O Agro Brasileiro e a China: Dependência ou Oportunidade?


Por Andressa de Souza Manso, Everton Emanuel Lima e Silva, Leoni G. Kronemberger, Rhuan Carlos Silva Souza, Alessandra Cristina Quirino e Weslem Rodrigues Faria

12/08/2025 às 06h00

A diversificação de parceiros comerciais é crucial para o desenvolvimento econômico do Brasil. Antigos aliados, como Estados Unidos e Europa, perderam protagonismo para a China, que se tornou a maior compradora de commodities nacionais. Essa mudança não representa apenas uma transformação econômica para o Brasil, mas um reflexo da influência global crescente da China.

No entanto, essa relação vai além da simples compra e venda de produtos. Empresas chinesas estão ampliando sua participação no campo brasileiro, adquirindo milhares de hectares de terra, o que vem gerando debates sobre a soberania nacional e a falta de investimento em produtores locais. Enquanto alguns enxergam esses investimentos como oportunidades para modernização, outros alertam para a concentração de terras em mãos estrangeiras e a crescente dependência de um único setor.

A China se consolidou como o principal parceiro comercial do agronegócio brasileiro, sendo destino de cerca de um terço das exportações do setor, com destaque para a soja, a carne bovina e a celulose. Segundo dados do Ministério da Agricultura (MAPA, 2024), só em 2023 houve um aumento de 8,9% nas exportações para o país asiático em relação ao ano anterior. Empresas com participação chinesa, como a Cofco International, têm investido em portos no Norte e em estruturas de armazenagem no Centro-Oeste para facilitar o escoamento da produção. Além disso, projetos ferroviários, como a Ferrovia de Integração Centro-Oeste, buscam reduzir custos e aumentar a competitividade do país.

Em Minas Gerais, a presença chinesa vem ganhando força, embora ainda seja menor do que em outros estados. A Cofco atua no escoamento de grãos, e o grupo Beidahuang firmou parcerias com cooperativas locais para a produção de milho e café no Triângulo Mineiro. Paralelamente, produtores da região manifestam preocupação com a valorização das terras e a crescente disputa por recursos naturais, como a água.

Entidades como a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) defendem a diversificação de mercados. Regiões como o Sudeste Asiático e a União Europeia surgem como alternativas, mas dependem de acordos comerciais mais robustos para se consolidarem como destinos relevantes.

A produtividade do agronegócio brasileiro impacta a inflação de alimentos na China. Segundo texto técnico da Embrapa, a produtividade agrícola brasileira cresceu 3,18% ao ano entre 2000 e 2019, enquanto a do mundo aumentou 1,66% no mesmo período. Dessa forma, o Brasil deve continuar sendo alvo de investimentos chineses como estratégia de controle de preços. Cabe ao Estado brasileiro decidir se intervém no fluxo de investimentos ou se tenta adentrar novos mercados e diversificar a influência de outros países em setores estratégicos.

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