Sem parceria pública, hospital busca investidores para ser concluído
Obras do Hospital de Saúde Linus Pauling seguem paradas há 7 anos no Cruzeiro do Sul, mas há expectativa para retomada

Com as obras paralisadas há sete anos por falta de recursos financeiros, o Hospital de Saúde Linus Pauling, que conta com cerca de 140 associados, busca investidores para finalizar o projeto, iniciado em 2010 no Bairro Cruzeiro do Sul, entre o final da Avenida Rio Branco e a Estrada Joaquim Vicente Guedes, que leva ao Graminha. Em entrevista à Tribuna, o presidente da instituição, Paulo César Tostes, comentou a falta de avanço em conversas com a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), que planeja a mudança de endereço do atual Hospital de Pronto Socorro (HPS). Apesar disso, a expectativa é que o prédio de oito andares, com subsolo, já erguido atrás do Carrefour, seja comprado ainda neste ano. O empreendimento, avaliado em R$ 75 milhões, tem 30 mil metros quadrados de área construída, em terreno de 15 mil metros quadrados, que conta com estacionamento e mais três mil metros quadrados de área para possível expansão, além de estrutura para heliponto.
No projeto idealizado pelos associados, a unidade hospitalar terá 250 leitos, 11 salas de cirurgias e 15 consultórios para atendimento de emergência e consultas; oferta de serviços de imagem, tomografia computadorizada, ressonância magnética, hemodinâmica e laboratório. Também haveria, pelo menos, 40 leitos de UTI, uma das principais demandas do município. No dia 15 de julho, por exemplo, um idoso, de 63 anos, morreu após passar seis dias internado na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Bairro Santa Luzia, enquanto aguardava transferência para um leito de tratamento intensivo. A família aponta negligência do sistema de saúde municipal, já que o paciente possuía liminar judicial que determinava a remoção imediata para um hospital com estrutura adequada.
Embora seja um negócio particular, que não impacta diretamente no atendimento aos usuários do SUS, a conclusão do Linus Pauling poderia contribuir para desafogar a rede hospitalar de Juiz de Fora. Questionada sobre alguma possível parceria público-privada para o término dessa obra milionária, a PJF reiterou que, pelo fato de o hospital ser um empreendimento privado, não há participação do Município em sua construção, gestão ou financiamento. “A prioridade da atual gestão é a conclusão das obras do Hospital Regional (na Zona Norte), equipamento público estratégico para a saúde da população. Com sua finalização, será possível realizar a transferência do Hospital de Pronto Socorro Dr. Mozart Teixeira (HPS), garantindo melhores condições de atendimento à rede de urgência e emergência”, justificou o Executivo, por meio de nota.
Para a população, entretanto, a finalização do hospital na Zona Sul seria importante. “Não sabemos se a obra vai para frente ou se vai ficar do jeito que está. Costumo ver um vigia, porque moro no Graminha, mas tem muitos anos que não vejo movimento de gente trabalhando. A conclusão do hospital é uma coisa que os moradores esperam muito”, comenta a dona de casa Sônia Maria Nunes, 56 anos.
Impeachment e pandemia levaram à paralisação da obra
A previsão de entrega inicial da obra do Hospital de Saúde Linus Pauling era 2013. Até 2016, cerca de R$ 32 milhões foram investidos, mas a inauguração prevista para 2018 não aconteceu. Ao contrário, naquele ano, os trabalhos foram interrompidos, com mais de 90% da construção civil finalizada. Levando em conta os acabamentos e a estrutura completa necessária para o funcionamento do hospital, com as partes elétrica e hidráulica, cerca de 40% do projeto foram concluídos. “O que motivou a interrupção da construção foi justamente a questão econômica do Brasil. Em 2016, tivemos o problema de mudança de Governo, com o impeachment (da presidente Dilma Rousseff). E, depois, (em 2020), veio a pandemia, que foi o segundo fator determinante para dificultar a conclusão da obra”, explica o médico Paulo César Tostes.
Entre os cerca de 140 associados, há médicos e outros profissionais da área de saúde. “Foi uma opção dos sócios, em assembleia, interromper a obra e esperar o que aconteceria na economia na época, mas, logo em seguida, veio a pandemia”, reforça o presidente do Linus Pauling. “A ideia agora é trabalhar a venda do projeto, como hospital, ou, eventualmente, mudar a característica do empreendimento, isso é uma possibilidade. Mas, a princípio, temos negociado com investidores externos como hospital. Inclusive, já tivemos contato com a Prefeitura.”
O ideal, segundo Tostes, seria conseguir um sócio-investidor para fazer um aporte financeiro e finalizar a obra. No começo das negociações, houve até interesse estrangeiro. “Estamos tendo várias conversas sobre possíveis negociações”, revela o presidente do Linus Pauling, que espera ter boas notícias até o fim deste ano.
Além disso, o fato de o hospital ainda não estar em atividade leva ao desinteresse de alguns. “Muitos investidores querem comprar uma empresa em operação, já com convênios firmados. Mas a grande vantagem é que temos zero de passivo.” A localização também é apontada como vantagem. “Temos um projeto já aprovado de a Avenida Rio Branco terminar no hospital.” Uma pequena área do terreno foi doada à PJF para viabilizar a ideia, segundo o presidente. Enquanto as obras seguem paradas, os associados pagam uma taxa de manutenção.
Hospital Regional
Assim como o Linus Pauling, as obras do Hospital Regional da Zona Norte, para onde a PJF pretende transferir o HPS, foram iniciadas em 2010, na gestão de Custódio Mattos (PSDB), e continuadas na gestão de Bruno Siqueira (MDB), sendo interrompidas definitivamente em 2017. Em 2022, foi firmado um acordo do Município com o Estado para dação em pagamento do terreno onde está a obra. O mesmo foi aprovado pela Câmara em 2023, para viabilizar a retomada dos trabalhos.
Em 2024, o Estado comunicou que não cumpriria sua parte no acordo, e o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) ajuizou ação, da qual o Município participou como parte consorte, para garantir o uso dos R$ 150 milhões do acordo de reparação com a Vale no caso de Brumadinho, na conclusão da obra. O hospital ocupa terreno de 44 mil metros quadrados e tem 29.670 metros quadrados de área construída, na Rua Henrique Burnier, próximo ao Terminal Rodoviário Miguel Mansur, no Bairro São Dimas. O projeto inicial prevê quatro blocos, com 226 leitos, pronto atendimento, salas de cirurgias, tratamentos emergenciais e outras atividades médicas.
Em maio deste ano, o Governo de Minas confirmou oficialmente que não daria continuidade às obras, alegando falhas estruturais severas na construção original. “As colunas não encontravam as vigas. Faltava ferro nas estruturas. Não podemos assumir uma obra mal executada”, declarou o secretário estadual de Saúde, Fábio Baccheretti, ao justificar a desistência da empreitada, com base em vistorias técnicas.
Um mês depois, no fim de junho, o juiz titular da Vara da Fazenda, Marcelo Piragibe, oficializou acordo para investimento mínimo de R$ 65 milhões por parte do Estado para o projeto do Hospital de Pronto Socorro Regional, sob pena de multa de 10% do valor. Durante a audiência também foi acordada a realização de um estudo técnico para avaliar a viabilidade de transformar a obra paralisada no HPS Regional.
Na ocasião, o Governo mineiro anunciou investimento de R$ 300 milhões na saúde de Juiz de Fora e região, sendo que cerca de R$ 150 milhões será investido na construção do novo hospital para fortalecer as outras microrregiões de saúde, como Bicas, São João Nepomuceno, Lima Duarte, Carangola e Leopoldina.