JK e Rio Branco são vias mais perigosas da cidade



A Avenida Juscelino Kubitschek, principal via de ligação entre a Zona Norte e o Centro e importante acesso a rodovias da região, foi a que mais matou no trânsito de Juiz de Fora em 2013 e em 2014. Já a Avenida Rio Branco é a recordista de acidentes também nos últimos dois anos. Foram 692 casos no ano passado e outros 618 em 2013, ou seja 1310 registros neste período. A situação continua preocupante neste ano, com graves ocorrências, como a do acidente de ontem na altura da Garganta do Dilermando, que interrompeu o tráfego e deixou quatro feridos, entre elas um bebê, e o da mulher de 43 anos que morreu atropelada na via, na direção do Alto dos Passos, na última terça-feira.
Estas duas vias junto com as avenidas Brasil e Itamar Franco são responsáveis por 25% dos acidentes em Juiz de Fora, de acordo com levantamento da Tribuna, feito com base em todas as ocorrências da Polícia Militar ao longo dos dois últimos anos. As quatro avenidas também respondem por 40% dos acidentes com morte ocorridos no ano passado, quadro que continua sério nestes primeiros meses do ano. Além do óbito desta semana na Rio Branco, no dia 22 de janeiro, uma mulher de 60 anos foi atropelada na Itamar Franco, em São Mateus, e não resistiu, morrendo dias depois. Já no dia 30 de janeiro, um homem de 39 anos perdeu a vida ao ser atropelado na JK, altura do Bairro Nova Era.
Segundo os dados, no total dos dois anos foram registrados mais de 16 mil acidentes, sendo que houve uma pequena redução de 2013 para 2014. Apesar disso, nas avenidas Rio Branco e JK, os registros aumentaram. O que chama a atenção é que, apesar de a quantidade de acidentes fatais também ter tido uma redução (40 em 2013 e 27 em 2014), na JK o processo foi inverso (ver quadro). Já o número de feridos não foi divulgado pela Polícia Militar.
Para averiguar esta situação, a Tribuna esteve na Rio Branco e na JK em horários de pico, das 17h às 19h. Na Rio Branco, o principal problema se dá na área central, onde há grande aglomeração de pedestres e muitas travessias. Numa delas, inclusive, no cruzamento com a Rua Espírito Santo, um jovem de 15 anos foi atropelado esta semana.
Já na JK, vários flagrantes de imprudência e riscos no trânsito também foram observados, como pedestres que atravessam fora da faixa. No caso dos veículos, foram verificados retornos proibidos e ultrapassagem de sinais vermelhos. Outra característica da JK que acaba deixando-a ainda mais perigosa é a grande concentração de caminhões e ônibus, tanto de empresas particulares quanto interurbanos.
Desrespeito flagrante na Avenida JK
Diante da preocupação com a situação da Avenida JK, via com maior número de mortes no município, a Tribuna percorreu durante duas horas a via, observando o tráfego e o comportamento de motoristas e pedestres. Um aspecto que chamou atenção foi que, ao longo da via, existem vários pontos de ônibus em ambos os lados, mas poucas faixas de pedestres próximas. Em vários trechos, em toda Zona Norte, foram observadas sequências de travessias de risco. Vários pedestres atravessam pelo canteiro central, fora da sinalização própria e em meio a carros trafegando em alta velocidade. É comum ver, ainda, cenas de retornos proibidos.
O comandante do Pelotão de Policiamento de Trânsito (PPTran) da PM, tenente Rodrigo Oliveira, reconhece o perigo da JK e explica que a corporação identificou, por meio de estatísticas, a ocorrência de acidentes acima da média. “Uma série de acidentes despertou nossa atenção, e estamos com uma estratégia de fiscalização há meses. Temos dedicado operações na avenida para evitar ocorrências, principalmente com vítimas fatais. Uma de nossas ações tem sido realizar blitze que auxiliam na redução da velocidade, principalmente nos pontos críticos.” Para o tenente, seria interessante a colocação de radares e redutores de velocidade para diminuir os números. “Pedimos aos motoristas que respeitem a sinalização e a passagem de pedestre e procurem observar os avisos. É importante reduzir a velocidade, mesmo onde não há sinalização semafórica, e lembrar de manter a distância de segurança com o veículo da frente para que, em caso de emergência, a frenagem possa ser feita sem problemas.”
