Uso de máscaras será obrigatório em Juiz de Fora
Decreto 13.897/2020 será reeditado com novas determinações para enfrentamento da Covid-19 até a próxima sexta-feira, inclusive a adoção compulsória do equipamento de proteção
A exemplo da capital Belo Horizonte, a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) determinará que é obrigatória a utilização de máscaras de proteção a juiz-foranos que frequentem espaços públicos na cidade. A adoção compulsória do equipamento de proteção pela população será incluída em reedição do Decreto 13.897/2020, prevista para ser publicada, conforme o prefeito Antônio Almas (PSDB), entre quinta (16) e sexta-feira (17). A medida foi anunciada nesta quarta (15), em coletiva de imprensa na Escola de Governo, ocasião em que Almas também comunicou a instalação do Comitê Municipal de Enfrentamento e Prevenção à Covid-19 em Juiz de Fora. O colegiado unirá esforços de diversas instituições contra a evolução epidemiológica da pandemia a nível local e regional. Conforme boletim epidemiológico publicado nesta quinta, Juiz de Fora tem 93 casos confirmados do novo coronavírus, além de duas mortes e outras três sob investigação. Por sua vez, o número de suspeitas da doença na cidade é de 1.321.
Em meio à pressão do setor produtivo para a retomada de atividades industriais, comerciais e de serviços, Almas garantiu a manutenção das restrições em vigor no município desde março. “O Decreto 13.897/2020 continua em vigor da mesma forma que está. Devemos reeditar algumas medidas nos próximos dias, mas muito mais no sentido de orientar e estimular ações que aprofundem medidas não farmacológicas, como a própria utilização das máscaras, tornando o uso obrigatório para que as pessoas possam ter acesso a espaços públicos. Na verdade, não é o momento de relaxar nenhuma decisão do decreto. Nós sabemos e entendemos as dificuldades e as consequências futuras na economia, mas, hoje, o objetivo maior é a preservação de vidas.” Paralelamente à coletiva, cerca de 20 manifestantes alinhados ao movimento Reabre JF pleiteavam, às portas da Escola de Governo, a reabertura gradual e imediata do comércio.
Questionado pela Tribuna sobre as recentes reuniões com representantes do setor produtivo local para estudar a retomada das atividades econômicas, Almas ponderou que o retorno gradual está sempre sob o radar da Prefeitura.
“Não temos uma data mágica, em que tal dia tudo volta. O mundo, inclusive, não tem esta data mágica. Vamos ver de acordo com aquilo que for acontecendo do ponto de vista da evolução epidemiológica. Então, vamos poder fazer abrandamentos ou não. E, na nossa análise, com os dados que temos diariamente, não temos condições ainda de fazer o retorno.”
Conforme o prefeito, a curva epidemiológica de Juiz de Fora está apenas no início da evolução. “O que estamos buscando e até aqui estamos conseguindo – o que as pessoas não estão valorando – é o achatamento da curva. Todos nós vamos nos contaminar em uma hora ou outra. O vírus não vai desaparecer. Tem alguns que acham que deveríamos deixar todos se contaminarem e pagar pra ver no que dá. Agora, pagar pra ver significa explodir o sistema de saúde.”
Almas ressaltou ainda que as medidas de isolamento social adotadas pelo Executivo há, aproximadamente, 25 dias reduziram o número de pacientes de Covid-19 internados em leitos de enfermaria e terapia intensiva em Juiz de Fora. “Temos dois óbitos confirmados e três óbitos em investigação. Se nenhuma medida dessa tivesse sido tomada, nós estaríamos discutindo números pelo menos duas vezes maiores.” De acordo com o chefe do Executivo, a aprovação do estado de calamidade pública do Município, apreciada, nesta quarta, pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais, permitirá à Prefeitura maior flexibilidade orçamentária. “Houve uma mudança, por exemplo, no mercado. Onde comprávamos uma caixa com 50 unidades de luvas por R$ 4,50, hoje estamos pagando, em média, R$ 4,50 ou até mais por unidade. Isso cria muitas dificuldades dentro do ordenamento jurídico existente em situação de normalidade. O decreto de calamidade nos favorece neste aspecto.”
Comitê
Em 17 de março, a Prefeitura já instalara um comitê interno para enfrentamento à Covid-19. Entretanto, conforme Almas, após a implementação das primeiras ações em Juiz de Fora, a Prefeitura reconheceu a necessidade de formatar novas parcerias junto a outras instituições. “Temos conversado com diversos atores para que a gente possa conduzir este processo, que está sendo muito difícil para todos nós. E a perspectiva é que ele ainda se aprofunde muito. Mas, hoje, resolvemos tornar essas relações, que estavam, de alguma forma, informais, sem uma estruturação maior, chamar esses atores, dentro de alguns critérios, e constituímos aqui um comitê.” Além de integrantes do Executivo, o Comitê Municipal de Enfrentamento e Prevenção à Covid-19 será integrado por Polícia Militar, Polícia Civil, Defensoria Pública da União, Comarca de Juiz de Fora, Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), 4ª Brigada de Infantaria Leve do Exército, Câmara Municipal, Ministério Público, Corpo de Bombeiros Militar e, por fim, pela rede hospitalar privada local.
