaram definir esse sentimento. É uma pergunta que carece de uma resposta definitiva. Mas, a grosso modo, podemos definir felicidade como um sentimento de realização ou equilíbrio em vários aspectos da vida”, explica Anderson José, indicando que é assim que ela é compreendida também pela psicologia positiva.

Próximas etapas da pesquisa

Com o resultado do estudo, a expectativa dos pesquisadores é de que mais pessoas possam fazer atividade física e se beneficiar da vida ativa.

Como próximos passos, Anderson revela que é da intenção da equipe publicar e divulgar a pesquisa em uma boa revista internacional, além de ampliar os estudos qualitativos que se aprofundem sobre o que os participantes têm a dizer sobre esse domínio da vida. “Também pensamos em ampliar a pesquisa para outras populações com doenças respiratórias crônicas, como a asma”, diz.

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