JF registra oito homicídios em 14 dias
Das oito mortes violentas ocorridas nos primeiros 14 dias de 2016, sete já foram apuradas pela Polícia Civil, conforme informou nesta sexta (15) o titular da Delegacia Especializada de Homicídios, Rodrigo Rolli. Para ele, a eclosão de assassinatos neste começo de ano, com uma média de um crime a cada dois dias, pode ser apenas pontual e não significa aumento real da criminalidade. O último caso, ocorrido na noite de quinta-feira na Vila Esperança II, Zona Norte, segue em investigação, já que aconteceu poucas horas antes da entrevista coletiva, concedida ao lado do delegado regional, Eurico Cunha Neto. Rolli destacou ainda que o tráfico de drogas continua sendo pano de fundo para a maioria das mortes, embora também haja ocorrências ligadas a rixa de gangues e com motivações banais ou passionais. Os adolescentes e jovens aparecem como as principais vítimas.
O primeiro homicídio de 2016 aconteceu no dia 3, quando Alessandro Luiz dos Santos, 42 anos, foi alvejado por dois tiros, à tarde, na Rua Monsenhor Gustavo Freire, na altura do Dom Bosco, na Cidade Alta. “Em dez dias, o inquérito estava pronto. Um rapaz confessou, e eu vou solicitar a prisão preventiva dele. Era uma questão de dívida de drogas”, explicou o delegado.
Já no dia 7, Edson Fernandes Gonçalves, 21, morreu, e um homem, 48, ficou ferido após serem baleados no Ipiranga, Zona Sul, em confronto entre gangues rivais durante festividades de Folia de Reis na Rua Licínio Pereira Cortes. “Os dois autores estão identificados, e vou pedir a prisão deles ao final do inquérito. Naquela região estão acontecendo brigas banais, de rivalidade de bairros, que acabam causando essas mortes”, concluiu Rolli.
No dia seguinte, Hugo Leonardo de Souza, 17, morreu atingido por dois tiros ao ser perseguido por um atirador mascarado até a Rua Elmaia Cunha, no Jardim de Alá, também na Zona Sul. “Aqui já é rivalidade de uma rua com outra, por disputa de drogas (pontos de venda). Inclusive um adolescente apreendido com uma granada no dia 30 de dezembro na mesma via está envolvido”, disse o titular de Homicídios, acrescentando que dois adultos também estão identificados. Segundo ele, esse caso faz parte de um ciclo de mortes, iniciado em setembro.
Fugindo aos crimes motivados por conflitos e tráfico, José Gonçalves Araújo Silva, 20, foi morto no dia 9 ao receber uma facada em um baile funk, no Bairro Araújo, Zona Norte. “Não tínhamos informação de quem seriam os autores. Mas os investigadores chegaram à autoria, inclusive o homem já veio à delegacia e confessou. Durante discussão passional, a vítima usou o capacete para agredir o autor, que desferiu a facada”, informou o delegado.
A vítima mais jovem nesta primeira quinzena foi William de Oliveira Gregório, 15, baleado no dia 5 no Jardim Esperança, região Sudeste. O adolescente estava internado no HPS, mas não resistiu e morreu cinco dias depois. “A PM conseguiu apreender uma arma de fogo e uma moto roubada na casa dos investigados. Um dos dois já havia sido preso três vezes por nós temporariamente. O motivo era rivalidade com o Retiro por ponto de drogas.”
Morto por celular
O assassinato considerado mais banal por Rolli foi o de Alex de Almeida Oliveira, 26, encontrado morto no dia 10 na BR-267, na altura de Igrejinha, Zona Norte, com três perfurações à bala. “Essa morte foi por causa de um celular. Dois adolescentes (de 15 e 17 anos) já foram ouvidos, não confessaram, mas já vinham ameaçando a vítima para cobrar uma dívida de R$ 150 de um telefone.”
Já a morte mais brutal foi registrada no dia 13, na Avenida Francisco Valadares, entre Vila Ideal e Santa Tereza, na Zona Sudeste. Daniel Lucas Nascimento, 21, foi executado com vários tiros de pistola 9mm na cabeça. Peritos recolheram 14 cápsulas de munição de uso restrito deflagradas no local, mas não foi possível contabilizar o número de tiros que atingiram a vítima. “Na manhã seguinte, já sabíamos quem era o mandante e um dos executores. É guerra, resposta a mortes anteriores, com drogas como pano de fundo”, escancarou o delegado.
Conforme Rolli, o caso da mulher encontrada morta no dia 2 no Caiçaras III, Cidade Alta, ainda não foi concluído, porque foi solicitado exame das vísceras dela, mas o laudo da necropsia não apontou morte violenta. “Suspeitamos de possível esganadura, mas não foi constatada. O namorado dela era suspeito porque desapareceu depois do fato, mas parece que é andarilho.”
Reforço na equipe
Segundo o titular da Delegacia Especializada de Homicídios, Rodrigo Rolli, a equipe foi reforçada com dois investigadores. “Queremos dar a resposta o mais rápido possível.” Segundo ele, os casos tendem a reduzir após esse período violento. “Há tempos de eclosão e de marasmo. Na minha percepção de um ano e quatro meses na delegacia, quando fazemos muitas prisões, o crime tende a diminuir”, avaliou, lembrando que os casos na primeira quinzena coincidiram com o período próximo ao recesso do Judiciário e das saídas temporárias das unidades prisionais. “Para quebrar esse ciclo, entramos com os pedidos de prisão.”
Na opinião do delegado regional, Eurico Cunha Neto, “cada um tem sua parcela de responsabilidade”. “Cabe à Polícia Civil apurar esses crimes. A diminuição de casos pela nossa atuação acontece de maneira indireta. Quando prendemos uma pessoa, quebramos um ciclo. O importante para nós é o número de apuração. Chegamos ao fim do ano com 75% dos homicídios apurados”, disse ele, destacando que o índice é bem acima da média nacional.