Uso de GPS leva a adequação de linhas
Todos os ônibus urbanos de Juiz de Fora já estão sendo acompanhados, em tempo real, por um Centro de Controle e Monitoramento, instalado na Settra. Utilizando a tecnologia de rastreamento via satélite GPS – a mesma que agora permite ao usuário saber a previsão de chegada dos ônibus nos pontos – é possível analisar e acompanhar todo o trajeto dos coletivos nas ruas. O sistema permite, entre outros serviços, descobrir se o ônibus saiu atrasado do bairro, passou direto em algum ponto de parada, desviou da rota estabelecida, ou ainda, se está fazendo comboio. Após nove meses do início da implantação, a avaliação é positiva: cerca de 150, das 268 linhas da rede, já tiveram seus quadros de horários ou itinerários modificados porque constatou-se que o tempo antes estimado para cada viagem estava inadequado. Além disso, alguns abusos por parte das empresas foram identificados e, muitos deles, já corrigidos, conforme o titular da pasta, Rodrigo Tortoriello.
Até então, este mesmo controle era feito de forma que dificultava a identificação dos problemas. Isso porque cabines no Centro apenas verificavam se o ônibus havia cumprido ou não sua viagem. No entanto, não era possível saber o comportamento destes mesmos coletivos nos bairros, onde estão concentradas as principais reclamações dos usuários. Em reportagem especial publicada pela Tribuna em junho de 2014, quando 20 linhas urbanas foram testadas, as denúncias de que motoristas matavam viagem no ponto final ou, ainda, encurtavam caminhos, deixando de passar em algumas ruas, foram frequentes. Uma das rotas testadas, a 145 (Centenário/Santa Efigênia), foi a que o repórter precisou esperar, na época, mais tempo no ponto para embarcar. Os problemas foram denunciados também pelos moradores. A Settra descobriu abusos na linha e, desde a implantação do GPS, não há mais reclamações na pasta.
Conforme Tortoriello, a postura de alguns condutores mudou desde a instalação do GPS, iniciada em março do ano passado. “Um exemplo interessante é que, em março, uma amiga da minha família disse que se impressionou que o ônibus estava pouco atrasado. Na ocasião, o motorista respondeu que agora tinha que andar no horário, por causa da nova ferramenta. Detalhe é que os ônibus desta empresa ainda não tinham o equipamento instalado. Agora acabou a desculpa.”
‘Tempo indevido’
Para o subsecretário de Mobilidade Urbana, Mauro Branco, o que existe é um monitoramento, que vai muito além de identificar abusos. “Ao longo destes meses, constatamos que o tempo de cumprimento de muitas rotas era indevido, para mais ou para menos. Então vimos que várias linhas precisavam ser readequadas. Fizemos isso e passamos a acompanhar o resultado. Isso tudo porque desejamos um sistema regular, com tempo mínimo de espera dos usuários nos pontos, mas de acordo com a demanda”, explicou, citando também o pensamento equivocado da população de que ônibus parado no ponto final é algo errado. “O motorista pode até chegar antes no ponto final, mas não pode sair antes, nem depois. Ele precisa sair na hora para evitar o comboio, e é esta a regra que precisa ser seguida.”
Ter tempo para ir ao banheiro ou beber água na maior boa vontade de cumprir o previsto.”
Sinttro diz que trânsito era maior empecilho
Conforme o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Público Urbano (Sinttro), Adilson Antônio Rezende, o monitoramento é visto com bons olhos pelos profissionais. Isso porque, agora, é provado que muitos dos condutores não conseguiam cumprir os horários por causa do trânsito, e não por culpa deles. “De todas as linhas, estimamos que precisam alterar o quadro de horários de 90% delas. Um exemplo é o ônibus que atende a UFJF, no qual os motoristas precisam, em 22 minutos, sair do Centro, circular por todo o campus e voltar para o Centro, e ainda não houve alterações.” Perguntado se a categoria reclama de estar sendo vigiada, ele afirma que não, e defende que muitos dos abusos ocorriam justamente na tentativa de cumprir os horários. “Isso acontecia mesmo (encurtar viagens nos bairros), mas não com intuito de burlar o sistema, mas na expectativa de regular a viagem. Muitos profissionais trabalham oito horas por dia sem ter tempo para ir ao banheiro ou beber água na maior boa vontade de cumprir o previsto.”
Interação com motoristas em tempo real
Não é apenas a Settra que tem acesso ao sistemas que permitem acompanhar a rotina do transporte público em Juiz de Fora. Os dados são compartilhados também com as empresas. Cada uma delas instalou nas garagens um Centro de Controle Operacional, que possibilita acessar o comportamento de toda a frota. Desta forma, é possível haver interação entre Poder Público e empresas. O intuito é, não somente cobrar melhorias quando falhas são identificadas, como também comunicar eventos não esperados, como ruas interditadas ou acidentes de trânsito. Uma novidade, ainda em fase de implantação, é que estas situações agora podem ser informadas em tempo real aos motoristas. Cada ônibus da cidade já está equipado com um dispositivo capaz de enviar mensagens de textos aos condutores, com a possibilidade de respostas deles. Ou seja, ele pode explicar porque a viagem está atrasada ou adiantada, ou ainda ser informado da necessidade de algum desvio de rota em razão de interdições ou acidentes.
De acordo com o supervisor de monitoramento e controle do transporte da Settra, Luciano Braida, uma equipe formada por servidores da Settra acompanha os ônibus na cidade o dia todo. O sistema, automático, pontua negativamente a linha que sai do ponto inicial antes ou depois do previsto, faz comboio, viaja atrasado, desvia rota ou encurta viagem. Quando o número de eventos é considerável, estes servidores entram em contato com as empresas com o intuito de questionar o porquê da falha e cobrar soluções para o problema. Em casos extremos, podem ocorrer advertências ou até multas.
Resposta ao usuário
A grande vantagem em informatizar o monitoramento, conforme Braida, é a possibilidade de dar resposta rápida ao usuário. Antes, quando havia uma reclamação, os fiscais precisavam solicitar e analisar as imagens dos ônibus para comprovar ou não o erro. “Agora conseguimos em minutos saber se ele passou ou não no ponto, e se parou. Agora os próprios motoristas percebem que são vistos também nos bairros. Antes isso só acontecia no Centro, sem saber se ele cumpriu ou não toda a rota. Se ele não chegar ao ponto final, a viagem não é registrada, e o condutor precisa se explicar para sua empresa.”