Rodoviários farão nova paralisação a partir das 9h desta quarta-feira
Trabalhadores do transporte coletivo urbano paralisaram atividades durante a tarde desta terça-feira; Comitê Gestor se reunirá nesta quarta
Em protesto contra a extinção da função de cobrador, os rodoviários de Juiz de Fora paralisaram as atividades na tarde desta terça-feira (16). Por mais de quatro horas, os ônibus ficaram parados nas avenidas Barão do Rio Branco e Getúlio Vargas, causando reflexos diretos no trânsito da cidade. Às 18h, a Tribuna verificou que os coletivos voltaram a circular, transportando passageiros normalmente. Uma nova manifestação está prevista para ocorrer nesta quarta-feira (17), a partir das 9h, por falta de acordo entre os funcionários e as empresas de ônibus em relação à manutenção dos cargos. A movimentação é uma resposta à decisão do Consórcio Via JF, divulgada na última semana, que retirou os cobradores dos ônibus do transporte coletivo urbano de Juiz de Fora aos domingos.
O ato dos rodoviários teve início por volta do meio-dia, na Avenida Getúlio Vargas, e se estendia à Avenida Barão do Rio Branco. Com a paralisação dos ônibus, os pontos ficaram cheios de passageiros à espera da retomada da circulação, enquanto os táxis foram disputados, assim como as corridas por aplicativo, cujos preços dispararam. O trânsito na cidade apresentava lentidão no início da tarde, especialmente nas vias de acesso à região central. Por volta das 14h30, os aplicativos do Waze e do Google Maps mostravam engarrafamentos em vias como Avenida Presidente Itamar Franco, Rua Santo Antônio, Rua São Mateus, Avenida dos Andradas e Avenida Francisco Bernardino, além da própria Avenida Barão do Rio Branco, onde os ônibus ficaram parados.
Aos 77 anos, a pensionista Maria José precisou continuar seu caminho à pé ao Centro após o ônibus em que estava parar logo depois de sair do Mergulhão. Moradora do Bairro Vivendas da Serra, Zona Nordeste de Juiz de Fora, ela aguardava o retorno da circulação dos coletivos mesmo sem ter uma previsão, já que a tarifa alta do transporte por aplicativo não era viável para que ela conseguisse retornar para casa.
Já a técnica em contabilidade Rosimar Fernandes, 62, aguardava em uma grande fila de táxi para conseguir seguir seu trajeto. Ela estava voltando para sua casa, no Bairro Bandeirantes, Zona Nordeste, quando o ônibus em que estava parou. A usuária do transporte público relatou à Tribuna que pagou sua passagem e, logo depois, precisou descer do veículo, sem que tenha recebido o valor de volta.
Desde as 13h no ponto de ônibus próximo ao Parque Halfeld, o estudante Marlon Valério, 17 anos, resolveu aguardar para retornar para sua casa, no Bairro Teixeiras, Zona Sul, já que os valores dos aplicativos de transporte particular estavam altos. Ele relatou à Tribuna que estava sem almoçar, já que, pela manhã, quando foi ao Centro, a situação estava normal.
Paralisação durou mais de quatro horas
Por volta das 16h30, a paralisação continuava, porém, os veículos começaram a ser levados para a garagem da empresa Consórcio Via JF pelos trabalhadores. Relatos concedidos à Tribuna dão conta de que a Polícia Militar teria ameaçado multar os motoristas que mantivessem os veículos paralisados nas vias.
Mais tarde, dezenas de motoristas, cobradores e manifestantes entre a própria população se juntaram e bloquearam parte do cruzamento da Avenida Getúlio Vargas com a Rua Floriano Peixoto pouco depois das 17h. Apesar de, no início da noite, alguns ônibus retomarem o transporte de passageiros, ainda não havia um consenso por parte do movimento se o mesmo continuaria. Uma hora depois, já era possível verificar a maior circulação de ônibus, inclusive pegando passageiros nos pontos da região central.
Luta pela manutenção dos postos
À Tribuna, os profissionais que participaram da manifestação alegaram que outra motivação seria a suposta demissão em massa de cobradores por parte da empresa. Relatos dão conta de que, nesta segunda-feira (15), teria ocorrido a dispensa de 20 cobradores, além de outros 40 cortes que teriam ocorrido nesta terça-feira. Sergio Pinto, motorista de 42 anos, ressaltou que, no início do ano, a Administração municipal teria alegado que não haveria demissões, porém, no cenário atual, os profissionais estão se sentindo desassistidos.
