População de Matias Barbosa cobra ação contra danos causados pela chuva
Moradores do Bairro Monte Alegre, de Matias Barbosa (MG), reuniram-se na manhã desta segunda (5), com o prefeito da cidade, Joaquim Nascimento (PSB), para cobrar ações relativas aos danos causados pela forte chuva que atingiu o município no domingo (4). A principal demanda da população refere-se à limpeza e à manutenção de uma galeria construída para contenção do trecho de um córrego que corta todo o bairro na Avenida Presidente Antônio Carlos, e teria sido o principal agravante para o alagamento da região, fato confirmado pelo chefe do Executivo. “A galeria estreitou o córrego e diminuiu sua fluidez. Além disso, o acúmulo de resíduos, seja por depósito inadequado por parte da população ou pela correnteza da enchente que vai arrastando todo o tipo de objeto, também contribuiu para o alagamento da região”, afirma. Outra complicação diz respeito ao próprio crescimento do bairro: com a construção de mais casas, aumentou-se a área impermeabilizada do solo, dificultando o escoamento da água pluvial. “O problema é que as intervenções no local normalmente são barradas por questões ambientais, há muita burocracia”, destaca o prefeito.
[Relaciondas_post] Os danos foram causados pelo intenso temporal que atingiu Matias Barbosa no último domingo (4), começando em torno das 16h40 e durando cerca de 40 minutos. Os prejuízos com perdas de móveis e eletrodomésticos se somou ao provocado por outra tempestade, no dia 22 de dezembro, que tingiu o mesmo bairro. Ainda no domingo, depois da enxurrada, a população fez uma manifestação em frente à Prefeitura, levando entulhos e ateando fogo em objetos, protestando contra a falta de iniciativa do Governo municipal em relação aos estragos da chuva. A intenção era fazer um novo protesto na manhã desta segunda, mas o prefeito recebeu os moradores em seu gabinete para ouvir as demandas e reclamações.
Na reunião, o chefe do Executivo se comprometeu a manter monitoramento e limpeza periódicos da galeria e informou, ainda, que um engenheiro hidráulico fará a avaliação do local para que sejam tomadas providências que garantam a fluidez das águas do córrego e evitem que o problema volte a acontecer. Segundo Joaquim Nascimento, esta foi a terceira ocorrência desta natureza no período de seus dois mandatos, mas os moradores da região afirmam que os estragos registrados com as chuvas deste domingo e as do dia 22 de dezembro de 2014 foram maiores do que em qualquer outro. “Moro no bairro há 46 anos e, antes da galeria, não havia alagamento. Mesmo assim, antes a rua ao lado (Rua Antônio José do Couto) não era atingida, e hoje a água está chegando lá. Teve casa em que a enchente passou a altura da cintura das pessoas, mesmo estando longe do córrego. É preciso haver uma ação urgente para evitar mais transtornos. No dia 22, choveu assim também, e a Prefeitura não fez nada, teve até recesso de fim de ano”, denuncia o pedreiro Marcelo Vitorino da Silva, de 57 anos. “Minha casa não foi atingida, mas teve gente que perdeu tudo”, solidariza-se o morador.
Em relação ao atendimento após a chuva do dia 22 de dezembro, o prefeito reconhece que houve falha. “Estamos mobilizando recursos para evitar novos danos e para que vocês (os moradores) possam se reerguer. Soube que muitos encarregados encerraram expediente cedo e deixaram de atender muitas famílias e moradias, mas não tenho como controlar todo o serviço. Minha maior preocupação foi disponibilizar meios que a população não consegue sozinha, esse é meu trabalho”, diz. Uma das famílias que teve grande prejuízo foi a da cabeleireira Daniele Coutinho Francisco, que fica a mais de 100 metros das margens do córrego. “Tive os mesmos problemas que as pessoas que moram ali perto. Entre móveis, eletrodomésticos e outros pertences, estimamos um prejuízo de cerca de R$ 25 mil, só salvamos a geladeira”, conta ela, que nunca havia tido a casa afetada pela enchente.
