Período chuvoso contribui para o aumento no aparecimento de cobras
Pesquisador da UFJF busca mapear pontos de maior incidência de serpentes para alertar e informar a população
Ao longo das últimas semanas, a Polícia Militar registrou quatro ocorrências de cobras em áreas urbanas. Uma das serpentes foi encontrada na grade de escoamento de uma residência. De acordo com a corporação, dois dos animais pertenciam à espécie conhecida popularmente como cascavel. A Tribuna conversou com especialista, que alertou sobre os cuidados que devem ser tomados para evitar acidentes com animais peçonhentos.
A elevação da temperatura e o período de chuvas são fatores que justificam o aumento do aparecimento de cobras em residências e áreas urbanas. De acordo com o biólogo e pesquisador da Universidade Federal de Juiz de Fora Henrique Caldeira, entre os meses de janeiro e abril, algumas espécies estão mais ativas e se reproduzindo, por isso é comum encontrar serpentes, principalmente filhotes. Além disso, o especialista ressalta que o verão é a época que tem mais alimentos disponíveis, como sapos, lagartos e ratos, as principais presas das cobras.
Projeto busca mapear serpentes em JF
O biólogo também é coordenador do projeto de divulgação científica “Répteis JF”, que tem o objetivo de mapear os locais de maior incidência de serpentes em Juiz de Fora. O levantamento é feito com a ajuda da população, que envia fotos dos animais em diferentes pontos da cidade, para o Instagram do projeto ou na plataforma iNaturalist.
“Na maioria das vezes, nós identificamos a serpente por meio da foto e conseguimos saber quais regiões da cidade e quais espécies estão sendo mais encontradas pela população. A ideia é conseguir, com apoio da população, mapear pontos onde tem registros de serpentes em JF”, explica Henrique.

O propósito do projeto é contribuir com políticas públicas no município para ajudar a evitar acidentes, levar conhecimento à população e incentivar uma convivência harmoniosa com os animais. “Ao saber em que região tem mais animais, conseguimos identificar se a população está encontrando mais serpentes peçonhentas, que têm veneno, ou não. No caso das serpentes venenosas, conseguimos descobrir qual é a espécie, porque o veneno delas é diferente. Dessa forma, podemos ajudar, por exemplo, alertando para a necessidade de ter mais estoque de soro para cascavel no hospital, caso tenha mais registros de cascavel na cidade.”
Além disso, o pesquisador também propõe, como medida preventiva, colocar avisos nas regiões de maior incidência de cobras, para alertar a população a ter cuidado e olhar para o chão. “Com o tempo, a ideia é construir isso junto com a comunidade e a Prefeitura, para termos uma convivência melhor com os bichos. Não tem porque exterminar os animais. Temos que conviver, porque, na prática, estamos invadindo o ambiente dele, e as serpentes são importante para o equilíbrio do ecossistema”, reforça o biólogo.
Maioria das espécies na região não é venenosa
Até o momento, o projeto registrou maior aparecimento de serpentes em regiões periféricas da cidade. Segundo o especialista, esse resultado pode estar ligado ao fato de as áreas periféricas terem mais ambientes com fragmentos de florestas e lotes vagos, regiões em que os animais conseguem sobreviver.
Em Juiz de Fora, conforme o mapeamento, há 30 espécies diferentes de serpentes. A maioria não tem veneno. “Há cerca de cinco espécies com veneno na região, sendo duas mais comuns: a jararaca e a cascavel. As outras, a grande maioria não tem veneno e não faz mal nenhum”, esclarece Henrique.
De acordo com o pesquisador, algumas serpentes são frequentemente confundidas com jararaca e cascavel, por imitar as peçonhentas para se proteger. “Em alguns momentos, elas acabam sendo mortas porque a pessoa confunde, acha que é uma cobra perigosa. Então a ideia do projeto é conseguir, aos poucos, conscientizar a população de que nem toda cobra é venenosa”, afirma.
Atenção e cuidados necessários
Ao se deparar com uma cobra em um ambiente que possa oferecer risco, a Companhia de Meio Ambiente da Polícia Militar orienta a população a acionar seus serviços ou a Guarda Municipal Ambiental pelo telefone 153. Nos casos em que a serpente estiver em um ambiente natural, a recomendação é de apenas manter distância de segurança e nunca matar o animal.