JF vive expectativa de ampliação de escolas em tempo integral
Profissionais relatam à Tribuna os desafios que enfrentam para oferecerem as atividades da melhor maneira para a formação dos alunos
A Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação (MEC) anunciou esta semana que o Programa Escola em Tempo Integral terá um investimento de R$ 4 bilhões para que os estados e os municípios possam ampliar a oferta dessa modalidade em suas redes, aumentando o número de matrículas de tempo integral nas escolas de educação básica de todo o Brasil em 2023 e 2024. As regras para adesão foram publicadas nesta quarta-feira (2). Em Juiz de Fora, em 2023, a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) informou que são 18 escolas que oferecem esse turno para os alunos, proporcionando vivências como música, arte, projetos de leitura, áreas de conhecimento, introdução ao mundo do trabalho, construção de “Projeto de vida”, desenvolvimento do empreendedorismo, atividades integradoras de enriquecimento curricular e/ou componentes curriculares de formação técnica e profissional, pesquisas, aulas de informática e muito mais. Entre os estaduais, segundo o site querointegral.org/mg/, do Instituto Sonho Grande, são 15 colégios. Diante desse cenário, a Tribuna ouviu profissionais dessas escolas sobre a importância que esses espaços têm e os desafios que enfrentam para oferecer as atividades da melhor maneira possível para a formação dos alunos.
Na Escola Municipal Nilo Camilo Ayupe, que fica no Bairro Paineiras, o foco é na educação infantil, atendendo cerca de 180 alunos de 4 a 5 anos em turno integral. Nesse momento do aprendizado, o turno consegue intensificar as brincadeiras e a interação entre os pares, que são o principal eixo de aprendizado. “Eles frequentam a escola das 8h às 16h, e no turno da manhã, além das atividades regulares, temos educação física e arte. No turno da tarde, temos música e expressão corporal, além das vivências planejadas para essa faixa etária”, explica Rejane Cristina Fonseca, diretora da escola. Para ela, a importância de ter esse oferecimento é que as crianças passam a vivenciar atividades diversificadas e mais ricas enquanto os pais também podem trabalhar com mais tranquilidade e saber que as crianças estão sendo bem cuidadas. É justamente o caso de Rosimar Adriano Cesário, que trabalha como terceirizada na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e colocou o seu filho, Arthur, nessa escola. “Para mim, foi uma salvação. Eu trabalho das 7h às 17h, e o pai do meu filho também. Não tenho mais mãe nem pai que possam me ajudar ou um lugar onde eu possa deixá-lo”, conta.
Financeiramente, uma escola particular seria muito cara para que ela pagasse, e por isso optou pela Nilo Camilo. “Ele se adequou totalmente, gosta de participar. O problema, para mim, é que ele já sai da escola no fim deste ano”, revela. Já Cristina de Campos, que é professora do ensino fundamental II, também optou por deixar o filho nessa escola, por também trazer a possibilidade do professor de ensino colaborativo, já que seu filho está no espectro autista e precisa de adaptações em algumas atividades. Para ela, a economia também foi uma grande vantagem, já que ele precisa de atenção profissional para além da escola. “Meu filho é atendido de acordo com a necessidade que ele tem. Eu saio para o meu trabalho sabendo que ele está sendo bem cuidado. Só de saber que a criança está o dia inteiro na escola, aprendendo e sendo alimentada, é um alento. Acho que o ensino integral é a melhor opção de todas, deveria ter para todo mundo”, diz.
Ensino médio
Já no caso da Escola Estadual Dilermando Costa Cruz, são sete turmas de ensino médio no ensino integral, com cerca de 30 alunos em cada uma. De acordo com a Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais (SEE/MG), nessa etapa a carga horária semanal de 45 horas contempla a Formação Geral Básica, conforme a Base Nacional Comum Curricular, o Currículo Referência de Minas Gerais (CRMG) e os Itinerários Formativos que possibilitam aos estudantes cursar componentes curriculares de aprofundamentos nas áreas de conhecimento, introdução ao mundo do trabalho, construção do “Projeto de vida”, desenvolvimento do pensamento/método científico, atividades integradoras de enriquecimento curricular e/ou componentes curriculares de formação técnica e profissional. A vice-diretora Leandra Borges Varandas explica que eles também tentam acrescentar oficinas, palestras e projetos especiais (como de leitura e linguagem, um júri simulado, elaboração de jornais e pesquisas acompanhadas de professores nas salas de informática). Essa é a única escola do Bairro Linhares que oferece este regime e, por isso, como ela explica, frequentemente tem as turmas lotadas. Para Leandra, fica clara a relevância para toda a comunidade: “Vejo como é importante ter esse espaço porque a comunidade é carente, tem violência e o consumo de drogas. Quando os filhos estão aqui, os pais ficam despreocupados. E eu vejo que muitos deles gostam mesmo de estar na escola”.
