Católicos celebram o dia de Nossa Senhora Aparecida em várias paróquias de JF
Com esperança na padroeira, fiéis falam de sua fé na santa
Toda a comemoração do Dia de Nossa Senhora Aparecida converge para a celebração do caminho. O trajeto que liga a fé ao acolhimento – que faz os peregrinos iniciarem uma longa jornada, que reúne cavaleiros, motociclistas e inspira muitas famílias – leva à padroeira do Brasil. A realidade do povo mais simples, o árduo caminho que se mistura às súplicas pelo acesso ao mais básico fazem lembrar da aparição de Nossa Senhora, em 1717, quando a situação do país, assim como hoje, era marcada por graves problemas.
“Naquele tempo, os pobres estavam sendo massacrados, injustiçados e nem peixe havia para eles. Nossa Senhora Aparecida vai ao encontro deles e socorre seus filhos. Nossa Senhora vem na cor do povo sofrido nas águas do Rio Paraíba, assim como faz nos nossos tempos. Hoje, vivemos uma situação política difícil, de luta, do agravamento da desigualdade e, nesse sentido, ela surge como um grito de esperança para nós”, diz o padre da Paróquia que leva o nome da santa no Bairro Linhares, Zona Leste, João Batista Rodrigues, que exemplifica a forte relação entre os brasileiros e a padroeira, por meio de uma cena cotidiana. “Se um filho cai, a mãe larga tudo. Pode estar com o avental limpo, mas tira o filho da sujeira e o ajuda a ficar de pé. Ela sempre vai escolher ver a alegria do filho,” exemplifica o padre.
Para o clérigo, o que se deve destacar sobre o exemplo de Maria é o grito dado por ela. “Que é o único mandamento dela na escritura sagrada: ‘Façam tudo o que ele vos disser’. O que Jesus nos disse? Amai-vos uns aos outros como eu vos tenho amado. Se cumprirmos isso, fica tudo bem, em paz. Esse é o grito e a presença de Maria, ouvir profundamente e confiar, porque ela nos diz o que fazer.”
Conforme o padre, sem a intervenção de Nossa Senhora, no episódio em que sua imagem é encontrada e, depois disso, o rio que vinha sem peixes, volta a ter os animais em abundância, os pescadores sofreriam com a ira do governador. “Se eles não pegassem nada, seriam açoitados e maltratados. Assim como hoje, foi um período político muito ruim. O conde que passava pela capitania, em direção a Minas Gerais, não iria gostar nada de não comer peixe naquela sexta-feira. Nossa Senhora vem na direção desses trabalhadores, para que eles não sejam feridos.” As mensagens tratadas na novena que se encerrou na véspera desse 12 de outubro se voltaram para a nossa realidade atual, como a restauração da vida, a busca pela libertação e ‘a restauração do rosto do fiel samaritano’.
Padre João Batista reforça que a mensagem do Papa Francisco segue a ideia de consolidar um caminho. “A igreja em saída, que vai em direção ao necessitado. Maria nos ensina que os filhos devem ir em busca do socorro de seus irmãos. Não há tema mais edificante que esse. Por isso, a mensagem desse 12 de outubro é de confiança e esperança. Como o exemplo de Madre Tereza de Calcutá, que andava sempre com o terço nas mãos e dizia que andava de braços dados com a mãe e se sentia segura, porque ela sabia o caminho. Ela confiava tanto em sua mãe, que andava até de olhos fechados. Quando ela segurava o terço, a sensação era a mesma. Ela sabia que a mãe conhecia o caminho e confiava nela.”
Caminhada de fé
A funcionária pública Miriam dos Santos Brandão, 48 anos, é uma das coordenadoras da Caminhada pela Fé, um grupo de peregrinos, que se reúne para sair de Juiz de Fora e ir para o Santuário de Nossa Senhora Aparecida em São Paulo. Nesse ano, eles saíram em romaria em julho e caminharam por mais de 330 quilômetros. “É um sentimento muito forte quando chegamos à basílica. É a terceira vez que participo e depois, de tanto esforço, sentimos algo indescritível, uma emoção diferente. Ela emana um poder enorme.” Enquanto andam lado a lado, outras formas de devoção são conhecidas, e esse contato também ensina sobre a fé. “Temos pessoas dos 16 aos 35 anos, várias gerações convivendo. É muito legal ver como a fé das pessoas se expressa de uma maneira muito diferente.” O que a levou a esse percurso foi a necessidade de pedir proteção para seus filhos. Mas a maneira como se conecta com a padroeira é mais recolhida.
“No dia 12 de outubro, não tenho um costume, um ritual, mas é um encontro muito particular, é um momento meu e dela. Eu sei que ela me entende. Nesse ano, como ela é protetora do nosso país e estamos em um ano eleitoral, precisamos pedir uma maior intercessão dela. Temos que ter os pés no chão e pedir de maneira muito especial para quem vai governar a partir de janeiro. É um ano de pedidos especiais”, comenta. Desde que a Caminhada pela Fé chegou para ela, a relação com Nossa Senhora Aparecida se estreitou. “Ela me fez ir além do primeiro impulso de participar, de ir além da minha intenção. Ela me fortaleceu, me fez melhor, fez a minha família ficar melhor. ”
Outro caminhante no mesmo grupo de Miriam, o estudante de Engenharia Elétrica, Igor Rezende Pereira, 18, carrega na memória a devoção herdada do avô e dos pais. “Sou uma pessoa de muita fé e sempre peço a intercessão dela, para tudo o que vou fazer, na Faculdade, na vida. Principalmente que ela foi a primeira a dizer sim, foi a primeira discípula. Ela não pensou no não, isso é muito inspirador.” A companhia de Nossa Senhora, para ele, é sentida de maneira mais forte nas caminhadas. “É impressionante como ela vai na frente e providencia a resolução para todos os problemas e dificuldades e como ela toca em cada coração. Uma pessoa que foi conosco estava desempregada e foi sem a intenção de fé. Ela voltou completamente diferente. Quando chegou, recebeu uma proposta de emprego, para projetar uma basílica em Brasília. Ela se mostra tanto para nós dentro da caminhada, quanto fora dela e, por isso, reforçamos a nossa devoção.”
O amor à padroeira é um sentimento envolvido em reciprocidade, que ele compartilha com toda a família. Ele participa da caminhada junto com os pais há quatro anos. Nessa quinta-feira (11), o pai dele estava na estrada em direção a Aparecida, onde ficaria no dia dela. Igor buscou o pai em São Paulo e ainda veio na intenção de assistir a missa em sua comunidade, que leva o nome da santa. “Dividir essa fé com eles é uma experiência inigualável. Indo em família, a gente se sente mais forte e unido. Todos temos alguns problemas, discussões, mas quando estamos juntos em oração, isso nos deixa mais fortes.”
O percurso é destacado pelo jovem como uma das experiências mais marcantes da vida. “Ao chegar em Aparecida pela primeira vez, me senti tomado pelo Espírito Santo, foi um sentimento muito forte. Depois de todas as provações do caminho, aos pés da mãe, a alegria foi me sufocando, as lágrimas caíram. Vou todos os anos e todo ano é uma emoção diferente. O amor de Maria que nos acolhe, nos recebe como acontece na casa de nossas mães. Depois de muito tempo sem voltar em casa, você recebe aquele abraço forte, e a alegria é incontrolável.”