Para família, montanhista de Juiz de Fora morreu ao escalar vulcão no Peru
Desaparecido desde o dia 30 de junho, juiz-forano Marcelo Delvaux teria caído em uma fenda de gelo de difícil acesso em uma altitude de 6.800 metros
Desde o dia 30 de junho, o montanhista brasileiro, natural de Juiz de Fora, Marcelo Delvaux, de 55 anos, está desaparecido. O atleta tentava escalar o vulcão Nevado Coropuna, o quarto mais alto do Peru. De acordo com a família e amigos, as investigações apontam que Marcelo teria caído em uma fenda no gelo e não tenha sobrevivido. O corpo do montanhista, no entanto, ainda não foi encontrado.
A Tribuna conversou com a irmã mais nova de Marcelo, Patrícia Delvaux, que recebeu a notícia do desaparecimento através da namorada do irmão, a argentina Julieta Ferreri. De acordo com ela, estava combinado que Marcelo voltasse ao hotel em que estava hospedado no dia 1º de julho. “Quando deu dia 3 e ele não deu notícias e o sinal do GPS dele estava estagnado, a Julieta entrou em contato e nós começamos o processo de busca.”
As autoridades peruanas foram acionadas, mas os policiais não puderam subir a montanha devido a altitude. A família então iniciou uma vaquinha para levar uma equipe de resgate especializada para realizar as buscas. “Foram quatro montanhistas, amigos do Marcelo, para as buscas, tentar chegar até onde o sinal do GPS estava marcando.”
Amigo de Delvaux há 15 anos, o montanhista Pedro Hauck participou da coordenação das buscas e disse à Agência Estado que a fenda onde equipamentos do montanhista foram encontrados na borda é muito grande, e as condições climáticas não permitem o acesso do resgate ao local neste momento. “Nosso amigo, que tanto amava as montanhas e que vivia para escalá-las e apreciá-las, por lá ficou.”
O resgate foi acionado no dia 3 de julho e uma equipe de montanhistas foi contratada pela família para realizar as buscas, já que time de policiais peruanos teve dificuldade de subir a montanha. “A polícia não estava aclimatada para subir a montanha. Em uma montanha de grande altitude, como o Coropuna, você precisa subir lentamente para fazer com que o seu corpo se acostume com as condições de baixa pressão e de ar rarefeito”, explica Hauck.
Segundo o amigo, Delvaux visitava com frequência o Peru, todos os anos, e tinha formação como guia de montanha pela EPGAMT, que é uma escola de guias de montanhas em Mendoza, na Argentina. “O Marcelo era um dos montanhistas mais experientes do Brasil. Ele era famoso por seguir seus próprios passos”, disse o amigo. “Marcelo apenas escalava montanhas e para ele, quanto mais desconhecida, melhor.”
GPS ajudou a monitorar os passos do montanhista
O amigo conta que Marcelo estava na Bolívia com a namorada, a também montanhista Julieta Ferreri, antes de viajar para o Peru. A moça, que é argentina, voltou ao seu país natal porque faria uma mudança de casa. Delvaux seguiu, então, para o Peru, para subir um dos subcumes do Nevado Coropuna sozinho, algo que já estava acostumado a fazer.
No dia 25 de junho, ele chegou à base do vulcão e começou a subida por uma rota que fica a sudoeste, em um local com glaciares. Ele atingiu uma altitude de 4.880 metros e montou um acampamento. Ficou lá durante dois dias, 26 e 27 de junho, conforme dados de um GPS que ele utilizava.
No dia 28, o montanhista subiu até a altitude de 6.800 metros e, em seguida, retornou ao acampamento. “A gente acha que, como essa altitude foi a mesma em que ele desapareceu, ele encontrou um grande obstáculo ali”, afirma Hauck.
Sinal do GPS estagnado acendeu alerta à família e amigos
No dia 30 de junho, Delvaux deixou novamente seu acampamento e começou a subir a montanha às 3h da madrugada. Ele chegou ao topo às 14h57 e, logo em seguida, começou a descer. “Pelo GPS, a gente viu que, mais ou menos uns 30 ou 40 minutos depois, o sinal estagnou. Ele não se movimentou mais desde então”, conta o amigo.
