IBGE: Mais de mil quilombolas residem na microrregião de Juiz de Fora; veja em quais municípios

Evento, em parceria com a UFJF, divulgou novos dados do Censo 2022 e marcou a inauguração da Casa Brasil, primeira do interior do país 


Por Nayara Zanetti

09/05/2025 às 17h29

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Evento divulgou dados sobre população quilombola e inaugurou projeto Casa Brasil. (Foto: Divulgação UFJF/Twin Alvarenga))

Dados do Instituto Brasileira de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que 1.259 quilombolas vivem na microrregião de Juiz de Fora, composta por 33 municípios.  Apesar desse contingente regional, a cidade de Juiz de Fora, isoladamente, não apresenta registros de população quilombola. O levantamento foi feito com base nos números recentes do Censo 2022, divulgados na manhã desta sexta-feira (9), em evento sediado no Centro de Ciências da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). 

Pela primeira vez, a publicação apresenta informações sobre a população quilombola com recorte para situação rural e urbana. Há dados sobre sexo e idade, alfabetização, registro de nascimento, além de características dos domicílios com pelo menos um morador quilombola quanto ao saneamento básico, composição domiciliar e óbitos registrados. Ao todo, a população quilombola do país é representada por 1.330.186 pessoas, sendo que 38,29% vivem em áreas urbanas e 61,7% em áreas rurais. 

Minas Gerais é o quarto estado do país com o maior número de quilombos (135.315), atrás da Bahia (397.502), do Maranhão (269.168) e do Pará (135.603). Na microrregião de Juiz de Fora, as cidades com presença de população quilombola são: Bias Fortes (833), Santos Dumont (312), São João Nepomuceno (76), Aracitaba (24), Santa Rita do Jacutinga (7), Goianá (4) e Santa Rita do Ibitipoca (3)

Em entrevista à Tribuna, o coordenador-geral do IBGE, Daniel Castro, reforçou a importância dos dados para a produção de políticas públicas que irão beneficiar a população e destacou a importância da parceria com a universidade.

“O IBGE está promovendo novamente uma ação de regionalização, indo até as áreas mais estratégicas. Nos últimos Censos, o Brasil tem passado por um processo de desmetropolização. Temos regiões dinâmicas do país, como Juiz de Fora, que temos que levar os dados, fazer uma análise, e por isso a parceria com a UFJF.” 

O evento contou com a presença de representantes de comunidades quilombolas da região, da reitora da UFJF, Girlene Alves, do vice-reitor Telmo Ronzani, da diretora de Ações Afirmativas da UFJF, Danielle Teles, e da secretária Especial da Igualdade Racial de Juiz de Fora, Giane Elisa.

Também presente no evento, Maria José Franco, conhecida como mestra Zezé, da comunidade quilombola do Paiol, do município de Bias Fortes, e mestranda em Educação na UFJF, afirma que os dados são muito importantes para representar a comunidade e facilitar o acesso a políticas públicas. “Que bom que nós estamos aqui neste espaço para falar da gente, da nossa história, para que as pessoas possam conhecer a realidade de uma pessoa que é e que vive o quilombo.” 

UFJF detalha políticas de acesso e permanência para estudantes quilombolas 

A diretora de Ações Afirmativas da UFJF, Danielle Teles, acredita que para pensar na elaboração de políticas públicas é preciso ter dados para entender a realidade do país. Neste sentido, os novos dados do Censo 2022 reforçam a necessidade de políticas afirmativas. Com o objetivo de democratizar o acesso e a permanência ao Ensino Superior, a UFJF tem implementado políticas de ações afirmativas voltadas para comunidade quilombola. No âmbito do acesso, a UFJF trabalha com a política de cotas, que assegura a inserção da população quilombola tanto nos cursos de graduação quanto nos programas de pós-graduação. No entanto, a universidade reconhece que o ingresso é apenas o primeiro passo. Para a permanência, existem programas específicos, como uma bolsa fomentada pelo Ministério da Educação (MEC) destinada a estudantes quilombolas, além de outros programas de assistência estudantil que também podem ser acessados por essa comunidade. 

“O IBGE, ao ter esse ineditismo em apresentar esses dados, traz à tona também uma responsabilidade por parte do Estado de olhar para essa população. As discussões em torno dessas temáticas, nos ajudam a fortalecer as políticas de ações afirmativas”, disse Danielle.  

A diretora ainda acrescenta que a universidade busca oferecer condições materiais e investir no campo simbólico para que os estudantes consigam concluir os cursos. “Nós partimos também da valorização do protagonismo das pessoas quilombolas na instituição. Nós trabalhamos para que os alunos se sintam acolhidos, pertencentes e entendam que esse espaço é por direito deles também. Existe uma série de ações sobre a importância não só de incluí-los na universidade, mas também entender o que eles oferecem, para nós enquanto sociedade em termos de conhecimento, cultura e saberes diversos.” 

Oficinas e eventos na Casa Brasil Juiz de Fora 

Durante o evento, também aconteceu o anúncio da implementação da primeira Casa Brasil no interior do país. Com o objetivo de aproximar a sociedade do trabalho feito pelo IBGE, a iniciativa oferece diversas atividades presenciais e remotas unindo memória, tecnologia, interatividade e pesquisa, além de cursos e oficinas de capacitação. O IBGE já possui duas unidades da Casa Brasil no país, em Recife e Belém, além da sede no Rio de Janeiro. O espaço funcionará no Centro de Ciências da UFJF e contará com biblioteca digital, totens, computadores para pesquisas, mapas e diversos produtos de disseminação do acervo digital do IBGE, composto por bilhões de dados de pesquisas estatísticas, censitárias, ambientais e geocientíficas. A inserção do projeto estimula o desenvolvimento de novas pesquisas acadêmicas com base nos dados do Censo 2022. 

“Nós vamos oferecer oficinas gratuitas de inteligência artificial, Big Data, como dominar ferramentas do próprio IBGE, cursos que serão úteis para quem trabalha em empresas privadas, para quem quer prestar concurso e para quem é da prefeitura, por exemplo. E mais importante ainda é a oportunidade de geração de emprego e renda, porque esses jovens vão poder se formar nessas oficinas, vão poder participar dos concursos do IBGE”, explica o coordenador do IBGE.   

Para o pró-reitor de Sistemas de Dados e Avaliação, Marcel de Toledo, a UFJF passa a ser um hub do IBGE em Juiz de Fora, entrando no calendário de divulgação de eventos, principalmente os de capacitação. “O Centro de Ciências é um dos locais mais visitados de Juiz de Fora, ele recebe dezenas de milhares de visitantes por ano. Então, quando um projeto como o Casa Brasil é instalado nesse espaço, esses visitantes vão passar a ter contato com esse mundo das estatísticas, dos dados, dos mapas, de todos os conhecimentos produzidos pelo IBGE.” As inscrições para as oficinas começam a partir da próxima quarta-feira (14) e podem ser realizadas no site do Casa Brasil

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