Problemas de infraestrutura
Ambas as profissionais da educação entrevistadas afirmam que, apesar de todos os benefícios das escolas integrais, esses ambientes de ensino nem sempre recebem a devida atenção e cuidado. “A nossa escola atende a todas as regiões da cidade, as pessoas procuram por nós porque atendemos a essa faixa etária nesse turno”, explica Rejane. “É uma das poucas opções da cidade para esse público. Mas com a ampliação das escolas, seria interessante que as pessoas pudessem ficar mais próximas de seus bairros. Percebemos aqui, por exemplo, algumas dificuldades de transporte, e também seria bom para as crianças ficarem próximas das suas comunidades de origem e terem esse contato.” Para a diretora da Escola Municipal Nilo Camilo Ayupe, fica claro que outra grande dificuldade é a adequação do espaço que têm: “O espaço precisa ser pensado para educação infantil. É muito importante. Onde estamos, é um espaço alugado, que não foi construído pra essa faixa etária. Mas, apesar disso, é um espaço amplo e diverso”.
Da mesma forma, Leandra enxerga que na Dilermando Costa Cruz essa adaptação foi sendo feita com o tempo, e que ainda faltam vários elementos para que a escola consiga ofertar todas as possibilidades que um turno integral deveria poder trazer. “Nós não temos quadra, um laboratório de ciências ou um espaço para projetar filmes durante os intervalos. Chuveiro, para higiene, também não tem”, afirma. Por isso, ela explica que o trabalho do corpo docente acaba sendo pensar nas atividades também a partir do que podem fazer. “Pensamos em projetos que façam sentido para o ensino médio em tempo integral, mas que também caibam dentro do espaço físico que a gente tem aqui dentro da escola e na comunidade. Nós estamos inclusive fazendo obras para ter essas melhorias. Por enquanto, por exemplo, os nossos meninos não conseguem ter uma estrutura para um interclasse”, diz.
1.455 escolas em MG
Para além da aplicação financeira, o Plano de Governo do Estado também busca realizar ações de assistência técnica junto das secretarias e comunidades escolares para aprimorar o trabalho da educação em uma perspectiva integral. Em relação à expansão da oferta da modalidade, o Estado destacou, através de nota, que a SEE/MG é norteada pelo Plano Estadual de Educação de Minas Gerais (PEE). “O Plano Estadual foi elaborado em consonância com o Plano Nacional de Educação (PNE), visando integrar objetivos e metas do plano nacional, traduzindo-os para a realidade territorial do estado e planejando a sua articulação às demandas municipais, a fim de que essas localidades possam adequar o planejamento nacional às suas particularidades”, afirmaram. “A modalidade de ensino, com jornada diária de nove horas, está presente em 1.455 escolas localizadas em 544 municípios mineiros, atendendo cerca de 123 mil estudantes do 4º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio.”
Prefeita esteve presente no ato de assinatura da lei
Ainda não há previsão de quais serão os desdobramentos do Programa Escola em Tempo Integral, do Governo federal, para Juiz de Fora, mas a prefeita e vice-presidente de Educação da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), Margarida Salomão (PT) esteve na assinatura da lei pelo presidente Lula (PT). “Nós imaginamos que nos próximos dois anos nós teremos uma ampliação das matrículas em tempo integral em mais de 25%, alcançando 3,2 milhões de pessoas a mais nesse processo, que é fundamental para que nós tenhamos uma melhora na educação”, afirmou a prefeita em comunicado distribuído à imprensa na última segunda-feira (31). Margarida também destacou dois pontos na nova lei para o aprimoramento dessa modalidade da educação pública. “Um é a disponibilidade de ampliação do acesso à internet na escola. Começou na época da pandemia, mas nós ainda estamos muito atrasados. E uma outra coisa que eu achei extremamente auspiciosa: a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) vai passar a oferecer bolsas não só para os alunos da universidade, mas também para os professores da educação básica.”
Em nota enviada à reportagem nesta quinta (3), a PJF afirmou que “trabalha rotineiramente para aumentar e melhorar as vagas na educação básica em tempo integral”. O texto informa ainda que “neste momento, a equipe de profissionais da Secretaria de Educação participa de capacitação realizada pelo Governo federal relacionada a implementação desse programa”. “Informamos também que, seguindo as diretrizes do Ministério da Educação, Juiz de Fora realiza hoje 20% do atendimento da rede em tempo integral, incluindo creches parceiras e escolas municipais, percentual maior que a média nacional de matrículas, que é de 15%”.