O GPS carregado por Delvaux contava com um botão de S.O.S. que, acionado, emitia um alerta para uma central que decidia por um pedido de resgate. O aparelho também permitia enviar mensagens para essa central, via sinal de satélite. Mas, em nenhum momento, o montanhista acionou o botão ou pediu qualquer tipo de ajuda.
No dia 3 de julho, a família de Delvaux acionou o resgate. No entanto, a equipe de policiais peruanos teve dificuldade de subir a montanha. “A polícia não estava aclimatada para subir a montanha. Em uma montanha de grande altitude, como o Coropuna, você precisa subir lentamente para fazer com que o seu corpo se acostume com as condições de baixa pressão e de ar rarefeito”, explica Hauck.
“Também não é possível um helicóptero pousar em uma altitude tão elevada, porque o ar é tão rarefeito que ele não se sustenta”, diz o amigo. Ele sugeriu à família, então, que contratasse uma equipe de montanhistas que já estava na região e, por isso, já aclimatada. Dessa forma, conseguiriam subir mais rapidamente.
Acampamento vazio e equipamentos na frente da fenda
O grupo de guias começou a subir o Coropuna à procura de Delvaux na sexta-feira, 5. No mesmo dia, à tarde, eles encontraram o acampamento, vazio. “A gente já foi se preparando para o pior. Porque isso significava que ele não havia retornado”, conta Hauck.
No sábado, o grupo continuou a subida até os 6.800 metros e encontrou dois trackings (equipamento similar a um bastão, utilizado para se apoiar durante caminhada na neve) fincados no gelo, em frente a uma fenda de gelo muito profunda, na altitude em que o GPS de Marcelo ficou estabilizado desde o dia 30.
“Essa greta (nome técnico para fenda) estava encoberta em quase sua totalidade. Somente na frente dos bastões do Marcelo havia uma abertura bem grande, com todos os sinais de que o Marcelo havia caído lá dentro”, diz o amigo. “A greta era tão profunda que não era possível observar o corpo do Marcelo lá dentro.”
Família e o amigo acreditam que Delvaux esteja morto
A teoria da família e dos amigos é de que, na subida do vulcão, o montanhista teria encontrado a fenda no gelo e fincou seus trackings ao lado para sinalizar o local seguro de se passar. Na descida, ele pode ter tentado pular a fenda e, neste momento, a borda cedeu, fazendo-o cair dentro do buraco.
Os resgatistas não conseguiram entrar na fenda porque as condições de neve são muito perigosas neste momento. “Há uma neve em pó na parte exterior da greta, sem sustentação para que eles pudessem fazer uma ancoragem e rapelar (adentrar utilizando rapel) no interior dessa greta”, diz Hauck.
A família e o amigo acreditam que Delvaux esteja morto, dado o tempo em que ele está desaparecido, o tamanho da queda que ele teria sofrido e as condições climáticas do local. “Por ele ter passado muito tempo naquelas condições, devido ao frio, a fome, acreditamos que ele possa estar sem vida”, afirmou Patrícia. O objetivo agora é que o corpo do irmão possa ser resgatado, mas isso depende das autoridades peruanas. “Nós gostaríamos de trazer o corpo, mas sabemos que é uma manobra muito difícil, quase impossível.”
A última vez que esteve com o irmão foi em março, quando ele veio visitar a família em Juiz de Fora. Segundo conta Patrícia, apesar da distância, Marcelo mantinha contato frequente com a mãe e os irmãos. “A última vez que ele falou com a minha mãe foi no dia 25 de junho. Depois disso, não conseguimos mais contato.”
A família e o amigo acreditam que Delvaux esteja morto, dado o tempo em que ele está desaparecido, o tamanho da queda que ele teria sofrido. e as condições climáticas do local. “Não há chances de que Marcelo tenha sobrevivido. Inclusive, pelo fato de ele não ter pedido socorro, a gente acredita que a queda já tenha sido fatal”, afirma o amigo.
O Itamaraty informou à Agência Brasil ,que tem acompanhado o caso, e mantém contato com as autoridades locais, familiares e amigos da vítima. e também tem prestado assistência consular.