Uma semana após transferência, usuários ainda relatam problemas no transporte público

Atrasos, não cumprimento de trajetos e suspensão de linhas estão entre as reclamações dos passageiros; gestão integral do Consórcio Via JF completou uma semana nesta quarta-feira


Por Leticya Bernadete

06/10/2022 às 07h45

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Em relato à Tribuna, usuários alegam que alguns motoristas estariam enfrentando para cumprir os trajetos (Foto: Felipe Couri)

Uma semana após o Consórcio Via JF assumir integralmente o transporte coletivo em Juiz de Fora, os usuários do serviço relatam ainda enfrentar diversos problemas. As reclamações enviadas à Tribuna dão conta de não cumprimento dos itinerários previstos, assim como atrasos e demora no atendimento pelos coletivos em diversas regiões da cidade. Segundo os juiz-foranos, os problemas continuam prejudicando a população, que esperava solução de todos os problemas enfrentados ao longo dos últimos meses, anteriormente à troca da Tusmil pelo Consórcio Via JF devido ao processo de caducidade aberto pela Prefeitura de Juiz de Fora (PJF).

Entre as reclamações feitas à reportagem estão as dificuldades que motoristas e cobradores que assumiram as linhas estariam enfrentando para cumprir os trajetos. De acordo com os usuários, os próprios trabalhadores já relataram falta de conhecimento do itinerário de algumas linhas, realizando, inclusive, rotas diferentes do previsto. O problema foi observado em linhas como a 524 (São Mateus), 527 (Santa Cecília) e 518 (Salvaterra).

Esta última, por exemplo, tem como ponto final a Fazenda Salvaterra. Porém, os moradores estariam sendo deixados na BR-040, a mais de três quilômetros de distância do local. O relato é de Marcos Vinicius Bernardo Souza, morador da região, que aponta que, apesar dos ganhos com os veículos novos, houve também perdas devido a esta questão com o itinerário.

Outro problema relatado à Tribuna tem relação com os horários dos ônibus, que estariam atrasando para chegar ao bairro. A primeira viagem, cujo horário de saída do Centro é 5h25, deveria passar no bairro por volta de 6h15, porém, estaria atrasando em mais de uma hora. O morador Marcos Vinicius informou que notificou a Secretaria de Mobilidade Urbana (SMU) sobre o problema, mas não teve retorno.

“Tem uma semana que estamos com esse problema. Há três dias, meus filhos não vão à escola, e minha esposa tem que subir a pé na BR porque o ônibus não está passando por aqui.” Conforme Marcos Vinicius, a família está recorrendo ao transporte individual por aplicativo por conta das dificuldades com a linha. Outros leitores da Tribuna também relataram preocupação devido aos atrasos, o que estaria prejudicando trabalhadores e estudantes.

Um morador do Bairro Amazônia, Zona Norte, que preferiu não se identificar, procurou o jornal para denunciar que a população da região está sendo prejudicada com a baixa oferta de veículos desde que o processo de transferência da Tusmil para o Consórcio Via JF se iniciou. A linha 610 (Amazônia) também estaria sofrendo atrasos. Na última terça-feira (4), por exemplo, sua esposa também precisou recorrer ao transporte por aplicativo por conta da falta de ônibus. O morador ainda informou que também relatou o problema à SMU.

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Moradores dos bairros Padre Café e Paineiras apontam dificuldades para utilizar a linha 501, que estaria circulando com atrasos e com muitos passageiros (Foto: Felipe Couri)

Linhas em falta desde a pandemia

Em março de 2020, 23 linhas de ônibus foram suspensas em quase todas as regiões da cidade devido à pandemia da Covid-19, conforme levantamento feito pela Tribuna a partir de dados da PJF. Em um vídeo postado no dia 16 de setembro, a prefeita Margarida Salomão (PT) havia anunciado a chegada dos novos veículos e mencionado que a Administração municipal pretendia retomar tais linhas, sem detalhar quais seriam ou quando elas deveriam ser retomadas.

Posteriormente, no dia 27, a PJF anunciou a retomada da linha 503 (Paineiras). Porém, três moradores da região relataram, nesta semana, que a mesma não estaria circulando. Além disso, a linha 501 (Padre Café/Jardim Glória) também estaria tendo atrasos e circulando com muitos passageiros, prejudicando o atendimento aos moradores do Bairro Paineiras, região central de Juiz de Fora.

Outra das linhas suspensas, a 437 (São Bernardo), ainda permanece sem retorno, por exemplo. O fato foi confirmado por Ana Paula Moreira, presidente da Associação de Moradores dos bairros São Bernardo, São Sebastião, Jardim do Sol e Cesário Alvim.

‘Estudos para otimizar sistema’

A Tribuna questionou a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) sobre os atrasos dos veículos, o não cumprimento dos itinerários e a respeito da retomada das linhas suspensas durante a pandemia. Em nota, a Administração municipal informou que, por conta da transição entre os consórcios, ainda estão ocorrendo adaptações e ajustes na operação. Além disso, reforçou que as denúncias sobre não cumprimento de horário e itinerário podem ser feitas pelo telefone 2104-7400.

“Em breve, todas as questões serão resolvidas, e a operação será normalizada para que a cidade tenha um serviço de transporte público ainda melhor. Diversos estudos estão sendo realizados para otimizar todo o sistema, e a previsão é que até o final deste ano sejam colocados em prática”, diz o texto.
A Tribuna também questionou o Consórcio Via JF sobre as demandas dos usuários, mas não teve retorno até o fechamento desta edição.

Funcionários da Tusmil foram recontratados pela Via JF, garante sindicato

Durante o processo de transferência das linhas operadas pelo Consórcio Manchester, a Via JF se comprometeu a recontratar os ex-funcionários da Tusmil. Em nota encaminhada à Tribuna, o Sindicato dos Trabalhadores em Transporte (Sinttro) garantiu que estes rodoviários foram priorizados durante a contratação e que estão trabalhando no transporte público. Entretanto, por motivos pessoais, alguns deles optaram por não migrar para a nova empresa.

“Ressalta-se que todos os trabalhadores da Tusmil tiveram preferência na contratação. Com isso, a empresa abriu a contratação de profissionais terceiros, os quais também já estão em atuação. Mas, por serem novatos no sistema e nas rotas, algum erro de itinerário pode acontecer, o que deve ser sanado aos poucos”, informou o Sinttro.

Ainda segundo o sindicato, até então, o setor jurídico ajuizou mais de 800 ações contra a Tusmil para cobrança de verbas rescisórias, sendo que estes serviços são prestados gratuitamente para a categoria. Ainda no texto, o Sinttro lamentou o ocorrido com a Tusmil, “lembrando que sempre teve com ela uma relação cordial e em defesa do trabalhador rodoviário, e espera que agora com o Consórcio Via JF operando o sistema em sua totalidade, o trabalhador tenha todos os seus direitos respeitados e a população possa ser bem atendida”.

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