Bem-estar e tendências estéticas impulsionam procura por explante mamário
Cirurgia teve um aumento de 33% nos últimos anos, mas não é realizada por todos os cirurgiões
Desde 2018, a procura por explante de prótese mamária tem crescido em níveis exponenciais, fazendo com que, inclusive, de 2016 para 2020, o crescimento do número de cirurgias de explante mamário fosse de 33%. Esse número é da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica, e revela que em 2020 foram 25 mil operações que buscaram a remoção. Para os especialistas, essa procura está relacionada com a síndrome Asia, conhecida como “doença do silicone”, e também com mudanças de tendências estéticas nos últimos anos. Personalidades públicas como Carolina Dieckmannn, Manu Gavassi e Giovanna Antonelli, por exemplo, optaram por remover a prótese que tinham antes. Essa cirurgia não é realizada por todos os cirurgiões, mas segue ganhando notabilidade, inclusive em Juiz de Fora.
De acordo com a médica cirurgiã Sheyla Lisboa, afiliada à Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, o explante mamário geralmente é feito nas pacientes que têm a prótese há mais de dez anos, e principalmente por aquelas que não tiveram satisfação com o aumento da mama desde o início e estão sofrendo com alguns sintomas que atribuem à prótese. “Geralmente, inclusive, são os dois motivos associados”, explica Sheyla. Foi exatamente esse o caso de Cristiane Bittencourt, que também é médica, e havia feito a cirurgia em 2013, com objetivo principal de melhorar a estética do seio e a auréola que tinha. “Eu tinha escolhido um volume de 235ml, e era um formato em gota, para ficar mais natural. Só que não foi feita a correção da mama da forma que deveria, e isso ocasionou um crescimento de tecido mamário além do volume do silicone, então eu fiquei com o seio muito grande. Nos primeiros seis meses, já estava descontente com o tamanho, porque eu sou bem pequena, tenho 1,58m de altura, e estava com o seio em um tamanho 48 de sutiã. Para mim, era extremamente grande”, revela.
Para se submeter a uma nova cirurgia, no entanto, ela precisaria de tempo e de um profissional capacitado que recomendasse esse procedimento, o que demorou a acontecer. Logo, ela começou a passar por certos desconfortos, como muitas dores nas costas, uma mudança na coluna devido ao peso e passou a ficar extremamente alérgica. Como explica a médica Sheyla Lisboa, ainda não há literatura científica que comprove a ligação direta com todos esses sintomas, mas há muitos relatos de pacientes. “Natural que comecem a aparecer complicações. Acredito que essa síndrome é recente, mas como consequência desse aumento de colocação de prótese. É uma complicação pequena pela quantidade de próteses que o mundo colocou, não é frequente”, explica.
Visuais mais naturais
Para a cirurgiã, no passado existia uma tendência de que “ter mama grande era muito bonito, então, todo mundo queria ter e para isso colocava próteses grandes”. Em sua visão, o momento atual está colocando “em alta” visuais mais naturais, e o que é muito artificial e exagerado já “não é mais tão bem visto aos olhos da maioria das mulheres”. O que está sendo procurado, como ela relata, são procedimentos mais harmônicos e proporcionais ao corpo. Foi o que Cristiane quis, quando procurou formas de solucionar seu incômodo estético e clínico. “Quando fui buscar o explante, descobri que não é todo médico que faz. Busquei durante três anos, ainda antes da pandemia, e naquele momento deixei um pouco para lá. Mas com os cirurgiões que conversei, a maioria não me recomendou o explante, e sim uma troca do silicone”, relembra. Em abril deste ano, no entanto, encontrou uma médica que a recomendou justamente o explante mamário, e fez a cirurgia desejada em julho.
‘Doença do silicone’
Apesar de “doença do silicone” não ser uma terminologia médica, os sintomas relatados por algumas pacientes que fizeram o implante de prótese ficou popularmente conhecido assim. A chamada “Síndrome Asia” é o nome mais utilizado pelos médicos, que significa justamente “Autoimmune Syndrome Induced by Adjuvants” (“Síndrome Autoimune Induzida por Adjuvantes”). Nessa síndrome, estão listados esses sintomas, que variam bastante. Dentre eles, Sheyla cita dores articulares, dores no braço, dores na mama e sensação de inchaço na mama. “O diagnóstico é clínico, pelos sintomas da paciente”, explica.
Não há, até o momento, um exame específico que consiga diagnosticar esse problema, e por isso o relato deve ser feito pela paciente no caso de incômodos assim. “Algumas queixas ainda não têm comprovação científica, mas os relatos são de que, depois de tirar a prótese, os sintomas melhoram”, explica Sheyla. Foi o que aconteceu com Cristiane, após a retirada, em relação às suas crises alérgicas. “Eu acordava com muitos espirros, uma rinite bem crônica, e a primeira mudança que notei foi que os espirros realmente diminuíram. Já tive crises bem além do normal, em que cheguei a ter cem espirros seguidos, provocando até dor abdominal. Ainda não tenho a segurança pra dizer que foi realmente isso que me tornou alérgica, mas posso dizer que vejo uma mudança”, diz.
Cuidados com a operação de explante mamário
No caso da cirurgia de explante mamário, os riscos são similares aos das demais cirurgias. Sheyla Lisboa, por exemplo, explica que tem uma média de um explante por mês, e enxerga que é um procedimento seguro, mas que deve ter todos os riscos e complicações explicados antes para a paciente, inclusive porque segundas cirurgias tendem a ser mais complexas. Para ela, é especialmente importante ter um preparo quanto à saúde mental antes de realizar o procedimento, para saber se é realmente o que a mulher quer e se ela está preparada para isso.
“A cirurgia do explante envolve uma reconstrução da mama para ficar esteticamente bonita de novo. A cicatriz de uma mamoplastia de aumento, que é a daquela paciente que não tem mama e quer aumentar, é pequena, de mais ou menos 4 cm, no sulco mamário. Já na cirurgia do explante, é preciso retirar a prótese, tratar a flacidez que ficou e, em alguns casos, para simetrizar ou para dar algum volume, fazer uma enxertia de gordura na mama, então acaba sendo mais complexo”, diz.