De acordo com dados da Prefeitura de Matias Barbosa, 55 famílias foram afetadas pelo alagamento no dia 22, número que se repete para a estimativa de atingidos ontem. Não há levantamento de desabrigados, apesar de haver notificação de moradores que se dirigiram a casas de parentes e amigos. Uma escola foi disponibilizada pela Administração Pública para receber os desalojados, mas não houve solicitação de abrigo. “Estamos desabrigados sim, mas continuamos em casa porque temos medo de que roubem o que nos sobrou”, rebate, emocionada, a aposentada Ana Maria Augusta Bahia, de 60 anos, moradora há 40 do bairro Monte Alegre. Também na reunião, o chefe do Executivo se prontificou a verificar a possibilidade de aumento do policiamento na região neste momento, já que muitas portas, portões, muros e outras divisas foram levados pela enxurrada.
Apoio para medidas emergenciais
A Prefeitura informou também que disponibilizará apoio para que as divisas sejam reerguidas, desde que estejam de acordo com as normas municipais e sejam erguidas em local autorizado. “A construção destas divisas em local inadequado e de forma irregular é mais um fator para agravar os efeitos da tempestade, então vamos fazer essas obras pensando em evitar problemas no futuro”, destaca. Ainda na reunião, os moradores reclamaram da falta de abastecimento de água na região, justamente neste momento em que é necessário fazer a limpeza dos imóveis. Joaquim Nascimento informou que a Copasa já está ciente do problema e disse, ainda, que solicitou a liberação das despesas referentes ao gasto de água para limpeza dos estragos causados pela chuva.
No momento, equipes da Prefeitura atuam, em esquema emergencial, na recuperação dos imóveis e ruas e no contingenciamento dos danos causados pela chuva. A Secretaria de Obras realiza a limpeza das casas e ruas, retirando barro e resíduos arrastados pela chuvas, incluindo móveis e outros pertences destruídos pelas águas, visando a impedir o agravamento em caso de novos alagamentos. Já a Secretaria de Saúde trabalha junto à população fazendo monitoramento e fornecendo informações a respeito de doenças transmissíveis pelas águas pluviais. A Assistência Social, por sua vez, tem feito acompanhamento para detectar a necessidade de abrigo ou qualquer outro tipo de apoio que possa ser fornecido pela Prefeitura. O Prefeito assegurou à população que serão providenciados alimentos, água potável e para abastecimento, colchões e materiais de limpeza, e solicitou que os moradores façam registro de suas perdas e demandas. “Estamos aqui para isso, não temos como estar em todos os lugares. Sou um só, se for para o bairro para ser fotografado enfiando o pé na lama e fazendo donativos, ajudo muito menos do que mobilizando todos os órgãos e recursos a que somente eu tenho acesso”, reiterou o chefe do Executivo, que já decretou estado de emergência no município, status que, segundo ele, ainda precisa ser validado pela Defesa Civil Estadual e Federal.
Ainda buscando conter possíveis estragos até o fim do período das chuvas, o Prefeito afirmou ter se cadastrado em um sistema de alertas meteorológicos, que busca antecipar informações sobre possíveis temporais. “Com isso, poderei avisar a moradores em pontos estratégicos do bairro sobre o risco de novas tempestades, e eles servirão como multiplicadores desta informação. O problema é que não há muita antecedência nesta previsão, apenas algumas horas, com isso, nossa prioridade absoluta é salvar vidas, já que possivelmente não haverá tempo para medidas que preservem os bens materiais e os imóveis. Estamos pensando no que é mais importante: a população.”
A longo prazo
Segundo o prefeito Joaquim Nascimento, havia a previsão da liberação de R$ 500 mil do Ministério da Integração, e possíveis R$ 200 mil do Município, referentes a um projeto de medidas mitigadoras de enchente, recurso que foi cancelado pelo ministério em novembro de 2013. O prefeito informou que o projeto será reencaminhado, atualizado com os danos causados pela chuva entre dezembro do ano passado e janeiro de 2015, visando a ressaltar a necessidade de intervenções que garantam a captação e o escoamento das águas pluviais, hoje retidas em grande parte na galeria construída no córrego. Caso o projeto seja aprovado, há estimativa de que algumas residências próximas ao córrego precisem ser desapropriadas, mas não foram fornecidos mais detalhes sobre a obra.