Durante a tarde, representantes do movimento se reuniram na sede da Associação das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Juiz de Fora (Astransp) para tentar um acordo. Conforme relato de um trabalhador à Tribuna, a paralisação seria interrompida apenas se houvesse uma garantia assinada por parte das empresas de ônibus de que não haverá demissão dos cobradores. “Nós só queremos que eles façam um decreto assinado, assegurando que não vão tirar os cobradores e vão manter os nossos benefícios, coisas que suspenderam do dia para a noite”, disse.
Questionados durante a manifestação, representantes do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte e Trânsito (Sinttro) negaram que teria ocorrido demissão em massa. Segundo o sindicato, a manifestação foi organizada pelos trabalhadores de forma independente, mas a entidade acompanhou o desenrolar da ação ao longo do dia.
‘Repúdio’
O Consórcio Via JF expressou “repúdio” ao movimento dos trabalhadores, apontando que a paralisação seria “ilegal” e prejudicial à população. Conforme o grupo, as negociações e as reivindicações devem ocorrer “dentro dos limites estabelecidos pela legislação vigente e pelas instâncias competentes, a fim de evitar transtornos desnecessários para toda a comunidade”. O Consórcio Via JF ainda reforçou que está aberto ao diálogo com os profissionais.
Ainda de acordo com o consórcio, não aconteceram demissões nos últimos meses, e os cobradores estão sendo capacitados e promovidos para outras funções. A respeito das mudanças no transporte coletivo, a empresa disse que os cobradores estão trabalhando normalmente nos dias úteis e aos sábados, mas aos domingos os ônibus estão circulando sem os profissionais por causa de folgas escalonadas.
A Prefeitura também emitiu nota sobre a paralisação, afirmando que “acompanha atentamente o movimento em curso, comprometida que a população de Juiz de Fora não seja lesada em seu direito ao transporte público”.
Novas reuniões
Em vídeo gravado ao lado de representantes do movimento dos rodoviários, o diretor do grupo CSC, Rafael Santana, informou que pretende se reunir com os trabalhadores nesta quarta-feira para esclarecer as questões em pauta da manifestação. “O Consórcio Via JF, pelas empresas Ansal e São Francisco, garante o emprego de todo mundo que está hoje empregado com a gente e vamos dar todas as condições de qualificações profissionais para que as pessoas cresçam dentro da empresa e que garantam os empregos. O fundamental e principal dessa reunião: os empregos estão 100% garantidos até que a pessoa se qualifique para uma nova função dentro do consórcio”, reforçou.
Ao final do dia, a PJF também informou que convocou o Comitê Gestor do Transporte para uma reunião extraordinária nesta quarta, em caráter de urgência, para discutir soluções para o problema. Em nota, o Executivo apontou que a movimentação foi feita por uma parcela dos trabalhadores que estaria descontente com as tratativas entre sindicato e representação patronal, que tratam-se de entendimentos de natureza trabalhista, nos quais “a Prefeitura não é parte”. A Prefeitura completou que a questão envolvendo a circulação dos ônibus sem cobradores aos domingos não foi comunicada oficialmente à Administração municipal.
Mapa de calor
Enquanto o serviço de transporte coletivo não estava disponível, os preços do transporte por aplicativo dispararam, por conta do aumento da procura após o início da manifestação, por volta de meio-dia. A Tribuna teve acesso a um mapa de calor desses serviços que mostra o aumento dos preços, especialmente na região central.
De acordo com a Associação dos Motoristas de Aplicativos de Juiz de Fora e Zona da Mata (AMA JF-ZM), a estimativa é de que a procura pelo serviço tenha aumentado cerca de 20% na tarde desta terça. “Se chegar no horário de pico e os ônibus continuarem parados, essa demanda pode aumentar para 60% a 80% na hora do rush, quando o pessoal estiver saindo do trabalho”, projetou o diretor Sóstenes Josué. “Esse aumento da demanda está sendo sentido não só por nós, mas acredito também que pelos taxistas e pelos clandestinos, que não deveriam estar rodando, mas também estão aí”, comenta, informando que observou muitas pessoas apelarem a veículos clandestinos para conseguirem chegar aos seus destinos.
Novo sistema de bilhetagem eletrônica permitirá pagamentos via Pix e cartão
Na mesma data em que os rodoviários paralisaram as atividades, a Astransp anunciou um novo sistema de bilhetagem eletrônica, que deve começar a operar em Juiz de Fora a partir da primeira semana de julho. Segundo a entidade, a troca do sistema representa modernização para o transporte coletivo e comodidade para os usuários.
