JF tem pontos de coleta de lixo eletrônico, mas ampliação enfrenta entraves

Cerca de 700 kg de pilhas e baterias foram recolhidas pela UFJF, mas logística para enviar material atrapalha reciclagem; parceria da PJF e E-Ambiental realiza coleta itinerante todos os meses


Por Gabriel Bhering, estagiário sob supervisão da editora Rafaela Carvalho

07/08/2022 às 07h00- Atualizada 08/08/2022 às 15h16

Juiz de Fora possui cerca de 30 pontos de coleta de pilhas e baterias, além de contar com uma recicladora, que tem a capacidade de reciclar esse tipo de material. No entanto, a cidade ainda tem entraves para expandir o recolhimento correto dos lixos eletrônicos. Além da falta de políticas públicas voltadas para a conscientização ambiental para que a população faça o descarte correto, apontada por especialistas, a recicladora localizada em uma empresa da cidade precisa receber os resíduos por meio de encaminhamento terceirizado, o que pode complicar o processo.

A Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), por exemplo, faz a coleta de pilhas e baterias em unidades do campus desde 2016, mas enfrenta um impasse para destinar esse material, já que a recicladora da Nexa Resources existente em Juiz de Fora diz não poder receber os resíduos diretamente, sendo necessária uma intermediária terceirizada para fazer o transporte. Entretanto, a universidade argumenta não poder arcar com os custos. O problema impede, inclusive, que a UFJF estenda o serviço de coleta para a comunidade externa.

À Tribuna, a coordenadora de Sustentabilidade da UFJF, Rosana Colombara, explicou que já foram recolhidos cerca de 700 kg de pilhas e baterias internamente. Como a empresa Nexa tem uma recicladora na cidade e realiza o serviço, a instituição estaria negociando o envio do material para a realização da reciclagem. No entanto, a empresa teria solicitado que a UFJF encaminhasse o material para São Paulo, por meio de uma transportadora terceirizada, para que uma parceira realize a triagem e faça o armazenamento temporário das pilhas e baterias. Só então o material retornaria para Juiz de Fora para que a reciclagem fosse realizada.

De acordo com Rosana, a universidade não pode arcar com este gasto, fator que impede o envio do material para a parceira da Nexa e, consequentemente, o recolhimento de mais lixo eletrônico. “Embora existam cerca de 30 pontos de coleta distribuídos em Juiz de Fora, geralmente em estabelecimentos comerciais, ainda não temos um ponto de coleta na UFJF para a comunidade externa. Ocorre que o recolhimento para triagem e posterior encaminhamento para reciclagem, pela Green Eletron, gera um custo que não seria justificável para uma instituição pública”.

Legislação ambiental

A recicladora da Nexa tem sua maior unidade na cidade de Juiz de Fora, e também é responsável pelos 30 pontos de coleta disponíveis da cidade. Em 2021, a empresa processou 207 toneladas de pilhas, e em 2022 já foram recicladas 113 toneladas. Segundo a empresa, a unidade da cidade tem capacidade para processar e reciclar 100% da geração anual do Brasil, que são de 700 milhões de pilhas por ano.

Entretanto, conforme a empresa, o recebimento de pilhas alcalinas na unidade recicladora de Juiz de Fora não pode ser realizada de forma direta, ou seja, de uma instituição ou empresa para a Nexa, por conta de restrições previstas em lei. “Isso acontece devido às legislações ambientais DN COPAM 217/17 no âmbito estadual e a Ibama 5/12 no âmbito federal, que determinam a rastreabilidade de todo resíduo que é transportado no país. Com base no Sistema de Manifesto de Transporte de Resíduos (MTR), toda instituição ou empresa que deseja fazer o transporte de resíduo perigoso, independentemente da quantidade, precisa estar adequada à legislação ambiental de transporte de Produtos Perigosos, além do Certificado de Regularidade Ambiental, entre outros documentos obrigatórios das legislações ambientais.”

