Combinação perigosa na Brasil


Por MARCOS ARAÚJO

05/08/2015 às 07h00- Atualizada 05/08/2015 às 08h30

Mesmo com crianças, pedestres se arriscam fora da faixa (Marcelo Ribeiro/24-07-15)

Mesmo com crianças, pedestres se arriscam fora da faixa (Marcelo Ribeiro/24-07-15)

Apesar de pedestre estar na faixa, celular distrai sua atenção (Marcelo Ribeiro/04-08-15)

Apesar de pedestre estar na faixa, celular distrai sua atenção (Marcelo Ribeiro/04-08-15)

O abuso de pedestres na Avenida Brasil e a alta velocidade dos carros são uma combinação perigosa. O resultado é o risco diário de atropelamentos e acidentes, como acontece no trecho entre a ponte da Rua Halfeld e a Rua Santo Cólsera, na região central, onde, apesar da existência de duas faixas de pedestres, muitos resistem em usá-las e colocam-se em risco, disputando espaço entre os veículos. Para tentar evitar os excessos, um novo radar começou a funcionar no último sábado, próximo à Ponte Wilson Coury Jabour Júnior.

Esta parte da Brasil, que tem ligação com o Centro de Juiz de Fora, é considerada uma das mais críticos de toda a sua extensão pelo Pelotão de Policiamento de Trânsito da Polícia Militar (PPTran) e pela Settra, no que diz respeito à travessia, já que concentra grande circulação de pessoas. Depois dela, aparecem como pontos perigosos a interseção com a Avenida Rio Branco, no Manoel Honório, e o trecho entre as pontes do Ladeira e da Benjamin Constant.

A Brasil está entre as vias com maior número de mortes por atropelamentos na cidade, com cinco registros nos últimos dois anos, ficando atrás das avenidas JK e Rio Branco. De janeiro a abril deste ano, sete atropelamentos foram registrados ao longo da via, segundo dados do último levantamento do PPtran. Contudo, é possível que haja subnotificação, uma vez que, em casos de menor gravidade, a vítima deixa de registrar a ocorrência.

Em maio, uma idosa de 71 anos morreu na via próximo à ponte da Rua Halfeld, quando foi atingida por uma Scania e chegou a ser arrastada por alguns metros, ficando presa na roda da carreta. Para verificar a situação, a Tribuna esteve no local por dois dias e flagrou diversos abusos, como pedestres atravessando fora da faixa, fazendo a travessia de olho no celular ou com fone no ouvido. Outra cena comum observada foi a de usuários do transporte coletivo correndo entre os carros para embarcar no ônibus parado no ponto existente no trecho. O ambulante que atua no local, Daniel do Nascimento, 33 anos, contou que, a todo momento, presencia pessoas em risco. “Os veículos passam por aqui a 80 km ou 100 km por hora, tornando a avenida muito perigosa. Além disso, as pessoas não respeitam a faixa”, argumenta. Ivan Guilherme, que trabalha na área há 30 anos, tem a mesma opinião. “O pedestre aqui atravessa em qualquer lugar, e isso é um perigo porque o trânsito é pesado.”

Para o comerciante Rafael Monteiro, 37, os problemas vão além do comportamento do pedestre. “Taxistas param em fila dupla, motoristas não estacionam o carro direito, e tudo isso influência na segurança de todos. Acho que é um trecho que necessita de fiscalização intensa”, afirma. “Não dá para arriscar. Depois da implantação do binário na avenida, os veículos estão abusando demais da velocidade acima do permitido”, diz o técnico em eletrônica Pablo da Silva, 29, um dos poucos que, no momento em que a reportagem estava no local, fez a travessia na faixa de pedestre.

Excessos aumentaram após instalação de binário

Com a implantação do binário na Avenida Brasil, conforme o titular da Settra, Rodrigo Tortoriello, motoristas têm ultrapassado o limite de 60km por hora permitido na via. A implantação de radares é uma das medidas adotadas para diminuir os abusos. Atualmente são três pontos de radares localizados na altura do Bairro Santa Teresa, Zona Sudeste; no cruzamento da Brasil com a Avenida Rio Branco, região Leste; e no Bairro São Dimas, Zona Norte. No trecho próximo à ponte da Rua Halfeld, um equipamento começou operar no último sábado, no sentido Poço Rico/Manoel Honório, na altura do número 248. Neste caso, as autuações iniciam-se a partir do próximo dia 10. Quanto à presença de fiscais, Tortorielo afirma que a avenida é fiscalizada. “O que acontece é que não temos condições de disponibilizar um agente 24 horas para o local e para qualquer outro ponto da cidade. A fiscalização é rotativa.”

Sobre a conduta dos pedestres, o titular da pasta diz que a Settra desenvolve campanhas de conscientização e lembra que o transeunte também deve observar as leis de trânsito. Ele ainda garante que já há previsão de instalação de outro radar no trecho entre as pontes do Ladeira e da Benjamin Constant.

Para o comandante do PPtran, tenente Rodrigo Oliveira, a não existência de mão dupla na Brasil resulta em maior fluidez de veículos, o que pode ocasionar em abusos. Mas o militar adverte que, mesmo trafegando na velocidade permitida, o veículo, numa colisão com o pedestre, pode tirar a vida. “Antes de iniciar a travessia, é preciso observar o fluxo de veículos, o contra-fluxo, às vezes, vem uma bicicleta ou uma carroça na contramão, que são situações que vão potencializar o risco. Os dois lados da via precisam ser observados, e o ideal é que a travessia seja feita na faixa de pedestre.”

No caso do cruzamento entre a Brasil e a Rio Branco, no Manoel Honório, o comandante do PPtran alerta: “É uma faixa extensa, com grande fluxo de pessoas e com muitas pistas de veículos cruzando a região, exigindo uma demanda de tempo maior para a travessia e atenção redobrada do pedestre.”

Dificuldade de locomoção e uso de eletrônicos

Idosos, pessoas acompanhadas de crianças ou bebês no colo e carregando sacolas, conforme o comandante do PPtran, Rodrigo Oliveira, precisam ter atenção redobrada nas vias de grande circulação de veículos. “Quando a locomoção é mais difícil em razão da idade avançada ou por outro motivo, a pessoa deve esperar o tempo do semáforo para atravessar em segurança”, aconselha. Ele também lembra que o uso de equipamentos eletrônicos, como celular e fone de ouvido, dispersam a atenção do pedestre, fazendo-o não perceber a aproximação do veículo.

“O motorista é responsável pela segurança do transeunte, pois o código entende o pedestre como a parte mais frágil. Assim, o condutor deve respeitar o limite de velocidade da via, respeitar o pedestre que já iniciou a travessia, reduzindo a velocidade e aguardando a finalização. Se a sinalização do semáforo encerrou o tempo da travessia, o motorista deve aguardar o pedestre terminar antes de arrancar”, destaca o tenente, também chamando a atenção para o conduta do pedestre. “Este deve ter a consciência, de que, algumas vezes, o motorista não tem como percebê-lo do local onde começa a fazer a travessia. Então, o pedestre precisa se colocar em um ponto visível ao motorista, que deve estar atento e nunca usar celular ao dirigir e nem pegar o volante sob efeito de bebidas alcoólicas, pois diminuem o reflexo do condutor.”

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