Casos de raiva em área urbana de Juiz de Fora acendem alerta; especialista reforça prevenção
Zona da Mata é área endêmica e focos estão ligados à presença de morcegos-vampiros. Vacinação anual de animais domésticos e de criação é a principal forma de prevenção

Três bovinos morreram em Juiz de Fora após contraírem o vírus da raiva neste ano. Os casos ocorreram entre o fim de maio e o início de junho, em duas propriedades da área urbana, e foram confirmados por exames realizados no Laboratório de Saúde Animal, em Belo Horizonte.
Segundo o fiscal agropecuário e médico-veterinário do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), Luciano Puga, desde então não houve novos registros na cidade. “A região é endêmica para raiva. Casos esporádicos sempre acontecem na Zona da Mata mineira. A diferença agora é que ocorreram em área urbana”, explicou.
Prevenção e vacinação
A principal forma de prevenção continua sendo a vacinação anual de cães, gatos e animais de criação. “Cães e gatos devem ser vacinados anualmente nas campanhas municipais ou com um veterinário de confiança”, reforça Puga.
Além da imunização, o IMA recomenda comunicar a presença de animais com sinais neurológicos – como dificuldade de locomoção, movimentos involuntários ou falta de apetite -, não manipular a boca de animais com suspeita da doença e informar sobre morcegos com comportamento atípico, como voar durante o dia ou aparecer caídos.
O diagnóstico da raiva em animais só pode ser confirmado após a morte, com análise laboratorial do encéfalo. O controle de morcegos hematófagos deve ser realizado exclusivamente por profissionais treinados, vacinados e com equipamentos de proteção.
Relação com morcegos-vampiros
De acordo com Puga, a situação não exige alarme, mas atenção. Os focos da doença estão associados à presença de morcegos hematófagos, conhecidos como morcegos-vampiros, e à ausência de vacinação dos animais. Esses morcegos preferem áreas desabitadas, rurais e próximas a fontes de alimento, como bovinos e equinos.
A Zona da Mata e os Campos das Vertentes concentram locais que podem servir de abrigos naturais, como cavernas, ocos de árvores, casas abandonadas e bueiros. Puga reforça, entretanto, que matar morcegos é crime ambiental. “Existem mais de 140 espécies de morcegos no Brasil, mas apenas três são vampiros. A grande maioria se alimenta de frutas, insetos, néctar, peixes e até carne. Eles são fundamentais para o equilíbrio ecológico.”
Situação na região de Juiz de Fora
Na microrregião da Saúde de Juiz de Fora, que inclui 12 municípios (Belmiro Braga, Chácara, Chiador, Coronel Pacheco, Ewbank da Câmara, Goianá, Marias Barbosa, Piau, Rio Novo, Santana do Deserto e Simão Pereira), foram registradas 25.142 notificações de atendimento antirrábico humano desde 2015. Destas, 22.191 estavam relacionadas a mordeduras, 2.433 a arranhaduras e 417 a lambeduras. Em 20.333 casos, o animal agressor foi um cão; em 3.372, um gato; e em 109, morcegos.
Entre 2024 e 2025 foram 3.434 notificações, sendo 796 apenas neste ano, com 96,91% dos registros em área urbana.
Em relação aos animais atendidos pelo IMA, entre janeiro de 2020 e agosto de 2025 houve 13 ocorrências de doenças neurológicas. Nove foram confirmadas como raiva, sendo cinco em bovinos.
Raiva humana: 10 anos sem casos no Brasil
Apesar do elevado número de notificações de atendimento antirrábico, o Brasil completou dez anos sem registro de casos humanos. O último ocorreu em 2015, no Mato Grosso do Sul, em região de fronteira com a Bolívia. Antes disso, havia registro em 2013.
A doença
A raiva é causada por vírus do gênero Lyssavirus, que atinge o sistema nervoso central e provoca lesões inflamatórias no cérebro, com quase 100% de letalidade. Em humanos, a transmissão ocorre principalmente por mordidas, arranhaduras ou lambeduras de animais infectados, quando o vírus penetra por pele lesionada ou mucosas.
A doença tem distribuição mundial e causa de 40 mil a 70 mil mortes por ano, sobretudo em países em desenvolvimento. O período de incubação pode variar de poucos dias a mais de um ano, sendo em média 45 dias, com evolução mais rápida em crianças.
**Estagiária sob a supervisão da editora Carolina Leonel