Centro Socioeducativo completa 15 anos com a missão de ressocializar adolescentes
Com rotinas intensas, jovens têm atividades escolares e fazem cursos profissionalizantes enquanto cumprem medida de internação

“A política do sistema do Centro Socioeducativo trabalha realmente para acolher o adolescente e tentar interromper a trajetória infracional”, conta Osnério Abreu, diretor da unidade de Juiz de Fora, que completou 15 anos no último dia 27. Inaugurado em 2008, o Centro Socioeducativo (CSE) recebeu entre 2011 e 2023 cerca de 2.683 adolescentes. Atualmente são 41 acautelados atendidos na unidade, que tem capacidade máxima para 56 pessoas.
A medida socioeducativa pode ser aplicada por um período de até três anos, tempo máximo que o adolescente pode ficar no CSE. A rotina na unidade é ativa, recheada com atividades, de acordo com o diretor. “Eles têm uma rotina intensa de atividades. Pela manhã eles têm aulas com professores designados pela Escola Estadual Clorindo Burnier, no período de 7h a 12h10. À tarde temos os atendimentos técnicos, ligações para as famílias, oficinas internas como a de panificação, informática, horta e música. Enquanto alguns adolescentes vão estar num curso, outros realizam práticas esportivas na quadra. Essas atividades são realizadas de 14h a 18h”, detalha.
Os atendimentos técnicos mencionados por Abreu são conduzidos por equipes multidisciplinares, que realizam projetos de extensão na unidade, como alunos do curso de psicologia da Universidade Federal de Juiz de Fora, que oferecem atendimento psicológico para os acautelados. Além disso, são realizados também trabalhos pedagógicos e de assistência social.
Outra relação que é essencial enquanto medida socioeducativa são as parcerias público-privadas que oferecem cursos e oportunidades no mercado de trabalho como jovens aprendizes para os adolescentes. “Não adianta acharmos que só o nosso trabalho é o suficiente. Se o adolescente sair daqui e não receber nenhuma oportunidade, quem vai acolher ele lá fora?”, pontua Abreu.

Programa Descubra
Entre 2011 e o dia 28 de fevereiro de 2023, 680 adolescentes foram inseridos em cursos profissionalizantes. Destes, o Centro Socioeducativo conseguiu acompanhar a conclusão de 533. Abreu garante que, enquanto estão sob cuidados do CSE, eles concluem o curso, no entanto, quando o período da medida termina antes que o curso acabe, eles já não acompanham mais a situação do adolescente, ficando sob a competência da instituição que oferta o curso.
Atualmente é através do Programa Descubra, que apoia a cidadania e o aprendizado para jovens em vulnerabilidade social, que os adolescentes ingressam em cursos e oportunidades de trabalho. Dessa forma, eles podem fazer cursos oferecidos pelo Senac, Senai ou pela Rede Cidadã e trabalhar em empresas parceiras do programa e do CSE.
“Um adolescente que indicamos foi para o grupo Bahamas. Ele cumpriu os 12 meses de contrato e, mesmo após o desligamento do Socioeducativo, ele continuou no programa. Quando os 12 meses de contrato terminaram, o grupo Bahamas o empregou como funcionário”, conta Abreu, ressaltando a importância da oferta de oportunidades para os meninos retomarem suas vidas.
Importância da família
Abreu relembra também a história de um adolescente que passou pelo CSE, trabalhou como jovem aprendiz e eles tiveram notícias de que o jovem estava bem, trabalhando na mercearia do pai dele. Neste caso, tanto o eixo profissionalização quanto o eixo família, considerados pelos agentes do socioeducativo, ficam evidentes.
O trabalho com a família não configura um acolhimento direto, mas os agentes orientam pais e responsáveis sobre quais órgãos eles devem buscar para diferentes situações sociais, como Creas, Cras e Prefeituras. O que é feito com mais ênfase, ressalta Abreu, é ressaltar a participação e a relação com o acautelado.
O diretor da unidade destaca também o trabalho que os adolescentes aprendem nas oficinas de panificação. Em setembro do ano passado, por exemplo, eles foram responsáveis pela produção de mais de 2 mil bem-casados que enfeitaram a mesa de guloseimas do casamento comunitário promovido pela Prefeitura de Juiz de Fora. Enquanto retomam os estudos, os adolescentes aprendem novas profissões, como no caso da panificação. Eles recheiam sonhos, na espera de, depois de cumprirem as medidas socioeducativas, realizar os seus.