Ministério Público apura mortes de dois suspeitos em ações da PM
Operações aconteceram no Filgueiras e no Linhares no fim de semana; segundo a corporação, policiais revidaram tiro e ‘iminente agressão letal’
A Promotoria de Controle Externo da Atividade Policial vai apurar as circunstâncias das duas mortes de suspeitos por tiros disparados por policiais militares em ações desencadeadas no último fim de semana em Juiz de Fora. Os óbitos aconteceram sábado (18) e domingo (19) nos bairros Filgueiras, Zona Nordeste, e Linhares, na região Leste, respectivamente. No primeiro caso, a PM afirmou que um homem, de 27 anos, com suposta ligação com a principal facção criminosa do Rio de Janeiro e foragido da Justiça “investiu contra a equipe, apontando arma de fogo para os policiais que, no uso adequado e necessário da força, revidaram a injusta e iminente agressão letal”. Já sobre a outra ocorrência, a corporação relata que um procurado por envolvimento em homicídio ocorrido momentos antes, de 25 anos, “apontou a arma em direção aos policiais e efetuou disparo, tendo sido a injusta e real agressão letal repelida pelos militares”. Os outros três suspeitos do assassinato de um jovem, 19, acabaram presos.
As mortes em ações policiais chamaram a atenção por terem ocorrido em dois dias consecutivos, em meio à preocupação das autoridades ligadas à segurança pública com a recente chegada a Juiz de Fora e região de integrantes da principal facção sediada em São Paulo, em meados do ano passado. A migração resultou em execuções de possíveis membros da organização fluminense já instalados na cidade e em revides motivados pela disputa por pontos de vendas de drogas na cidade. Para frear essa onda de homicídios, a PM passou a ocupar as localidades consideradas mais violentas. Embora Juiz de Fora não tenha histórico de muitas mortes em investidas policiais, ao contrário dos grandes centros urbanos, como o Rio, a nova realidade criminal no município – com bandidos cada vez mais armados, ousados e envolvidos com grandes facções – já dá indícios do possível aumento dos confrontos entre militares e suspeitos durante atividades repressivas. Também nesse fim de semana, dois suspeitos foram baleados na rodovia MG-120, na altura de Ubá, em combate a organizações criminosas realizado pela PM e pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP.
Procurado pela Tribuna, o promotor de Controle Externo da Atividade Policial, Hélvio Simões Vidal, informou que iria ter acesso aos Registros de Eventos de Defesa Social (Reds) relacionado às mortes de suspeitos nas duas ações da PM para apurar as circunstâncias. O porta-voz da 4ª Região da PM, major Alexandre Antunes, também garantiu que todas as ações que resultam em óbitos são apuradas em Inquérito Policial Militar, encaminhados à Justiça Militar. Os casos também foram conduzidos para investigação na Polícia Civil. A reportagem questionou o porta-voz se a letalidade das ações estaria ligada ao aumento da brutalidade e da ousadia dos criminosos, sobretudo de integrantes de facções, e como está o preparo da PM diante da nova dinâmica criminal, mas não obteve retorno até o fechamento da matéria.
SUV blindado e pistola com mira a laser
A ocorrência que terminou com o óbito de um suspeito no Linhares começou com o assassinato de um jovem, de 19 anos, executado a tiros por criminosos na Rua Frederico Imbrosio, pouco antes das 14h de domingo. O crime teria sido praticado por quatro homens armados, ocupantes de um SUV prata. Três deles desembarcarm armados, vestindo roupas camufladas e pretas, colete balístico e toucas ninja, e abriram fogo contra o rapaz, que estava na laje de uma residência. Ele ainda tentou escapar dos disparos, mas caiu em um beco, onde foi novamente alvejado, não resistindo às balas.
A perícia da Polícia Civil recolheu cápsulas de pistolas 9mm e 380. A PM iniciou rastreamento e avistou o veículo suspeito em fuga pela Rua Diva Garcia, sentido Vitorino Braga. A perseguição contou com apoio de helicóptero. Ao chegar a uma rua sem saída, o bando desembarcou e se dispersou a pé. Conforme a PM, nesse momento um dos fugitivos efetuou disparo em direção à equipe, que revidou com seis tiros de carabina, os quais não atingiram o envolvido. Em seguida, um comparsa, 20, foi preso ao sair de uma área de mata e tentar se esconder em um bar no Vitorino. Outro suspeito, 32, foi detido na Rua João Luzia, no Linhares. Um terceiro, 24, foi flagrado escondido sob a cama de uma residência invadida por ele durante a fuga, na Rua Leonel Jaguaribe, no Grajaú.
Já o quarto integrante do bando foi visto na mesma rua armado, indo em direção a uma mata. Ele recebeu ordem de parada, mas teria apontado a arma em direção aos militares duas vezes, sendo fatalmente alvejado em uma delas. A pistola 9mm usada por ele, de fabricação turca, tinha mira a laser e foi apreendida com oito munições. O veículo usado pela quadrilha no assassinato era clonado e blindado, e também foi recolhido. O mesmo SUV teria sido utilizado em um outro homicídio, no dia 16 de outubro, no Bairro de Lourdes, Zona Sudeste.
Morto no Filgueiras
Já a morte no Filgueiras aconteceu na madrugada de sábado, na Rua Angelino Beligoli. Em comunicado oficial à imprensa no mesmo dia, a PM disse ter comparecido ao bairro após o Serviço de Inteligência indicar a localização de um suspeito de ligação com facção do Rio de Janeiro, procurado por condenação a roubo, com pena de mais de 10 anos de reclusão. Ele ainda teria envolvimento com crimes de tentativa de homicídio, porte ilegal de arma, disparo e tráfico de drogas.
“Desde a última quinta-feira (16) a PM vem desencadeando ações repressivas qualificadas e operações para captura do foragido”, destacou a corporação, acrescentando ter apreendido, no dia 15, drogas e munições na casa onde ele estaria escondido no Bairro Parque das Torres, Zona Norte. O homem conseguiu escapar naquela data, mas foi pego do outro lado da cidade. “Os policiais cercaram o local e iniciaram a parlamentação, contudo, ele investiu contra a equipe.” O baleado chegou a ser socorrido pelo Samu ao HPS, mas não resistiu. Ainda conforme a PM, ele portava uma pistola 380.