Animais da área urbana estão sem vacina antirrábica desde 2018
De acordo com a PJF, Estado notificou Secretaria de Saúde sobre campanha, que foi adiada em razão do coronavírus; vereador protocolou representação
A última campanha de vacinação global contra o vírus da raiva – que inclui animais da Zona Rural e do perímetro urbano – ocorreu há mais de um ano e meio em Juiz de Fora. Por conta disso, o vereador Marlon Siqueira (Progressistas) protocolou uma representação, na Câmara Municipal de Juiz de Fora, solicitando que o Ministério da Saúde tome providências para a normalização da campanha.
Segundo o legislador, as doses da Vacina Antirrábica Inativada para Cães e Gatos são distribuídas anualmente há mais de 20 anos. Entretanto, desde 2018, a campanha não é realizada na Zona Urbana na cidade. “Em 2019, só foi feita na Zona Rural, e até agora não chegou à Zona Urbana. Em um período que planejamos solicitar a ampliação das vacinas, pedindo a de cinomose, por exemplo, agora, vemos que estamos retrocedendo. Isso nos distancia de uma uma meta da proteção animal que gostaríamos de alcançar e gera uma preocupação muito grande.”
Com o objetivo não só de sensibilizar o Ministério da Saúde para a necessidade de regularizar a entrega, mas também de saber qual é o alcance da gravidade dessa falta, o vereador também solicitou à Secretaria de Vigilância Sanitária da Prefeitura dados sobre os registros de casos de raiva na região.
Para Marlon, as pessoas também podem ajudar na cobrança por um posicionamento, seja buscando o contato, por meio da página do Ministério da Saúde, mas também sensibilizando os deputados federais da cidade, para que possam ajudar na interlocução entre o Município e a União. Ele, inclusive, afirmou que vai endereçar um comunicado aos representantes políticos da região.
À Tribuna, o vereador pontuou ainda que quanto mais tempo passa, maior é a possibilidade de manifestação da doença na cidade, o que pode ser agravado com a pandemia, já que, de acordo com ele, o número de animais abandonados aumentou, assim como os casos de atropelamento de animais. “Temos que renovar essa preocupação, porque é um problema que vai atingir pessoas que têm dificuldade de acesso a veterinários e também em função dos abandonos que têm acontecido, por causa da desidratação econômica.”
Riscos para os humanos
De acordo com o professor do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e doutor em Imunologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Adolfo Firmino da Silva Neto, a vacinação antirrábica visa a manter a doença controlada para a população de animais urbanos e funciona indiretamente como uma barreira de proteção para a população humana. “Mesmo que algumas vacinas possam promover uma imunidade de até três anos para a raiva, como existe a variação de resposta à vacina, nem sempre a imunização é eficaz em função de características individuais dos animais e também em função de mudanças na população de cães e gatos urbanos de um ano para o outro.” Ele também leva em consideração a reprodução desses animais. “Estes problemas são contornados com a vacinação animal de pelo menos 80% da população, todo ano”, explicou.
O professor ainda ressaltou que por falta de um censo animal na cidade, o tamanho da população de cães e gatos é desconhecido. Segundo ele, esses dados são dimensionados por estimativas, que se baseiam em um percentual do tamanho da população humana, o que pode levar a um subdimensionamento do número real de animais.
Conforme o especialista, a vacinação dos animais domésticos é uma das principais ações preventivas de saúde pública para manter também os seres humanos protegidos da raiva. “O princípio é simples: cada ano sem vacinação leva ao enfraquecimento dessa barreira protetora. Em um dado momento, ela pode estar tão fraca, que casos em animais e pessoas pode ocorrer. Cabe ainda lembrar que na Zona Rural de Juiz de Fora e cidade vizinhas foram notificados casos de raiva em herbívoros (bovinos e equinos), o que indica que o vírus está circulando próximo.”
Possibilidade de campanha após pandemia
Procurada pela Tribuna, a Secretaria de Saúde do município informou que o setor de Zoonoses recebeu, via e-mail, orientação para estruturar a campanha de vacinação antirrábica animal, com previsão de ser realizada no segundo semestre deste ano. “O informativo foi enviado pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES/MG). A campanha de vacinação antirrábica é realizada em duas etapas. Na primeira, a equipe do setor de Zoonoses traça a estratégia e realiza a vacinação na Zona Rural da cidade. Por sua vez, a segunda fase é realizada na Zona Urbana”.
A Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) confirmou a sinalização, também por meio de nota. A pasta informou, no entanto, que diante do cenário de pandemia, o Ministério recomendou oficialmente que as Vigilâncias de Saúde Estaduais avaliem a possibilidade de prorrogação da campanha para o período da pós-vigência da emergência da Covid-19. Por isso, a SES orientou os municípios a estruturarem suas campanhas para o segundo semestre.
Dados
Ainda de acordo com a PJF, em 2019, a campanha na Zona Rural aconteceu entre os dias 15 de julho e 2 de agosto, quando foram vacinados 7.063 cães e 1.052 gatos, totalizando 8.115 animais. O trabalho foi desenvolvido por duas equipes, contemplando áreas consideradas rurais e, inclusive, as que são limítrofes com as regiões dos bairros Grama, Barreira do Triunfo, Náutico e Linhares.
“A cobertura vacinal na Zona Rural ocorreu dentro do esperado pelo setor de Zoonoses. O resultado foi satisfatório, em função desta área representar maior risco epidemiológico, pela presença em maior número do morcego hematófago, principal reservatório do vírus da raiva na natureza”, destacou a Secretaria.
Ainda segundo a pasta, no último ano, Juiz de Fora não recebeu as doses necessárias para a campanha na Zona Urbana, para a qual seriam necessárias cerca de 80 mil unidades. O município explica que como a imunização é uma estratégia do Ministério da Saúde, é preciso que a pasta encaminhe as doses para o Estado, que, por sua vez, repassa aos municípios.
O Setor de Zoonoses da Prefeitura reforçou ainda que o ideal é que a campanha aconteça anualmente. “Entretanto, Juiz de Fora apresenta um cenário estável, sendo o último caso de raiva canina registrado no município em 1998.”
A Tribuna procurou o Ministério da Saúde para se posicionar acerca da distribuição de vacinas contra a raiva, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.