Em nota, a Astransp afirma que a mudança visa a trazer agilidade, segurança e facilidades, representadas pelas diferentes formas de pagamentos que serão aceitas, como cartão magnético, aplicativos, QR Code e Pix. Além disso, informa, os pontos de recarga também serão ampliados. Conforme a entidade, mais de onze novos pontos de recarga serão espalhados em espaços estratégicos da cidade.
Outra mudança prevista pela Astransp é o atendimento através do chatbot, um software de inteligência artificial capaz de manter uma conversa com um usuário por meio de aplicativo de mensagens, – que estará disponível 24 horas por dia -, para buscar soluções e sanar dúvidas que possam surgir com o novo sistema de bilhetagem.
“A modernização do sistema de bilhetagem eletrônica é uma importante conquista para a cidade de Juiz de Fora, que agora terá um sistema mais moderno e eficiente, proporcionando uma melhor experiência para os usuários do transporte coletivo”, afirma Rafael Santana, presidente da Astransp.
Nota do Consórcio Via JF na íntegra:
“O Consórcio Via JF, vem, por meio desta nota, expressar o veemente repúdio ao movimento ilegal de paralisação do transporte coletivo que está ocorrendo em Juiz de Fora. O Consórcio considera essa ação altamente prejudicial à população e contrária aos princípios legais que regem o funcionamento do transporte público.
O transporte coletivo desempenha um papel fundamental na vida dos cidadãos, garantindo o deslocamento seguro, eficiente e acessível para milhares de pessoas diariamente. É inaceitável que um grupo de indivíduos tente impor suas demandas por meio de uma paralisação que ignora os canais legítimos de negociação e diálogo.
A paralisação ilegal do transporte coletivo acarreta prejuízos incalculáveis para a população, comprometendo o acesso a serviços essenciais, como trabalho, educação, saúde e lazer.
O Consórcio Via JF reconhece a importância da valorização dos direitos trabalhistas e das condições dignas de trabalho para os profissionais do transporte coletivo. Entretanto, enfatiza que as negociações e reivindicações devem ser realizadas dentro dos limites estabelecidos pela legislação vigente e pelas instâncias competentes, a fim de evitar transtornos desnecessários para toda a comunidade.
Assim, o Consórcio Via JF reconhece o direito de greve constitucionalmente garantido, desde que seja exercido em conformidade com a lei e respeitando os princípios básicos do bom senso e da responsabilidade social. Nesse sentido, a empresa reafirma seu compromisso em promover o diálogo aberto e transparente com os sindicatos e representantes dos trabalhadores, visando a busca de soluções equilibradas que atendam tanto às necessidades dos profissionais do transporte coletivo quanto às demandas da população.
O Consórcio Via JF reconhece que a valorização dos direitos trabalhistas é fundamental para garantir a qualidade de vida dos colaboradores, buscando oferecer salários justos, benefícios adequados e um ambiente seguro e saudável. Além disso, a empresa está comprometida em proporcionar condições dignas de trabalho, incluindo investimentos em capacitação profissional e a implementação de medidas que promovam a segurança e o bem-estar dos motoristas e cobradores.
No entanto, é importante ressaltar que as negociações e reivindicações devem ocorrer dentro dos parâmetros estabelecidos pela legislação trabalhista e pelas instâncias competentes, a fim de assegurar a legalidade e evitar conflitos que possam prejudicar toda a comunidade. O Consórcio Via JF reforça a necessidade de seguir os trâmites legais, como a notificação prévia de greve e a realização de assembleias para deliberar sobre os pontos reivindicados, a fim de garantir que os direitos dos trabalhadores sejam respeitados e preservados.
A empresa já instou as autoridades competentes a tomar as medidas necessárias para coibir a paralisação ilegal e garantir o restabelecimento imediato do transporte coletivo em Juiz de Fora. Além disso, solicitou que sejam adotadas providências para que casos como esse sejam evitados no futuro, fortalecendo o diálogo entre os envolvidos e promovendo soluções que atendam aos interesses de todas as partes.
Por derradeiro, o Consórcio Via JF reitera o repúdio veemente ao movimento ilegal de paralisação do transporte coletivo em Juiz de Fora e reafirma o compromisso com o respeito à legalidade, à ordem e ao bem-estar da comunidade. A empresa está atenta aos desdobramentos desse caso e disposta a contribuir para a busca de soluções justas e equilibradas que beneficiem a todos.”