Idosos temem quedas em calçadas esburacadas
Pesquisa do Instituto René Rachou, da Fiocruz, aponta que 43% da população brasileira acima de 50 anos têm medo de cair devido a defeitos nos passeios
Seja por um desnivelamento ou uma pedra solta na calçada, os idosos precisam redobrar a atenção ao andar nas vias. Uma pesquisa coordenada pelo Instituto René Rachou, unidade regional da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Minas Gerais, apontou que 43% da população brasileira acima de 50 anos têm medo de cair na rua devido a defeitos em calçadas. A Tribuna chama atenção para este quadro na Semana do Idoso, em que se comemora o Dia Internacional do Idoso (1º) e os 15 anos do Estatuto do Idoso.
Apesar do medo, a orientação é que os idosos não deixem de andar nas ruas por estas questões, de acordo com Rosângela Bonoto, coordenadora do Centro de Convivência do Idoso (CCI). Os problemas em calçadas são reclamações constantes dos que frequentam a instituição. Para isso, o CCI realiza determinadas instruções. “Buscamos orientar até para que eles não deixem de sair de casa e realizem suas tarefas. Andar mais próximo ao muro, ter cuidado, sair de casa um pouco mais cedo, porque, embora eles encontrem essa dificuldade, precisam desenvolver suas atividades, precisam sair de casa”, explica. “Quando o idoso está em uma idade mais avançada, a própria família fica o aconselhando a não sair de casa para evitar um tombo ou um problema de saúde maior. Sabemos que isso não é bom para a pessoa, independente da faixa etária. Acaba levando a um processo de depressão, porque a pessoa deixa de estar inserida nas ações da vida diária e na sociedade.”
A aposentada Adilma de Oliveira Campos, de 74 anos, já sofreu duas quedas enquanto caminhava pela cidade. Uma foi na Avenida Presidente Itamar Franco, próximo ao 4º Depósito de Suprimentos (DSup) do Exército, por conta de pedras soltas na via, e outra foi na Avenida Rio Branco, próximo ao Serviço Social do Comércio (Sesc), onde, de acordo com Adilma, acabou caindo em um buraco ao desviar de outro. “Já tem uns dois meses, eu fiquei internada e levei pontos no nariz e na testa”, conta. “A gente fica com medo, tem que ir com toda a atenção agora e rezando. Mas com todo cuidado, ainda acontece de machucar.”
Arquiteto diz que JF não é acessível
Segundo o professor de Arquitetura da UFJF, Emmanuel Pedroso, “em muitos casos, os idosos preferem não andar pela cidade, por medo das várias barreiras que certamente irão enfrentar. Tal quadro, recorrente na maior parte dos municípios brasileiros, também pode ser verificado em Juiz de Fora. Nossa cidade não é acessível, entendimento este que pode ser alcançado ao percorrermos a maioria de nossas praças, ruas e, sobretudo, calçadas”.
De acordo com o arquiteto, que tem como linhas de pesquisa a acessibilidade e o idoso, as pessoas da terceira idade podem se deparar com até quatro tipos de barreiras nas calçadas locais. A primeira está relacionada à utilização de material inadequado, o que traz um alerta a riscos de quedas decorrentes de pedra portuguesa, em especial na região central. Outras duas dizem respeito ao estado de conservação que, segundo Pedroso, não está relacionado somente a buracos, mas também à sinalização desgastada ou depredada, além da própria ausência de calçadas em determinados bairros de Juiz de Fora, que contam com vias onde o trânsito de veículos é privilegiado. Por último, “a não adoção ou aplicação equivocada de soluções em acessibilidade, evidente na restrição do piso tátil a pequenos trechos do espaço público urbano, na falta de rampas ou na construção das mesmas de maneira errada”.
“Tais barreiras acabam por prejudicar diretamente a utilização de nossas calçadas pela população idosa. A partir do comprometimento de seu deslocamento pelo município, o idoso pode não mais ter contato com os lugares com os quais se identifica ou fazer as atividades que deseja, questões essenciais à preservação de sua autonomia e independência diante do espaço público urbano e de seu afeto pela cidade”, afirma Pedroso.
Quedas servem de alerta à saúde em idosos
As consequências de quedas de pessoas idosas são críticas, de acordo com o gerontólogo José Anísio Pitico da Silva, especialmente por serem mais fragilizadas devido ao próprio envelhecimento. “Com a idade, nós tendemos a ter esse declínio da capacidade em função de alterações fisiológicas que acontecem no nosso organismo”, explica. “As quedas levam, em algumas situações pela própria reincidência, até a óbitos porque há comprometimento depois de respostas fisiológicas que comprometem a funcionalidade da pessoa idosa.”
Segundo o especialista, é necessário se atentar a essa reincidência de quedas, principalmente por servirem de alerta a problemas fisiológicos, orgânicos ou mesmo de respostas mentais do idoso. “Assim como a febre está para crianças, no sentido de chamar a atenção da mãe ou do pai, para que imediatamente precise ir a um pediatra ou profissional de saúde, as quedas representam, para as pessoas idosas, um termômetro também no sentido de que é importante que leve ao médico o quanto antes”, exemplifica. “Se for recorrente, por exemplo, cair mais de três vezes ao ano, é importante que seja investigado do ponto de vista médico, porque pode estar sendo um princípio de diagnóstico de algum princípio de formação de doenças neurológicas na esfera de resposta cerebral.”
Para o especialista, há uma necessidade de trabalhar em ações de prevenção, bem como uma preparação para a maior presença dessa faixa etária no cotidiano. “Às vezes, o que é simples ao nossos olhos é extremamente delicado e preocupante com os idosos. Daí a importância de conversar nos ambientes com idosos, trabalhar em campanhas até educativas sobre como prevenir quedas em pessoas idosas”, afirma. “É preciso que as cidades, de um modo geral, estejam atentas a essa presença cada vez maior e que tende a ser ainda mais frequente no nosso dia a dia. Que possa oferecer segurança, bem-estar, e não que a cidade tire a presença das pessoas idosas das ruas”, finaliza.
Fiscalização
Em Juiz de Fora, os proprietários de imóveis são responsáveis pela construção e manutenção dos respectivos passeios em seus lotes, devendo mantê-los em perfeito estado de conservação e limpeza, segundo o Código de Posturas do Município. Em 2018, a Secretaria de Atividades Urbanas (SAU) realizou 530 ações de fiscalizações, entre diligências, notificações, intimações e autuações relacionadas à construção ou manutenção de passeio por parte dos proprietários. Já em relação à obstrução de via pública ou calçada, a SAU emitiu 509 documentos, sendo 52 autos de infração. Em nota, a pasta informou que “realiza a fiscalização e intimação rotineiramente dos responsáveis para que mantenham as suas calçadas regularizadas, autuando-os quando a determinação não é cumprida”.
A pasta também entende que a atuação de ambulantes clandestinos é outro ponto que causa obstrução de calçadas, atrapalhando a locomoção segura de pedestres. Neste ano, 6.315 itens foram apreendidos pela fiscalização, como vestuário, calçados, equipamentos elétricos, entre outros, além de quase seis mil caixas de alimentos. Denúncias podem ser feitas nas oito Regionais de Fiscalização da SAU.