Endurecimento do isolamento social
Em entrevista, na última segunda (13), à Rádio Super de Belo Horizonte, Almas revelou que o Executivo estuda a adoção de novas medidas, como o incremento da fiscalização e a aplicação de multas aos juiz-foranos, para enrijecer a política de isolamento social em vigência. Durante a coletiva, quando questionado, Almas reiterou a possibilidade. “A possibilidade (de aplicar multas) sempre vai estar sempre presente. Se as pessoas não assumem a responsabilidade de se respeitar e respeitar os outros, só tem uma situação: a Prefeitura impor mecanismos mais coercitivos sobre a ação. A fiscalização sempre existe. O que temos grandes dificuldades é, às vezes, quanto à quantidade de pessoas disponíveis para fazer a fiscalização. A cidade é bastante grande, com várias áreas de concentração comercial. E não é em todos os lugares as pessoas estão respeitando o decreto.”
Em reportagem publicada pela Tribuna nesta quarta, os fiscais de postura de Juiz de Fora relataram dificuldades encontradas durante a execução das medidas de isolamento social implementadas pelo Executivo. Dentre as reivindicações apresentadas estão uma nova reedição do Decreto 13.897/2020 para esclarecer determinadas regras e suas aplicações e a criação de uma força-tarefa articulada pelo primeiro escalão municipal para atuar nas ruas. Contestado, Almas respondeu que, se os fiscais de postura fazem estes pleitos para fora, deveriam, também, fazer para dentro da Prefeitura. “Nunca faltou por parte do prefeito, em momento nenhum, recebê-los. Sempre os recebi. E não seria em meio a todas as dificuldades que estamos enfrentando que eu não falaria com eles se tivessem alguma coisa que eles poderiam nos ofertar para melhorar a capacidade de trabalho da Prefeitura.”
70% dos leitos de terapia intensiva ocupados
Até esta quinta, Juiz de Fora tinha 70% dos leitos de terapia intensiva e 48% de enfermaria das redes pública e privada de saúde ocupados, conforme detalhou Almas. Entretanto, os percentuais não correspondem apenas a pacientes infectados pela Covid-19. De acordo com o prefeito, dos 37 leitos de terapia intensiva disponibilizados pela rede de saúde para pacientes com Covid-19, 16 estão ocupados.
“O sistema de saúde pública, do ponto de vista de unidades de terapia intensiva, já vivia próximo do colapso. Agora, agregue isso à possibilidade de o município, onde há 600 mil pessoas, ter uma taxa de transmissão de 1%. Com isso, teria 6 mil contaminados e, destes, cerca de 1.200 que vão precisar de enfermaria. E em torno de 60 pessoas vão ter que ir para a terapia intensiva. Estamos trabalhando com essas possibilidades, então preciso ter leitos que não tinha antes. Eu tenho que agregar leitos.”
Almas projetou que, caso as medidas de isolamento social em vigência não tivessem sido adotadas, Juiz de Fora já somaria, aproximadamente, 2.500 casos suspeitos, por exemplo, quase o dobro dos 1.321 atualmente registrados. O número de contaminados, 186, também seria dobrado. “Essas projeções são demonstráveis pelos estudos e pelos modelos criados. Obviamente que precisamos mais do que nunca em acreditar em ciência. Se a gente não acreditar em ciência e falar em achismos, aí é outra história.” O prefeito apontou duas providências fundamentais para o esvaziamento dos leitos. “Primeiro, o fato de a gente ter determinado que não seriam realizadas cirurgias eletivas em Juiz de Fora neste período reduziu a necessidade de uso de leitos nas enfermarias. Por outro lado, isso também agrega uma diminuição no número de leitos de terapia intensiva”, explica. “A outra coisa é que com o isolamento social nós diminuímos o fluxo de carros na cidade, e, com isso, o número de acidentes com politraumas. O número de acidentes em que o paciente precisaria ir para as UTIs diminuiu muito.”
UFJF e PJF firmam parceria
O prefeito Antônio Almas e o reitor da UFJF, Marcus Vinicius David, firmaram, durante a coletiva, um termo de cooperação entre as instituições para cessão de capital acadêmico, técnico e estrutural da universidade à Prefeitura. Dentre as colaborações elencadas pelo reitor, a UFJF realizará, a partir desta quinta (16), cem testes diários PCR para a Covid-19, sendo 50 para cada um dos dois laboratórios colocados à disposição do Executivo. A estimativa é de que os resultados devem ser repassados à Administração municipal em até 24 horas após o recolhimento. As amostras serão coletadas pelo próprio Município e, posteriormente, encaminhadas à UFJF para a realização dos testes. De acordo com David, em um primeiro momento, os testes serão feitos com insumos próprios da universidade, cuja reserva é de 700 kits.
“Já fizemos o credenciamento destes laboratórios junto à Vigilância Sanitária. Estamos tentando (também) a aquisição de novos reagentes, com tecnologia diferente, que pode até dobrar a nossa capacidade”, detalhou David. Conforme o reitor, o problema da produção dos testes não é a tecnologia, mas, sim, a etapa de preparação. “O problema não é a máquina que roda o teste, é a sua preparação, onde, através de um trabalho manual, é feita a separação do RNA. Trabalhamos com vírus ativos nesses laboratórios, então é preciso ser feito com todo o cuidado, com toda a proteção. Por isso, o volume de amostras não pode ser muito grande. O nosso problema não é tecnológico; temos duas máquinas com capacidade de rodar os testes. Cada máquina pode rodar 50 testes em até duas horas. O problema é preparar uma placa dessas, o que é muito demorado.”
Tópicos: coronavírus