Motorista acusado de matar casal em acidente na Brasil é julgado nesta terça
Condutor chegou a ser preso preventivamente, mas aguardava julgamento em liberdade
Mais de dois anos após o trágico falecimento do casal Eduardo Afonso da Silva Vieira, 31 anos, e Vanessa Venazoni, 33, foi iniciada, na manhã desta terça-feira (19), no Fórum Benjamin Colucci, o julgamento do homem, 36, acusado de cometer o crime. A sessão, iniciada por volta do meio-dia, continuava até por volta das 19h, sem previsão de término. O réu, Ezequiel Einstein Assis de Castro, prestou depoimento por cerca de 40 minutos e alegou não ter ingerido bebida alcoólica e não se lembrar do momento do acidente.
Um psiquiatra, que acompanhava o denunciado de um transtorno bipolar desde 2010, foi ouvido durante o julgamento e afirmou que seu paciente fazia uso de medicamentos e que já o havia alertado que ele não poderia consumir bebidas alcoólicas enquanto estivesse sendo tratado. Ele, no entanto, não era proibido de dirigir.
A sessão
Logo após o sorteio dos jurados, os integrantes do júri popular seguiram até o local do acidente, na Avenida Brasil, próximo ao clube Tupynambás, no Poço Rico, na região Sudeste. Segundo informações do Tribunal de Júri, o deslocamento foi feito a pedido do advogado de defesa do réu. O tráfego chegou a ser fechado por alguns minutos pela Polícia Militar.
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A estudante Nathália Vieira, 24, irmã de Eduardo, afirma ter esperanças. “Nossa expectativa é de que hoje possamos encerrar um ciclo de agonia em vê-lo solto. A saudade é diária, mas queremos que a pessoa seja punida pelo que fez. Estamos confiantes de que o júri popular vai ser bom para a condenação. Só quem perdeu alguém que ama de forma brutal sabe como é.”
A vendedora Vânia Venazoni, irmã de Vanessa, diz que todos buscam a paz. “Carregamos um peso que não merecemos. Nossa família toda trabalha muito, nunca achamos que fosse acontecer com a gente. Ficamos sem chão. Mas Deus nos deu força para estarmos aqui hoje. Nossa expectativa é de que ele saia algemado e preso, com pena máxima, para mostrar a todos que existe Justiça.”
Acusado estaria embriagado e na contramão
A morte precoce dos técnicos em radiologia, casados há seis meses, causou enorme comoção. Na madrugada do dia 14 de maio de 2016, eles trafegavam em uma moto quando foram atingidos por um carro. O condutor é julgado por duplo homicídio, acusado de trafegar na contramão, acima da velocidade permitida e alcoolizado, assumindo o risco de matar, com dolo eventual. Após a colisão, Eduardo foi arremessado a uma distância de, aproximadamente, seis metros, junto com sua moto. Já Vanessa foi lançada ao Rio Paraibuna. Apesar das buscas, o corpo dela foi encontrado apenas dois dias depois, a cerca de quatro quilômetros de onde acontecera o impacto.
Segundo a denúncia do Ministério Público, o motorista retornava de uma festa em Humaitá, conduzindo seu veículo embriagado, na companhia de uma mulher e de um amigo. Depois de deixar o colega em casa, o condutor seguiu em direção a um motel, trafegando pela Avenida Brasil, acima da velocidade permitida. Ele teria invadido a contramão, colidindo frontalmente com a moto ocupada por Eduardo e Vanessa. Ainda de acordo com a denúncia, após a batida, o motorista saiu do carro e viu o motociclista ainda com vida, mas mostrou-se indiferente. Ele voltou ao carro para retirar um copo de vidro e, em seguida, fugiu a pé, ficando desaparecido por vários dias. A polícia localizou o carro com tampas de garrafas de cerveja e com odor de bebida alcoólica.
O acusado teve a prisão preventiva decretada no dia 25 de maio de 2016 e foi preso cinco dias depois. Em agosto de 2017, ele obteve alvará de soltura para responder ao processo em liberdade, concedido pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). A defesa alega ter ocorrido um acidente (homicídio culposo), negando a tese de dolo eventual, e ainda apresentou laudo particular, questionando o fato de o acusado estar em velocidade excessiva e na contramão, ao contrário do que constou a Polícia Civil.
Irmã de Vanessa faleceu em dezembro
Em meio à dor da tragédia da morte de Eduardo e Vanessa, uma das irmãs dela, Adriana, 39, não teria suportado o sofrimento e morreu no dia 30 de dezembro, segundo contou a também irmã Vânia Venazoni. “Foi muito doloroso. Ela faleceu em virtude da morte da Vanessa, do trauma que ficou. Entrou em depressão e morreu antes do Ano Novo.” Para ela, a condenação do motorista pode oferecer um pouco de alívio. “Já perdemos três partes da gente, mas queremos Justiça, para que isso não fique impune.”
Vanessa era a caçula das três mulheres e também deixou três irmãos. O mais velho deles, o empresário Adenilson Venazoni, 42, se emociona ao falar das perdas. “Infelizmente, minha outra irmã acabou falecendo de muita tristeza. Meus pais adoeceram, todos ficamos muito tristes.” Ele busca forças na filha recém-nascida e torce por um resultado no julgamento que conforte a família, deixando um recado aos motoristas: “Não bebam, não façam o que aconteceu com minha irmã e meu cunhado.”
Sonho interrompido
A batida que tirou a vida do casal aconteceu cinco dias antes da planejada mudança para o Bairro São Pedro, na Cidade Alta. Às sextas-feiras, os dois acordavam de madrugada na casa onde moravam provisoriamente, na Vila Ideal, Zona Sudeste. Eduardo deixava a esposa na residência dos pais dela, no Manoel Honório, Zona Leste, para seguir até a rodoviária, onde pegaria o ônibus para trabalhar cedo no Rio. Na noite de 14 de maio de 2016, no entanto, um carro cruzou o caminho deles. “A gente não tem paz, porque as mortes foram inesperadas. Eram muito jovens, recentemente casados e iriam se mudar para a casa que construíram. Estavam juntos há oito anos, e este era o sonho deles”, lembra Vânia.