Afunilamentos
Para o consultor em trânsito e proprietário de autoescola, Sebastião Pires de Camargos, a JK sofre de problemas técnicos e comportamentais. “Os afunilamentos de pista que existem em alguns pontos, como em frente ao trevo do 27º Batalhão da PM, são propícios a causar acidentes. Isso é agravado pela alta velocidade e imprudência dos condutores.” Além da necessidade de ampliação da faixa, ele sugere a colocação de passarelas para pedestres e de iniciativas de diminuição de velocidade, como semáforo e quebra-molas.
Já na opinião do especialista em transportes, Cézar Henrique Barra, um dos principais problemas da via é sua geometria plana e com poucas curvas, que favorece o aumento da velocidade. Para proteção dos pedestres, ele também sugere a implantação de passarelas, mas pondera a dificuldade do uso em algumas situações. “Elas são boas para evitar o contato do pedestre com o veículo, mas existe o problema de idosos e pessoas com dificuldade de locomoção, que podem ser prejudicadas.”
Radar deve ser reinstalado no Jóquei
O subsecretário operacional de Transporte e Trânsito da Settra, Eduardo Facio, disse que a Prefeitura tem ciência da situação da Avenida JK e revelou propostas para melhorar o quadro. Ele relembrou, entretanto, da responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit), que deveria estar atuando na via. O Município é responsável pela manutenção da JK entre o trevo da BR-267, no Bairro Santa Lúcia, até a BR-040, na Barreira do Triunfo. Já entre o trevo até o viaduto, a responsabilidade é do departamento, que assumiu o compromisso pela manutenção da avenida por cinco anos. “Até agora, foi feito o recapeamento do trecho, mas ainda falta a revitalização da sinalização, algo que está demorando além do que foi proposto. Enquanto isso, diante da necessidade, o Município tem dado a manutenção.”
Segundo ele, já teve início a revitalização de toda a sinalização horizontal até a Barreira do Triunfo, trabalho que está sendo realizado, principalmente, no período noturno. Além disso, haverá ampliação do contrato de equipamentos de fiscalização eletrônica. “Com isso, vamos voltar com o radar que existia na altura do Jóquei e manter a observação para analisar a necessidade de novos.” Atualmente, a avenida possui dois radares, um Nova Era e outro no Cerâmica.
Por meio de assessoria, o Dnit informou que recuperou o pavimento da BR-267 coincidente com o perímetro urbano de Juiz de Fora por meio de intervenções funcionais, entre o Bairro Vila Ideal e o 27º Batalhão da PM.
Bebê e mais três feridos em batida na Garganta
Uma batida entre dois carros deixou quatro pessoas feridas, entre elas um bebê de 4 meses, e fechou o trânsito, na manhã de ontem, na Avenida Rio Branco, na altura da Garganta do Dilermando, região central. O Peugeot 206 e o Fiat Siena envolvidos no acidente ficaram atravessados na pista e, com a chegada de viaturas do Samu e Polícia Militar, o trânsito foi fechado nos dois sentidos por mais de uma hora. Antes de agentes da Settra controlarem o tráfego, a interdição causou tumulto, e alguns passageiros de ônibus preferiram desembarcar de coletivos que não conseguiram passar pelo trecho.
No Siena estavam o motorista, de 29 anos, a esposa dele, 30, e o filho do casal, de apenas 4 meses. O Peugeot era dirigido por um homem, 57. Apesar da violência da batida, as vítimas estavam conscientes, segundo a PM. Elas foram socorridas pelo Samu e encaminhadas ao Hospital de Pronto Socorro (HPS). Segundo a assessoria de comunicação da Secretaria de Saúde, os três adultos foram medicados e liberados. Já o bebê, permaneceu internado, mas estava lúcido, estável e orientado, aguardando avaliação da pediatria.
Com o impacto, o Peugeot teve a porta do motorista danificada, e o Fiat Siena ficou com o para-brisa estilhaçado e a frente danificada. Cones ajudaram a orientar motoristas, que precisaram desviar por ruas adjacentes até a pista ser liberada, após a remoção dos veículos.
Outra batida
No final da manhã de ontem, outro acidente, a poucos metros do primeiro, voltou a tumultuar o trânsito na região. Uma ambulância chocou-se contra a traseira de um caminhão-baú na Rio Branco, perto da esquina com a Rua Américo Lobo. Não houve feridos, mas a batida deixou o tráfego confuso no sentido Centro/Bandeirantes.