Por isso, para viabilizar a reciclagem de pilhas provenientes de consumidores domésticos em Juiz de Fora, a Nexa opera em parceria com a Gestora de Resíduos e Equipamentos Eletrônicos (Green Eletron), sendo esta a responsável pela destinação final de todas as pilhas coletadas pelo programa de logística reversa. “A Green Eletron é a entidade gestora responsável pela gestão do sistema coletivo de logística reversa de pilhas, tendo como foco o descarte de consumidores domésticos. Dessa forma, os associados (fabricantes, importadores e distribuidores) que fazem parte do sistema coletivo estão atendendo às legislações vigentes sobre o tema, tais como: CONAMA 401/08, PNRS 12.305/10, Decreto 10.936/22 e Termos de Compromissos vigentes em determinados estados”, explicou a empresa.

E-Ambiental e PJF buscam aumentar reciclagem de lixo eletrônico na cidade

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Reduzir o impacto ambiental é um dos objetivos da coleta do lixo eletrônico, na busca por maior sustentabilidade (Foto: Divulgação/E-Ambiental)

Além dos 30 pontos de coleta de pilhas e baterias disponíveis em Juiz de Fora, a E-Ambiental, empresa recicladora de lixo eletrônico, também atua realizando o recolhimento de lixo eletrônico na cidade. A empresa firmou parceria com a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) a fim de melhorar os índices de reciclagem do município por meio de uma campanha itinerante de recolhimento dos materiais. “A campanha de coleta itinerante de lixo eletrônico na cidade tem como objetivo reduzir o impacto ambiental causado pelo descarte irregular e compõe as ações promovidas pela PJF em prol da sustentabilidade. A ação acontece todo mês em diferentes pontos da cidade, e em edições do projeto Rua de Brincar”, afirmou a Prefeitura.

No dia a dia, a empresa possui duas formas de coletas de lixo eletrônico: a mais tradicional delas é o recolhimento nos pontos de coleta, chamados de ecopontos. Atualmente, os principais pontos são: Shopping Alameda, Shopping Santa Cruz, Amac Centro, Colégio Militar, Flaire Atacadista, Soul Academia, Colégio Academia e Park Sul. Outra opção é o Disque Coleta, por meio do qual a população pode acionar a E-Ambiental para buscar os resíduos em casa. A partir das demandas, a empresa traça uma rota para buscar os lixos que precisam ser reciclados.

A E-Ambiental também desenvolve palestras, oficinas e gincanas em colégio estaduais e municipais, “a fim de fazer com que as crianças entendam o processo de reciclagem e a importância desse resíduo ser descartado corretamente”, explica o coordenador da empresa, Thiago William da Cunha. “Acho que é importante a população entender esse processo, pois estamos falando de um material que contém metais pesados. Descartados incorretamente, ele polui os lençóis freáticos, então é um resíduo que acaba voltando para o ser humano de modo muito negativo “.

O coordenador ainda explica que, atualmente, o processo de reciclagem do material recolhido pela E-Ambiental é feito pela própria empresa. “Em primeiro lugar, esse resíduo passa por um processo de tiragem, onde cerca de 95% do material já é obsoleto. Então esse resíduo precisa ser desmontado para poder ser mandado para as indústrias responsáveis, a chamada logística reversa. A gente desmonta tudo, separando todo material presente, como o alumínio, o plástico e as placas, e isso volta para a indústria para criação de novos produtos. Esse lixo todo é desmontado pelo Centro de Remanejamento do Sistema Prisional de Juiz de Fora (Ceresp), pelos detentos”.

Especialista aponta necessidade de educação ambiental

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Tribuna flagrou descarte incorreto de pilhas em um canteiro próximo a um ponto de ônibus na Avenida JK, no fim de julho (Foto: Rafaela Carvalho)

Para além da necessidade de mais pontos para a realização do recolhimento correto de lixo eletrônico, o professor adjunto do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Juiz de Fora, Samuel Castro, acredita que é preciso também realizar ações de educação ambiental, “que apresentem periodicidade e frequência pré-estabelecidas, que promovam a mobilização social, conscientização, a não geração, redução, reutilização e reciclagem; ou seja, a destinação ambientalmente adequada dos nossos resíduos sólidos”.

De acordo com o professor, o descarte correto de pilhas é muito importante, pois “a destinação inadequada acarreta risco eminente, pois possuem, em sua composição, elevados teores de metais pesados, como mercúrio, cádmio e chumbo, que podem comprometer a qualidade dos solos, lençóis freáticos, cursos d’água, fauna e flora, podem se bioacumular e seguir pela cadeia alimentar, sendo um risco para todo ecossistema”.

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