Campanha da Fraternidade propõe conscientização contra a violência
Campanha, que começa na Quarta-feira de cinzas (14), foi lançada em entrevista coletiva na Cúria Metropolitana
A Campanha da Fraternidade 2018, lançada em entrevista coletiva na Cúria Metropolitana nessa sexta-feira,(9), concentra o olhar e os esforços sobre o combate à violência. O tema foi escolhido diante da percepção de que o mal é algo que afeta gravemente a toda a humanidade. A intenção, conforme o arcebispo metropolitano dom Gil Antônio Moreira, é propor um diálogo amplo com todos os setores da sociedade, para que as pessoas busquem, independentemente de suas diferenças, viver em meio a uma cultura de paz. A campanha começa na Quarta-feira de cinzas (14) e tem um material de apoio que pode ser usado não só em ações dentro da igreja católica, mas também em escolas, centros comunitários, famílias, grupos de trabalho ecumênicos, entre outros entes.
“A Quaresma é o tempo propício para a conversão, não só a pessoal, mas social. Há problemas nesse campo que se tornam ofensas a Deus e à dignidade humana, a violência é uma delas. A sociedade é convidada, então, a refletir sobre isso e buscar caminhos concretos para resolver esses problemas”, destacou dom Gil. O arcebispo ainda afirmou que se buscam, na Bíblia, sugestões que possam ajudar a pensar em formas de combater a violência em todos os níveis. A proposta é observar o que acontece nas comunidades e no país, para que depois se julgue essa realidade, para partir para a ação. O lema da campanha é “Vós sois todos irmãos”, presente no Evangelho de Mateus. “Se somos irmãos, devemos viver como tais. Não há motivos para nos agredirmos, nos destruirmos. A violência não tem lugar onde se encontra o espírito de fraternidade e de família.”
A proposta, então, é incentivar o caminho do pensamento em conjunto, inserindo a discussão do tema nas comunidades, o acompanhamento dos conflitos nas localidades, buscando compor contribuições para a solução das situações encontradas. Ao mesmo tempo, é preciso estar junto às famílias, conversando com os jovens, que são apontados como os principais alvos da violência pelos párocos, usando os meios de formação diversos para provocar a reflexão entre eles. “É importante não se render, não desistir. Porque podemos pensar na quantidade de campanhas que já foram feitas a esse respeito, e ela continua. Um dia venceremos pela persistência. O Brasil não tolera mais a violência, ela eclode em todos os estados, e nós buscamos esse entendimento da base.”
A importância de um olhar amplificado
Pensar a violência, de acordo com o padres que participaram da coletiva, é abrir os olhos para todos os contextos que contribuem para sua perpetuação. Começando pelo meio político. O arcebispo metropolitano, dom Gil Antônio Moreira, diz que não se pode resolver os diversos problemas com agressividade. “A transformação só acontece por meio da consciência, da educação, de atos concretos. Algo que é compartilhado por todas as religiões. Todas elas pregam a paz. Se há deturpação da mensagem original, o resultado é a guerra. Como acontece atualmente no meio islâmico, por exemplo. Isso não pertence à religião.”
Nesse sentido, a mensagem antiviolência segue para diversos contextos. “Não tem um ponto único. Ela está entranhada em muitas realidades da sociedade brasileira. Está relacionada à omissão do poder público, ao enfraquecimento da responsabilidade do Estado, que causa o recolhimento das pessoas ao Centro, deixando as periferias fora da presença do Estado. Naquele espaço vai ganhar o mais forte, a lei da selva”, refletiu o padre Everaldo José Sales Borges.
Ainda de acordo com ele, há inúmeras outras formas de violências. “Se não temos boas escolas e ambientes de lazer, o que as crianças e adolescentes vão fazer? Podem se envolver com a violência. A falta de um sistema de saúde adequado também é uma agressão, principalmente para a população mais empobrecida. Essa falta de assistência é uma violência sem tamanho. Não tem como um pai, uma mãe não ficarem irados diante da falta de atendimento dos filhos em um hospital.” Essa raiva é levada ao trânsito, às filas, aos outros espaços de convivência e se torna, conforme o padre, um mal ainda maior.
A falta de cuidado com o espaço público, de acordo com padre Everaldo também são formas de alimentar esse sistema. Seja com a iluminação pública precária, becos mal pensados, aparelhos públicos sem conservação, entre muitos outros pontos. Nesse sentido, os padres Welington Nascimento, assessor eclesiástico da Pastoral Carcerária e o diácono Carlos Henrique Rodrigues, assessor regional da Pastoral do Menor, também levantaram a violência que acontece dentro dos presídios e dos Centros socioeducativos. “O encarceramento deveria ser uma forma de ressocializar as pessoas, mas elas acabam aprendendo outras formas de crime. No Ceresp, que tem capacidade para 400 pessoas, temos 1.100. Precisamos pensar em soluções, como a justiça restaurativa, que cuidam das causas tanto de quem sofreu a ação, quanto de quem a praticou.” destacou Nascimento. Ao mesmo passo, no Centro Socioeducativo do Santa Lúcia, a capacidade é de 54 acautelados, mas há 84 atendidos no momento. “Ainda tem pessoas que pensam na possibilidade de reduzir a maioridade penal com esse sistema falido”, ponderou Rodrigues.