Governo sanciona programa que prevĂȘ R$ 4 bi para ampliar ensino em tempo integral
Programa Escola em Tempo Integral terĂĄ vagas em todos os estados do paĂs
O presidente Luiz InĂĄcio Lula da Silva (PT) sancionou nesta segunda-feira (30) o projeto de lei que institui o Programa Escola em Tempo Integral, que pretende ampliar em um milhĂŁo o nĂșmero de matrĂculas nessa modalidade atĂ© 2024. O projeto, de autoria do Governo federal, prevĂȘ investimento inicial de R$ 4 bilhĂ”es para alcançar a meta. O plano do governo Ă© chegar a um total de 3,2 milhĂ”es de novos estudantes em tempo integral atĂ© 2026.
Para especialistas, a educação integral Ă© uma das maneiras de o Brasil dar um salto de qualidade, mas custa aproximadamente o dobro do valor por aluno. Em paĂses desenvolvidos, contando esportes e atividades extraclasse tambĂ©m gratuitas, o ensino chega a ocupar 10 horas. O Brasil ocupa os Ășltimos lugares nos rankings de aprendizagem.
Nos primeiros 13 anos da gestão federal petista, houve o Mais Educação, programa de ensino integral, que perdeu recursos na segunda gestão Dilma Rousseff (PT). O modelo também não teve impulso sob Jair Bolsonaro (PL). Em janeiro, o ministro da Educação, Camilo Santa, adiantou ao Estadão que retomar o foco no ensino integral seria uma das prioridades à frente da pasta.
Neste ano, o governo vai repassar R$ 2 bilhĂ”es a Estados e municĂpios que aderirem ao projeto para que possa se preparar para a implementação das novas matrĂculas. Segundo Santana, a primeira parcela de recursos serĂĄ colocada Ă disposição imediatamente apĂłs a adesĂŁo ao programa. O Sistema Integrado de Monitoramento, Execução e Controle (Simec) estarĂĄ aberto para Estados e municĂpios a partir do dia 2 de agosto.
“O MEC (MinistĂ©rio da Educação) fez um desenho com as primeiras metas sugerindo onde essas matrĂculas deveriam estar. Claro que tem estado, como Pernambuco, que tem no ensino mĂ©dio maior nĂșmero de matrĂculas em tempo integral, mas nĂŁo Ă© justo que o estado que tomou iniciativa, fez investimentos prĂłprios, se esforçou para isso (nĂŁo receber incentivo). Todos os estados terĂŁo ofertas de vagas para ampliação do tempo integral”, afirmou Santana.
O MEC que repassar recursos para os estados e oferecer auxĂlio tĂ©cnico para a implementação do modelo. O novo programa vai expandir desde matrĂculas de creche atĂ© matrĂculas no ensino mĂ©dio.
No caso do ensino mĂ©dio, a reforma prevĂȘ ampliar o modelo de tempo integral atĂ© alcançar um total de trĂȘs mil horas letivas ao longo dos trĂȘs anos de ensino atĂ© 2024. Essa etapa, um dos gargalos do ensino bĂĄsico e com altas taxas de evasĂŁo, passou por uma recente reforma, que prevĂȘ currĂculo mais flexĂvel e mais horas em sala de aula. O governo fez uma consulta pĂșblica para fazer ajustes no modelo do novo ensino mĂ©dio, mas ainda nĂŁo anunciou os resultados.
Para ser considerada uma matrĂcula em tempo integral, o estudante deve permanecer em atividades escolares por atĂ© 7 horas diĂĄrias ou 35 horas semanais.
O MEC não vai determinar em que etapa da escolarização cada ente deverå investir na ampliação do ensino integral, mas o objetivo da pasta é que o programa atenda à meta do Plano Nacional de Educação (PNE). Segundo o PNE, a modalidade deve estar em pelo menos 50% das escolas brasileiras e atingir ao menos 25% dos estudantes da educação båsica. Assim, cada Estado ou prefeitura vai avaliar as etapas nas quais tem mais defasagem em relação a essa meta de 25% dos alunos.
No momento da adesão por meio do Simec, os governo locais serão orientados a respeito das diretrizes que devem ser seguidas nessa modalidade, considerando não só a expansão da carga horåria, mas critérios pedagógicos que tornem o modelo eficiente.
O governo ainda nĂŁo detalhou quais serĂŁo essas orientaçÔes. Todas as matrĂculas de tempo integral criadas a partir de 2023 poderĂŁo ser beneficiadas pelo programa, incluindo aquelas anteriores Ă sanção da lei.
Em discurso durante a sanção do programa, o presidente Luiz Inåcio Lula da Silva afirmou que a medida deveria ter sido colocada em pråtica hå muito tempo e defendeu que a escola deve se tornar um ambiente mais atrativo para crianças e jovens.
“No Brasil sempre se demorou para fazer as coisas no tempo certo. A histĂłria do nosso paĂs Ă© triste porque a gente nunca fez as coisas no tempo que era necessĂĄrio e possĂvel fazer, porque sempre se utilizava o discurso de que isso Ă© gasto. A gente nunca se perguntou o quanto custou a gente nĂŁo fazer. Nunca paramos para perguntar quanto custou nĂŁo alfabetizar esse paĂs no começo do sĂ©culo passado”, disse o presidente acrescentando:
“A escola de tempo integral chega atrasada, porque quem sabe a gente pudesse ter feito hĂĄ 20 anos, 15, 30 anos, mas nĂŁo foi feito, certamente porque alguĂ©m dizia que custava muito.”
Programa de escola em tempo integral vai na direção correta, mas precisa definir critérios, diz entidade
Em nota técnica sobre o novo programa, o Movimento Todos pela Educação disse que o governo acerta em colocar a educação integral como prioridade e também prever equidade no repasse de recursos.
A entidade critica, porĂ©m, a falta de parĂąmetros do que se prevĂȘ como matrĂcula de ensino integral de qualidade. “Caso nĂŁo haja diretrizes bem definidas, hĂĄ um risco de o programa servir apenas para expansĂŁo da jornada no contraturno, e nĂŁo em escolas com proposta pedagĂłgica adequada Ă Educação Integral, com currĂculo integrado”, alerta.
Ministro defende Fundeb fora do arcabouço
Em coletiva de imprensa após a sanção do projeto, o ministro da Educação fez um apelo para que a Cùmara dos Deputados mantenha a alteração feita pelo Senado no texto do arcabouço fiscal e exclua o Fundeb, principal fundo de financiamento da educação båsica, da trava criada pelo governo para limitar despesas.
“Somos uma equipe, vou respeitar a orientação do governo. Como ministro, eu espero que a CĂąmara acate a decisĂŁo do Senado excluindo do arcabouço o Fundeb, porque isso vai garantir maior segurança orçamentĂĄria para o MinistĂ©rio da Educação”, disse.
A Cùmara incluiu os recursos do Fundeb, que atualmente estão fora do teto de gastos, na nova regra fiscal. Quando o texto passou pelo Senado, a Casa retirou o Fundo da limitação imposta pelo arcabouço. Agora, o texto retorna à Cùmara para ser apreciado novamente. Estima-se que a complementação de recursos feita pela União em 2023 seja da ordem de R$ 40 bilhÔes.